Sábado, 25 de Maio de 2024

Atualidades Quarta-feira, 01 de Maio de 2024, 09:58 - A | A

01 de Maio de 2024, 09h:58 - A | A

Atualidades / Caminhos Andinos

Pequim está mais perto de Vila Bela da Santíssima Trindade e Cáceres



Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Pequim estará mais perto de Vila Bela da Santíssima Trindade e de Cáceres. Mais didático ainda: a viagem de navio do porto de Santos a Pequim é de 45 dias. Pelos portos chilenos e peruanos a duração da navegação cairá para um mês. Este será apenas um dos ganhos quando consolidados os Caminhos Andinos, tema que será debatido em Cáceres, no dia 10 deste mês de maio, num evento conduzido pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e com a participação de outros ministros, com as prefeita anfitriã Eliene Liberato e outras autoridades mato-grossenses, além de representantes da Bolívia e Peru. Mais: Caminhos Andinos é um nome regionalizado, mas na verdade trata-se da Rota Quadrante Rondon, inserida nas cinco rotas intercontinentais que o presidente Lula da Silva quer consolidar para botar o Brasil frente a frente com sua vizinhança.

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Simone Tebet e os Caminhos Andinos

Simone TebetWaldez Góes (Desenvolvimento Regional), Carlos Fávaro (Agricultura) e Sílvio Costa Filho (Porto e Aeroportos) irão a Cáceres esmiuçar a Rota do Quadrante Rondon, um polo regional quadrado (daí o nome acrescido com a palavra Rondon) formado pelo Acre, Rondônia e pela faixa de fronteira de Mato Grosso, com 983 km de extensão nos municípios de Poconé, Cáceres, Porto Esperidião, Vila Bela e Comodoro – com 730 km em solo firme.

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A meta é a criação de infraestrutura de transporte terrestre para se alcançar os portos do Sul chinelo e do Norte peruano, com destaque para o grande porto de Chancay, em fase final de construção no Peru, pela chinesa COSCO Shipping, que terá 60% do capital da infraestrutura portuária em sociedade com a Volcan do Peru, que responderá por 40%.

Cáceres debate a Rota do Quadrante Rondon

O Brasil quer ganho logístico e o lucro propriamente dito nos dois sentidos da rota. A meta do plano da Rota do Quadrante Rondon elaborado pelo presidente Lula da Silva é embarcar commodities agrícolas do quadrante, por Chancay, via Acre. Mas a extensão fronteiriça abre portas para outros acessos do Pacífico, com garantia de retorno no frete, não no volume no sentido litoral, mas com quantidade de carga compensadora.

Para Mato Grosso a Rota Quadrante Rondon tem duas saídas naturais para a Bolívia e o Chile, sendo uma por Cáceres e outra por Vila Bela. O destino final será o porto de Arica, na cidade chilena do mesmo nome, mas além dos embarques portuários, que serão para a Ásia, sobretudo China, Japão, Coreia do Sul e Vietnã, há um mercado consumidor ao longo da rodovia que atravessa Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e La Paz, além das demais cidades no trajeto.

Aos bolivianos e chilenos a economia mato-grossense pode oferecer frango congelado, frutas tropicais, móveis, serralheria, implementos agrícolas, calçados, cimento, carne bovina desossada, carne suina enlatada, sementes de soja, ovos, colchões, cerveja, refrigerante, suco de frutas, fécula, carrocerias de caminhões, óleo de soja, açúcar, arroz, feijão, café empacotado, leite, lácteos, madeira serrada, roupas, selaria e outros itens.

Vila Bela, logo ali a Bolívia e um pouco adiante Pequim

No sentido inverso, além do sal, a Bolívia tem importantes insumos agrícolas como ureia, potássio, e sódio,  indispensáveis ao agronegócio e importados da Rússia, Ucrânia, Bielorrussia e Canadá, “e estes insumos estão a mil quilômetros de Vila Bela e a 1.500 km de Cuiabá”, observa o prefeito de Vila Bela, André Bringsken. Além disso o lítio utilizado na fabricação de baterias jorra fácil na terra dos hermanos,

Em Rondônia e no Acre serão necessárias grandes obras para a consolidação da Rota Quadrante Rondon. Em Mato Grosso será preciso pavimentar 75 km de Vila Bela à fronteira com a Bolívia, sendo que a obra em 40 km deverá ser licitada pelo governo estadual ainda neste semestre.

Mato Grosso está no centro do continente, o que é considerado ganho logístico, mas para os bitrens descarregarem no Pacífico será preciso duas obras rodoviárias na Bolívia: uma na rota para Cáceres e outra para Vila Bela.

O governador Camacho Vaca e a concessão rodoviária

Por Cáceres há um trecho na Bolívia com 340 km sem pavimentação, mas La Paz incluiu aquela carretera – rodovia – em seu plano rodoviário nacional. Para Vila Bela alcançar Arica será necessário pavimentar 240 km, dos quais 75 km Brasil. Do lado boliviano o governador de Santa Cruz, Luís Fernando Camacho Vaca, anunciou a uma delegação mato-grossense que o visitou na semana passada, que seu Estado (Departamento) não tem capacidade orçamentária para a obra, mas que dará o trecho em concessão para exploração por pedágio por 25 anos, ao grupo empresarial que a construir.

As duas alternativas para Mato Grosso chegar a Arica têm bom sentido logístico: a produção agropecuária em Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Pontes Lacerda, Nova Lacerda, Conquista D’Oeste, Vale de São Domingos, Figueirópolis D’Oeste, Indiavaí, Reserva do Cabaçal, Araputanga, Glória D’Oeste e Porto Estrela será escoada por Vila Bela; Porto Estrela, Curvelândia, Lambari D’Oeste, Rio Branco, Salto do Céu, Mirassol D’Oeste, São José dos Quatro Marcos, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Diamantino, São José do Rio Claro e Tangará da Serra, por Cáceres via San Matias.

A interligação com os países vizinhos, no tocante a Mato Grosso, além de pavimentação também precisa de desburocratização e integração aduaneira. Na Bolívia a central trabalhista COB (a CUT deles) teima na reserva de mercado de volante para nacionais e mantém barreiras chamadas trancas, onde o fígado do policial dita o valor cobrado para liberar a passagem dos leves aos pesadões.

MILHO – No deserto do Atacama, no Norte do Chile, as aves das granjas que produzem frangos para os aviários são alimentadas com ração à base de farinha de pescado. A alimentação deixa a carne de frango impregnada com o sabor de peixe. O Chile tem interesse no milho mato-grossense. Em 2002 cobri uma delegação que foi a Santiago, com apoio do governador Rogério Salles, em busca da integração regional;  em 2003 uma missão chilena revelou a demanda pelo cereal numa reunião em Cuiabá com autoridades e produtores rurais, mas àquela época o interesse do governador Blairo Maggi era pela consolidação de um multimodal de transporte rodofluvial para escoar por Porto Velho e Itacoatiara (AM) as commodities produzidas no Chapadão do Parecis.

Adilson Reis e a nova Santa Cruz de la Sierra

ZPE – A Zona de Processamento de Exportação de Cáceres (ZPE) será beneficiada pela Rota Quadrante Rondon, mas a mesma não influenciou o plano que a criou. A pavimentação do lado boliviano significará a consolidação do Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico em sua rota por Mato Grosso, e isso facilitará o escoamento dos produtos que serão industrializados na ZPE. Em recente entrevista o engenheiro civil cacerense Adilson Reis presidente da Administradora da Zona de Processamento de Exportação de Cáceres (AZPEC) apostou que os efeitos econômicos e sociais da ZPE, que acaba de ser construída, farão de sua cidade uma nova Santa Cruz da la Sierra.

Além da infraestrutura que deverá ser criada pela Rota Quadrante Rondon, a ZPE conta com a Hidrovia do Paraguai-Paraná, com 3.442 km de Cáceres a Nueva Palmira, no Uruguai, para escoar a futura produção da ZPE para o Cone Sul do continente.

RECURSOS – Das obras previstas para a Rota Quadrante Rondon 124 fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Porém, o grosso da dinheirama sairá dos cofres do Banco Nacional do Desenvolvimento e Econômico Social (BNDES), que aportará US$ 3 bilhões; e a soma dos financiamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e do Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) será de US$ 7 bilhões.

Todos os países das cinco rotas estão em sintonia com o Brasil, e no caso da Rota Quadrante Rondon, a Bolívia e o Peru sonham com sua concretização, e o Chile faz de morto por ser saída marítima natural para os vizinhos bolivianos que lhe renderão bom lucro com a movimentação portuária para importarem e exportarem para Pequim, e isso sem falar em Mato Grosso, que 21 anos depois da visita dos chilenos a Cuiabá descobriu que permaneceu esse longo período de costas para a realidade do mercado internacional.

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