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Artigo Quarta-feira, 17 de Agosto de 2016, 00:00 - A | A

17 de Agosto de 2016, 00h:00 - A | A

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Mulheres na política



Priscila Chammas

É fácil criticar uma injustiça, quando você é vítima dela. Mas admitir uma injustiça que te deixa numa situação de vantagem exige um pouco mais de reflexão.
E é isso o que farei nas próximas linhas. Um dia alguém percebeu que havia poucas mulheres na política. E então, teve a grandiosa ideia de criar uma lei estabelecendo 30% de cota para candidatas do sexo feminino nos partidos e coligações.
Um boa intenção, uma justificativa bonita no papel, um sermão em quem ousasse se opor e... pronto! Projeto aprovado. Mas vamos agora ao mundo real. Uma lei precisa ser avaliada pelos seus efeitos práticos, e não pelas suas intenções ou pelo discurso bonito de quem a defende. 
E quem fez a tal lei esqueceu de combinar com as mulheres que a partir daquela data, elas seriam obrigadas a participar da política.
Ou melhor, esqueceu de perguntar se elas queriam mesmo se candidatar a 30% dos cargos públicos nas eleições.
Elas não queriam. E o efeito prático é que agora, dificilmente os partidos políticos conseguem cumprir a tal meta, e isso acaba prejudicando os candidatos do sexo masculino, que são limados do processo, apenas para se manter a proporção entre os sexos.
Outra saída que os partidos têm encontrado é burlar o regulamento, inscrevendo ‘laranjas’ no processo, apenas para cumprir as cotas.
São mulheres que têm seus nomes inseridos nas atas de convenção apenas para cumprir tabela, mas sequer fazem campanha, e terminam a eleição com poucas dezenas de votos.
Elas foram beneficiadas? Não. Não participavam antes por falta de interesse, e agora participam por pressão, para fazer número.
No máximo, recebem algum trocado como agrado pelo sacrifício. Por outro lado, muitos homens que gostariam de concorrer tiveram seu direito cerceado a troco de nada. Nada mesmo, pois continuamos com um número baixo de participação feminina no Legislativo, atrás até do Oriente Médio. Será que a lei de cotas eleitorais foi um fracasso? 
Temos uma lei que – como centenas de outras pelo Brasil afora - foi criada para corrigir uma distorção, mas acabou gerando outras, sem corrigir o problema inicial. Antes de se resolver qualquer (aparente) problema na canetada, criando uma nova lei, obrigando x, ou proibindo y, é preciso entender o contexto.
As mulheres não participavam antes porque eram proibidas? Eram expulsas? Maltratadas? Pelo que me consta, partidos políticos querem votos, não importa se eles estão vindo de alguém do sexo feminino ou do masculino. Boicotar um bom candidato por causa do gênero seria de uma burrice sem tamanho.
As mulheres não participavam, e continuam não participando, porque não querem. Mas entender por que elas não querem dá muito trabalho, e as cotas são a solução fácil para qualquer questão que envolva representatividade. O problema é que elas não resolveram. E agora?
Talvez as mulheres queiram se preservar mais, e não entrar em um meio tão mal visto pela sociedade. Talvez sejam mais céticas com relação à política. Talvez prefiram focar em outro tipo de carreira profissional. Talvez estejam ocupadas demais com a dupla jornada casa-trabalho. Talvez estejam estudando para concursos públicos. Talvez só queiram ficar em casa, em paz, cuidando dos filhos e cozinhando pro marido. Pior! Talvez prefiram passar o dia inteiro fazendo compras no shopping.
O feminismo diz que o lugar da mulher é onde ela quiser, não é mesmo? Esse é o ponto. Antes de exigir cotas, as mulheres precisam QUERER participar da política.
Cotas? Não, obrigada. Eu não preciso disso.
 
Priscila Chammas é jornalista em Salvador (BA).

 

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