William Barbosa Sales
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre um possível novo surto do vírus Marburg (Marburg marburgvirus), que possui alta taxa de mortalidade e morbidade. As características de transmissão entre humanos são semelhantes ao do vírus Ebola, sendo o principal agente transmissor o morcego da espécie Rousettus aegyptiacus, considerado reservatório natural do vírus.
Hospedeiros intermediários, como primatas não humanos e animais silvestres consumidos como carne de caça, estão entre os principais vetores de transmissão. Nos estágios iniciais, o vírus Marburg pode se espalhar para humanos por meio de animais intermediários infectados.
A transmissão entre humanos pode ocorrer via relações sexuais, contato direto com sangue e fluidos corporais (fezes, saliva, urina, lágrimas, mucosas e leite materno), e pelo ar via aerossol. O vírus é mortal e muitas vezes se torna intratável em humanos e primatas não humanos, resultando em febre hemorrágica e disfunções de órgãos, como insuficiência hepática, infecção do baço, cérebro e tecidos renais e problemas de coagulação sistêmica.
A exposição humana diversificada a esse vírus e a natureza desorganizada das informações dificulta os pesquisadores na formulação de diretrizes para a prevenção e combate a doença
Os registros epidemiológicos da existência da circulação desse vírus são extensos, sendo o primeiro ocorrido em 1967, em Marburg na Alemanha, e o mais recente em Gana na África. Ao longo desses 55 anos foram infectados um total de 477 indivíduos com o registro de 380 mortes, com surtos na África do Sul (1975), no Quênia (1980), na Rússia (1980 e 1990), na República Democrática do Congo, Angola, Uganda, Guiné, Estados Unidos e Holanda, entre 2000 e 2010.
A exposição humana diversificada a esse vírus e a natureza desorganizada das informações atualmente disponível dificulta os pesquisadores na formulação de diretrizes para a prevenção e combate a essa doença. O vírus tem um período de incubação no corpo humano que pode variar de 2 a 21 dias, com duração média de 5 a 9 dias.
As manifestações clínicas da doença e sua evolução pode ser dividida em três fases. A primeira pode durar cinco dias após o início da doença, sendo que os primeiros sintomas são semelhantes à gripe, acompanhadas de febre alta entre 39-40ºC, fadiga, conjuntivite, disfasia, enantema e faringite.
Na segunda fase, podendo durar de cinco a treze dias após o início dos sintomas, a febre alta se mantém, e outras sintomas são acrescentados como falta de ar, exantema viral, permeabilidade vascular irregular e edema, e distúrbios neurológicos como confusão, encefalite, irritabilidade, delírio e agressividade. Aproximadamente 75% dos pacientes apresentam manifestações hemorrágicas, incluindo sangramento da mucosa, melena, petéquias, diarreia sanguinolenta, derrames hemorrágicos viscerais, hematêmese e equimoses, sangramento no nariz, gengivas e vagina, multiplos órgãos são afetados incluindo rim, fígado e pâncreas.
A terceira fase, também conhecida como fase convalescente, resulta em duas questões bem distintas: a morte dos pacientes por choque e falência múltipla dos órgãos ou uma fase prolongada de restauração dos que sobrevivem. Os indivíduos com maior risco de contaminação são os que mantém contato próximo com excrementos de morcegos frugívoros de regiões endêmicas da África, com outros doentes e, com primatas não humanos.
A maior preocupação é a velocidade de propagação do vírus de regiões endêmicas para todo mundo, num processo semelhante ao da Covid-19. A epidemiologia das doenças muda na medida em que os processos de globalização avançam. Mecanismos de spillover, também conhecido como transbordamento zoonótico quando o vírus se adapta e migra de uma espécie hospedeira para outra, estão mais frequentes, assim como a falta de equilíbrio existente entre a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental. Por isso, agir de forma holística pensando em saúde única seja o melhor caminho de mitigar novas pandemias.