Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025

Artigo Sábado, 23 de Março de 2019, 00:00 - A | A

23 de Março de 2019, 00h:00 - A | A

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Carlos Alberto de Lima

 

Tempo vai passando e as coisas vão se repetindo. Um trem vai deixando de ser aquele velho trem e outro trem vem surgindo e pedindo passagem para atravessar o pantanal, viver as aventuras do novo, tornar-se velho e idem àquilo que o leitor já leu para que eu economize espaço e não torne esse nosso papo tão chato, de ter que ficar explicando essa metamorfose natural que, com o tempo, vai rabiscando as nossas faces.

Passaporte para a eternidade. Costumam dizer os soldados da fé, enquanto, na realidade, ao adquirirmos e ver acentuando as tais linhas geográficas, fotografias da geografia cronológica, também caímos na realidade. Percebemos que nada, e ninguém, é eterno, que nenhum de nós ficaremos para semente, mas poderemos, em vida, ser e plantar diversas sementes que serão germinadas e os frutos serão colhidos por outros que virão depois.

E nós? Nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, mergulhados na canção do Belchior.

Dizem que com o tempo o gosto passa. Mentira. Com o tempo simplesmente mudamos de gosto, de preferência, descobrimos que jabuticaba não tem asas e que durante o tempo todo comemos besouros. Essa é a realidade. Os conceitos vão sendo adormecidos e nós, que durante uma quase eternidade, vivemos cheios de sonhos e esperanças, passamos a ser agente da estagnação, depois de nos darmos conta de que a vida é uma estação relâmpago.

Amigos meus, lá de Sampa, nesses últimos dias, vivem me ligando sem motivo algum que justifique o ato de ligar. Estou ligando só pra saber como você está, disse-me noutro dia um deles (coincidentemente tem uma canção que diz a mesma coisa). Não fosse aquela inconfundível voz, a voz daquele que comigo, e com os demais daquela república com cara de palácio, dividiu muito pão com manteiga na chapa, eu até diria que meu grande amigo perdera a originalidade.

Na república, ou melhor, embaixo dela, já que morávamos no nono andar, tinha, e eu ainda me recordo, aquele senhor, o velho seu Rodolfo, ex-combatente de guerra e suas neuroses? Vivia, dentro de seu mundo e de seu silêncio, ouvindo barulho em tudo, sendo que o barulho era ele enviando suas histerias do andar de baixo para o andar de cima com pausadas e contínuas batidas no forro que ele tinha como teto e que para nós era o nosso assoalho, o nosso chão. “Seu Rodolfo disse que a vida vai melhorar, mas como é que de um palácio, desceu ladeira pra um barraco...?” cantávamos indignados. Cruzes! Estou ficando velho e cada vez mais prolixo.

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