José Vieira do Nascimento
Na semana passada, Mato Grosso pasmou-se diante do cruel assassinato de mais uma mulher. A advogada e servidora do Tribunal de Justiça, Thays Machado, foi alvejada por três tiros, junto com o namorado, pelo seu ex-companheiro. Casualmente, filho de um importante político de Mato Grosso.
O crime chocou a sociedade mais por ter tido como autor, o filho de um ex-governador, senador e atual deputado Federal, Carlos Bezerra, um dos homens mais influentes do Estado, do que pelo triste fato de mais uma mulher ter sido impiedosamente assassinada.
Thays passa a fazer parte dessa estatística nefasta de mulheres de Mato Grosso e do Brasil que são vítimas de crime de feminicídio. Em 2022, conforme dados da Secretária de Segurança Pública do Estado, 48 mulheres foram mortas por companheiros ou ex-companheiros que não aceitam o fim do relacionamento.
Mortas simplesmente por serem mulheres com coragem para tomar a decisão de pôr um ponto final no relacionamento, optar em serem felizes e não se sujeitarem a violência, possessividade e ciúme doentio de companheiros.
Nós que somos pais de meninas, temos motivos para nos preocuparmos com a escalada da violência contra a mulher. No Brasil a taxa de feminicídio é registrada como a 5ª mais alta do mundo, segundo o Mapa da Violência.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em junho de 2022, revelou que no Brasil uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas. Número que significa, em média, que 3 mulheres são mortas por dia por questão de gênero.
Esta doença que acometeu determinados homens da sociedade moderna, não faz distinção de classes socais. Está impregnada na sociedade. Presente em todas as classes, dos mais pobres aos endinheirados como o filho do deputado Carlos Bezerra.
Apesar de estar no pico da pirâmide, com dinheiro no bolso, status e influência na sociedade, o filho do deputado tinha um histórico de desiquilíbrio e agressões contra Thays. Nos relatos dos autos policiais, o comportamento possessivo do algoz é descrito em ocorrências que ela mesma registrou contra ele.
O empoderamento acontece com a mulher ocupando cada vez mais espaço na política, na gestão das empresas, no Ministério Público, no Judiciário e em todos os contextos das configurações que formam a estrutura social
No entanto, como sociedade civilizada, não podemos permitir que esta doença crônica continue permeando a mulher em seu direito elementar, de querer viver e não ser subjugadas, ao não aceitar permanecer em relações doentias.
Inadmissível que tantas mulheres que queiram simplesmente viver, buscar a felicidade, tenham suas vidas ceifadas por assassinos impiedosos, misantropos, que demonstram desapego com o sexo oposto.
É urgente a necessidade de recrudescer o debate sobre o que pode ser feito para conter a violência contra a mulher.
No século 21, o desafio das mulheres deveria ser focado apenas nos avanços no mercado profissional, na carreira, seja nas áreas públicas ou privadas. Em ocupar espaços em cargos estratégicos que ainda são predominantes por homens. Na equidade de salário...
Porém, o cenário de violência contra a mulher é um problema social grave, que ofusca e inibe a agenda para as conquistas no campo profissional.
Entretanto, para fazer frente a tudo isto, o papel da mulher na sociedade deve ser cada vez mais marcante. O empoderamento acontece com a mulher ocupando cada vez mais espaço na política, na gestão das empresas, no Ministério Público, no Judiciário e em todos os contextos das configurações que formam a estrutura social nos seus diversos segmentos.
Mato Grosso tem a primeira mulher, Daniela Silveira, como delegada Geral da Polícia Judiciária Civil. Também é uma mulher, a desembargadora Clarice Claudino da Silva, presidente do Tribunal de Justiça.
Mas as mulheres ainda são minoria nos poderes Legislativos. Dos 24 deputados estaduais de Mato Grosso, apenas uma é mulher. Melhor posicionada está a bancada federal de Mato Grosso. Em Brasília, das 8 cadeiras, duas deputadas federais eleitas assumem o cargo a partir de 1 de fevereiro.
Nas Câmaras municipais, a presença de mulheres é baixíssima. Na maioria dos municípios há apenas uma mulher vereadora. No entanto, a ampliação de mulheres na representação política, com certeza fortaleceria a agenda de suas lutas por conquistas de direitos, inclusive da violência de gênero.
A estas “mulheres parlamentares”, cabe a responsabilidade de exercer seus respectivos mandatos, com um olhar especial voltado para todas mulheres mato-grossenses, no debate, nas políticas públicas para avançar nas conquistas de seus direitos.