Juacy da Silva
Com certeza, pelo menos nas últimas seis décadas, nunca o Brasil realizou eleições gerais, para presidente da República, governadores de Estados, deputados federais, estaduais e dois terços do Senado da República em meio a uma crise tão aguda cujo desenrolar poucos podem prever.
Há menos de dois anos tivemos o impeachment da então presidente Dilma e sua substituição pelo então vice Michel Temer, que passou a formar um governo impopular e com diversos de seus ministros acusados ou investigados por corrupção, ele próprio duas vezes denunciado pela Procuradoria Geral da República, com aceitação das denúncias de corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco, só escapando de também ser impedido graças ao apoio, barganhado com a Câmara Federal, onde vários de seus aliados também fazem parte da "lista do Janot" e ainda não condenados devido à morosidade do sistema judiciário.
Um outro aspecto desta crise é a divisão política, ideológica, doutrinária ou de ideias que afeta profundamente o STF e outros Tribunais Superiores, onde a interpretação das leis, incluindo a Constituição Federal, fica ao sabor dessa divisão, gerando uma grande expectativa por parte da opinião pública e do mundo jurídico e, para alguns, gerando também insegurança jurídica, principalmente pela politização de seus julgados.
Apesar de alguns avanços conseguidos pelo governo Temer na área econômica, incluindo a queda dos juros básicos, a queda da inflação e a retomada bem lenta da economia, as contas públicas ainda estão no vermelho. Prova disto é o deficit público que há mais de três anos e por mais dois ou três, pelo menos, tem ficado e vai continuar sempre acima dos 100 bilhões de reais anualmente, contribuindo, sobremaneira para o aumento da dívida pública que consome praticamente metade do orçamento geral da União.
Da mesma forma, a crise de gestão fiscal e orçamentária nos Estados e municípios continua grave, sendo uma das razões para a falência dessas unidades da Federação, contribuindo para o caos generalizado dos serviços públicos, principalmente nas áreas da saúde, educação, segurança pública, saneamento básico e a deterioração da infraestrutura urbana e de logística.
O interessante é que as recentes pesquisas de opinião eleitorais demonstram que o ex-presidente Lula, mesmo encarcerado justa ou injustamente, continua liderando as preferências como pré-candidato a presidente da República. Na pesquisa do Datafolha o mesmo, apesar de ter "caído" alguns pontos, segue com 31% das intenções de voto, praticamente a soma dos três outros postulantes: Bolsonaro 15%; Marina Silva 10%; Joaquim Barbosa 8%, ou seja, 32% a soma dos três. Resultados da pesquisa Vox Populi da última terça-feira também demonstram sobejamente esta preferência pelo ex-presidente, que poderia ser eleito em primeiro turno.
Os candidatos do PSDB, DEM e MDB e outros partidos de centro ou direita não conseguem empolgar o eleitorado, demonstrando que estão sendo afetados pela rejeição que sofre o governo Temer.
Neste quadro complexo de uma crise permanente podemos incluir a decisão do STF tornando o senador Aécio Neves réu por corrupção passiva e obstrução de justiça, a possibilidade da prisão do tucano, ex-governador Eduardo Azeredo, também condenado por corrupção e outros figurões importantes ou peixes graúdos que podem ser pegos na rede da Lava Jato ou outros processos.
Juacy da Silva é professor universitário aposentado da UFMT e mestre em sociologia
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