Você já viu um influenciador milionário prometendo ganhos rápidos e fáceis com apostas nas plataformas de bets? Enquanto eles ganham fortunas vendendo essa ilusão, brasileiros de todas as idades estão se endividando e desenvolvendo vícios graves e em alguns casos, mortais.
A situação escalou tanto que em maio de 2025, o Senado aprovou um projeto de lei (PL 2.985/2023), que visa proibir os anúncios de bets com celebridades (influenciadores), limita horários de veiculação e obriga avisos sobre os riscos. O projeto agora segue para a Câmara dos Deputados, mas levanta questões importantes sobre aplicação e fiscalização.
A publicidade dessas plataformas, protagonizada por influenciadores que ostentam riqueza e sucesso, mira especialmente em cidadãos com dificuldades financeiras. Estudos recentes mostram que a maioria dos universitários brasileiros já apostou online, com participação regular alarmante.
Mais grave ainda: existe ligação direta entre essas apostas e o desenvolvimento de transtornos como ansiedade, depressão e endividamento. Esses dados revelam porquê o Brasil precisa urgentemente aprender com a experiência de outros países que já enfrentaram e estão corrigindo esse problema.
Enquanto isso, alguns países já implementaram medidas mais drásticas após reconhecerem os danos sociais causados pelas apostas online. O Brasil reluta em aprender com essas experiências internacionais, que demonstram caminhos muito mais rigorosos e comprovadamente eficazes.
O Reino Unido lidera essa transformação global. Desde 2022, é proibido usar celebridades, atletas e influenciadores em anúncios de apostas, reconhecendo o "forte apelo" que essas figuras exercem sobre os mais jovens. As regras britânicas vão além, banindo qualquer conteúdo que possa atrair menores de idade, incluindo referências à cultura juvenil e videogames.
Na Europa continental, as medidas são ainda mais rígidas. Holanda e Bélgica implementaram uma proibição quase total da publicidade de apostas, reconhecendo que a proteção social deve prevalecer sobre interesses comerciais. A Holanda proibiu completamente a publicidade de casas de apostas no esporte a partir desse ano. França e Alemanha só permitem publicidade de empresas licenciadas, com avisos obrigatórios sobre os riscos.
Os Estados Unidos oferecem um exemplo revelador de correção após a expansão descontrolada.
Desde 2018, quando a Suprema Corte liberou as apostas esportivas, o mercado explodiu consideravelmente, mais de US$ 220 bilhões foram apostados legalmente. Hoje, 33 estados permitem apostas esportivas, mas os problemas sociais cresceram proporcionalmente. Pelo menos três estados foram obrigados a criar medidas para barrar apostadores que ameaçam atletas após perdas financeiras.
A comparação com o tabaco é inevitável e esclarecedora, e especialmente relevante para o Brasil. O país foi pioneiro mundial no controle do tabaco, sendo o primeiro a proibir completamente aditivos aromatizantes e referência da Organização Mundial da Saúde em regulamentação antitabaco. Se o Brasil soube liderar globalmente contra uma indústria poderosa que causava dependência, por que resiste em aplicar a mesma determinação às apostas online?
O debate sobre bets e sua publicidade é uma discussão sobre que tipo de sociedade queremos construir na era digital. Não podemos permitir que algoritmos sofisticados continuem explorando fragilidades humanas em nome do lucro quando deveríamos priorizar a proteção dos mais desfavorecidos.
É moralmente insustentável que o Brasil continue permitindo que algoritmos explorem fragilidades humanas para maximizar lucros enquanto países desenvolvidos já reconheceram e corrigiram essa distorção.
Patricia Punder - Advogada e CEO da Punder Advogados
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