Soraya Medeiros
Ele falava com a serenidade de quem enxerga longe. Uma figura de grande sabedoria, líder espiritual do budismo tibetano, que certa vez resumiu a condição humana em poucas linhas: “O homem passa a vida sacrificando a saúde para ganhar dinheiro.
Depois, sacrifica o dinheiro para tentar recuperar a saúde. Ansioso pelo amanhã, esquece de viver o presente. Vive como se nunca morresse. E morre como se nunca tivesse realmente vivido".
Aquelas palavras ficaram ecoando em minha cabeça como um sino distante. Talvez porque, no fundo, todos nós reconhecemos nelas a nossa própria vida. Corremos. Sempre. Corremos para cumprir prazos, para alcançar metas, para comprar coisas. E, nessa pressa, deixamos para depois o que só poderia ser vivido agora.
Trocamos jantares em família por reuniões intermináveis. Negamos abraços por causa de relatórios urgentes. Dormimos pouco para produzir mais — como se a vida fosse uma fábrica e não um milagre. Acumulamos títulos, bens, conquistas. Mas também acumulamos cansaço, ansiedade e solidão.
Temos centenas de contatos no celular, mas poucos amigos para tomar um café sem olhar o relógio. E um dia, quase sempre tarde demais, percebemos que invertemos os valores. Que sacrificamos o que era essencial para manter de pé coisas que não nos sustentam por dentro.
Corremos. Sempre. Corremos para cumprir prazos, para alcançar metas, para comprar coisas
Não, não é o tempo que nos falta. É a vida que, distraídos, deixamos escorrer pelos dedos. O trabalho é digno. O dinheiro, necessário. Mas nenhum deles vale o preço de uma saúde comprometida, de um filho que cresce sem a nossa presença, de um amor que se esfria porque o deixamos esperando. A vida não se resume a produzir e acumular. Estamos aqui para aprender, amar, crescer. Para fazer pausas.
Para agradecer. Para viver. E, quando o dia da partida chegar — porque ele chega para todos —, que possamos olhar para trás sem arrependimento. Que possamos dizer, com a tranquilidade de quem fez as escolhas certas: “Eu vivi. Com amor, com presença, com consciência. E parto de alma agradecida”. E você? O que fará hoje para realmente viver?