POR GERALDO BESSA
TV PRESS
O radar artístico de Matheus Nachtergaele está sempre ligado. Criterioso com seus trabalhos na tevê, cinema e teatro, ele acredita no poder da arte de abordar temas contemporâneos e levar o público a uma reflexão. Em tempos políticos e sociais sombrios, ele acredita que a força do texto de “Cine Holliúdy” é capaz de promover a paz entre o brasileiro e o Brasil. “Sinto uma grande alegria de ter sido chamado para estar nesta nova temporada. Fizemos uma série brincante sobre gostar de novo da gente como a gente é. Com as nossas virtudes e defeitos”, filosofa o intérprete do inconsequente Olegário, agora ex-prefeito da fictícia cidade de Pitombas. Na história assinada por Márcio Wilson e Cláudio Paiva, Olegário por muitos anos castigou a cidade com seu jeitinho corrupto. Sempre pensando em benefício próprio e com a intenção de se perpetuar no poder, ele acabou elegendo sua esposa, Socorro, de Heloísa Périssé, como sua sucessora. Porém, ao se tornar prefeita, Socorro tratou de colocar as finanças e práticas do município no caminho da transparência e boa gestão. “Olegário agora terá de enfrentar seus fantasmas. Ele jurava que Socorro daria continuidade aos seus projetos. Porém, ela não aceita corrupção e desfaz todos os esquemas perpetrados por ele, que entra em colapso total”, explica.
Na segunda temporada, além do rombo em seu orçamento, Olegário também fica em crise ao se ver coadjuvante da esposa no cenário político local, situação que escancara o machismo e é discutida pela produção com humor e boas doses de ironia. “Ele não consegue aceitar que quem manda agora é a Socorro. Adorei os rumos do personagem nessa segunda temporada. É uma maneira divertida do Olegário exibir as próprias inseguranças e cutucar a realidade”, avalia. Para o ator, além de desenvolver melhor a história, a nova temporada também serve para reafirmar a força de “Cine Holliúdy” na grade de programação. O projeto começou no filme homônimo de 2013 e, ao que tudo indica, ainda tem muitas histórias para contar e um elenco empolgado para ajudar na empreitada. “A série chega a esta segunda temporada com a missão de manter o frescor diante de um público que já viu e entendeu nossa mensagem. No entanto, temos um ótimo trunfo: equipe técnica e elenco estão muito mais alinhados e afiados”, valoriza.
Por conta da pandemia, as gravações da continuação de “Cine Holliúdy” acabaram sofrendo uma longa pausa. O início dos trabalhos aconteceu em janeiro de 2021. Porém, o aumento dos números de óbitos e infecções pelo coronavírus obrigaram a Globo a adiar a produção. De volta aos estúdios em outubro do ano passado, a série foi o trabalho de retomada de Matheus no audiovisual. Ao retornar ao “set” e se deparar com a mistura dos temas cinema e brasilidade, o ator confessa que foi difícil segurar a emoção durante a realização das sequências. “Chorei mesmo. Temos nesta série a união de artistas incríveis de várias regiões do Brasil e temas que, embora ambientados nos anos 1970, ainda estão presentes no país. O Brasil é um grande curral onde o machismo persiste e o político fisiológico se elege, mas o herói mantém o sonho de um cinema brasileiro”, filosofa.
Paulistano revelado pelo teatro alternativo de diretores como Antunes Filho e Antônio Araújo, Matheus sempre foi presença bissexta na tevê. A estreia foi em pequenas participações em episódios de “A Comédia da Vida Privada”, há exatos 25 anos, mas chamou a atenção mesmo ao interpretar Cintura Fina, na minissérie “Hilda Furacão”. Ao longo do tempo, participou de projetos importantes como “O Auto da Compadecida”, “A Muralha” e “Da Cor do Pecado”. Atualmente, vem estreitando seus laços não apenas com a Globo, mas com produções de canais pagos, como Space e Curta!. “Estou curioso pelas possibilidades que a tevê tem a oferecer. Acho que é o momento de experimentar esses trabalhos, equipes e propostas diferentes. Sempre gostei do ambiente televisivo. Me faltava tempo”, destaca.
“Cine Holliúdy” - Globo - terças, às 22h30.