por Eduardo Rocha
Auto Press
Por ser um objeto de moda, muitos modelos de automóvel são aposentados mesmo quando ainda têm muita estrada para percorrer. Esse tipo desperdício é comum em mercados novidadeiros, como o brasileiro, mas também enfrenta dois tipos de resistência. O primeiro ocorre nos segmentos em que o preço é fundamental, como em compactos de entrada, onde os modelos podem durar bem mais de uma década e atrai consumidores que não costumam se dar a luxos, como design moderninho ou luzes piscantes no painel. Outro setor em que isso acontece é em marcas que primam pela racionalidade dos produtos. Nesse caso, quem se destaca são algumas marcas japonesas. É o caso da Nissan, com seu SUV compacto Kicks.
E isso fica ainda mais evidente nas versões mais altas do SUV/crossover da marca, a Exclusive Pack Tech. Ela traz todos os recursos que se encontra nos rivais em versões que custam bem mais caro. Mesmo assim, o modelo se alinha às configurações intermediárias desses competidores. E essa lógica se repete com todas as quatro versões, três delas com packs opcionais – o Kicks é um veículo de amplo espectro, com preços entre R$ 115 mil e R$ 155 mil.
É por conta disso que ocorre um fenômeno bastante incomum com o Kicks. Da pandemia para cá, as vendas do modelo vêm crescendo ano a ano. Em 2020, foram pouco mais de 38 mim emplacamentos. Ano retrasado, já eram mais de 50 mil e em 2024 passou dos 60 mil exemplares. Atualmente, o Kicks é o 4º SUV compacto mais vendido do país, em um segmento com 12 concorrentes.
No caso da versão avaliado, ele conta com som de alta fidelidade da Bose, sistema de câmeras 360º, faróis full led, sistema multimídia de 8 polegadas com GPS interno, acabamento em couro sintético e chave presencial para travas e ignição. Eles se somam a itens como retrovisor interno eletrocrômico, painel multifuncional de 7 polegadas, rodas de liga leva de 17 polegadas e setas instaladas nas capas dos retrovisores, que são rebatíveis eletricamente, ar-condicionado automático digital, luz de neblina, travas, direção, espelhos e vidros e elétricos.
Mas é na parte de segurança que o Kicks Exclusive com Pack Tech aparece bem. Ele traz seis airbags e recursos ADAS, no chamado Safety Shield, como sensor de ponto cego, alerta de colisão com frenagem automática, monitor de faixa, alerta de tráfego cruzado traseiro e farol alto automático. Outro item incluído nesse pacote é o carregador de celular por indução. Por outro lado, mesmo nessa versão mais completa, faltam dois recursos desejáveis: o controle de cruzeiro adaptativo e o espelhamento sem fio de celular. É preciso se conectar via cabo na central multimídia.
Sob o capô, o Kicks traz o robusto motor 1.6 16V de 110/113 cv de potência a 5.600 rpm e torque de 15,2/15,3 kgfm a 4 mil rpm, gerenciado por um câmbio CVT com sete marchas pré-definidas e modo Sport. Apesar de não ser um propulsor moderno, é um eficiente e capaz de movimentar com alguma agilidade o Kicks, que é um modelo extremamente leve para o segmento, com 1.139 kg. A relação peso/potência fica ligeiramente abaixo de 10 kg/cv, índice considerado bem satisfatório.
Ponto a ponto
Desempenho – O Kicks segue o conceito racional que combina uma carroceria de leve com um motor eficiente e robusto. No caso, o motor 1.6 16V de 114 cv e 15,5 kgfm, mesmo acoplado a um câmbio CVT, até movimenta bem o SUV compacto da Nissan, sem qualquer emoção. Acelerações de zero a 100 km/h em 11,8 segundos e máxima de 175 km/h provam esse padrão. As retomadas também são feitas com parcimônia. Seja no uso urbano ou rodoviário, não há sensação de falta de potência, mas as reações ao acelerador são tímidas. Nota 6.
Estabilidade – O Kicks é um carro equilibrado, que conta com uma arquitetura bastante rígida, mesmo sendo leve. Essas duas características facilitam o ajuste de suspensão e tem um comportamento mais próximo ao de um hatch que de um SUV/crossover, apesar de seu 1,60 de altura. Nota 8.
Interatividade – Desde a atualização feita há quatro anos, o Kicks oferece um bom nível de recursos e está entre os mais completos do segmento de SUVs compactos, de ar-condicionado digital a recursos de segurança – os itens ADAS estão no Pack Tech. No caso da versão de topo Exclusive, tem requintes como chave presencial, câmera 360º, som Bose com alto-falantes no apoio de cabeça do motorista. Por outro lado, faltam o controle de cruzeiro adaptativo e espelhamento de celular sem fio. Independentemente dos recursos, o Kicks é funcional, com comandos simples nos lugares certos. Nota 8.
Consumo – Na avaliação do Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro, o novo Kicks CVT obteve um bom desempenho. O modelo recebeu nota C na categoria e B na classificação geral, com médias de 7,8/9,5 km/l com etanol e 11,4/13,8 km/l com gasolina na cidade/estrada. Nota 7.
Conforto – O Kicks é um típico crossover compacto e oferece um bom espaço interno. Já a suspensão tem um compromisso maior com o controle da carroceria e não filtra tão eficientemente as irregularidades. Conjugados com os bancos dianteiros, que sustentam otimamente o corpo, mas são firmes, o Kicks não fica marcado como um carro macio, mas previsível e agradável de conduzir. O isolamento do habitáculo está entre os melhores do segmento. Nota 8.
Tecnologia – A versão de topo Exclusive Pack Tech traz tudo que o Kicks pode oferecer: iluminação full led, som da Bose e a câmera 360º, além de seis airbags, ar digital e diversos recursos ADAS – sigla em inglês para sistemas de assistência avançada ao condutor. A marca japonesa manteve a aposta no motor 1.6 16V aspirado, que pode não impressionar pela modernidade – ele é usado no Brasil desde a Livina em 2009. E nessa década e meia provou que é bastante confiável. Nota 9.
Habitabilidade – O Kicks tem um bom espaço interno, capaz de receber muito bem quatro passageiros. Mas como em qualquer compacto, o terceiro passageiro do banco de trás vai se sentir um penetra. A altura da carroceria facilita o acesso ao habitáculo e o porta-malas, com 432 litros, responde bem às necessidades do dia a dia. No interior, há nichos para objetos entre os bancos e, no caso da versão Exclusive, sob o apoio de braços no interior. Nota 8.
Acabamento – O interior do Kicks ganha um pouco de requinte com a forração em couro sintético, de série na Exclusive. Ainda assim, há bastante plástico rígido visível e até em áreas de toque. O carro segue a lógica dos construtores nipônicos de montagem sólida, com bons encaixes e matérias robustos e resistentes. Nota 8.
Design – Quando foi lançado, o Kicks foi pioneiro no design que a Nissan adotou na época. Mas como estilo é questão de moda, as linhas do SUV, ficaram defasadas. Nesse ano, o modelo vai receber um segundo face-lift e vai até mudar de nome para encarar a chegada do novo Kicks, que é maior e tem um estilo bem diverso. Ainda assim, o estilo é neutro e agravável. Nota 7.
Custo/benefício – O Kicks Exclusive Pack Tech custa R$ 155.990 e é o SUV com este padrão de tecnologia mais barato do mercado. Nesse nível de preço, o único rival em conteúdo é o Hyundai Creta Limited, que custa R$ 500 a mais. O próximo com mesmo padrão de equipamentos é o Chevrolet Tracker LTZ, que sai a R$ 159.990. Outros concorrentes, como Volkswagen T-Cross Comfortline, Peugeot 2008 GT e Honda EXL, ficam entre R$ 166 mil e R$ 170 mil. Nota 8.
Total – O Nissan Kicks Exclusive Pack Tech somou 77 pontos em 100 possíveis.
Primeiras impressões
Além da razão
O Kicks é um carro que prima pela racionalidade, tanto no desempenho quanto no preço. Em relação ao conteúdo, no entanto, a versão Exclusive foge um pouco dessa lógica restritiva, com recursos interessantes como som Bose com alto-falantes no apoio de cabeça do motorista, revestimento em couro sintético de boa qualidade, carregador de celular por indução, câmera 360º, etc. A idade do carro pode até ser denunciada pela central multimídia, que exige conexão por cabo para espelhar o celular (e também tem um gráfico bem datado), mas atualizar a central talvez fosse se render demais ao clamor novidadeiro.
Dinamicamente, o modelo também manteve o mesmo conceito: é um carro leve, com motor de potência mediana e uma relação peso/potência próxima de 10 kg/cv, seguindo uma cartilha bem racional. O Kicks traz um câmbio CVT com relações máxima e mínima amplas, o que proporcionando arrancadas e retomadas ágeis (mas não impressionantes).
No interior, o acabamento tem uma lógica nipônica, de usar materiais que não são requintados, mas que são capazes de manter o aspecto de novo por muito tempo. Os comandos são bem localizados e os bancos dão excelente apoio ao corpo, com o sistema Zero Gravity (gravidade zero), que distribui o peso do corpo em vários pontos das costas dos ocupantes dianteiros. Mesmo sendo firmes, são bastante confortáveis. Mesmo caso da suspensão, que proporciona um ótimo controle da carroceria, mas não filtra tanto as irregularidades. Por outro lado, o isolamento acústico está entre os melhores do segmento. O que valoriza ainda mais a presença do sistema de som da Bose.
Ficha técnica
Novo Nissan Kicks Exclusive Pack Tech
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando com variação contínua de abertura das válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio CVT, continuamente variável, com modo Sport e sete marchas pré-programadas. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração de série.
Potência máxima: 113/110 cv a 5.600 rpm com etanol/gasolina.
Aceleração 0-100 km/h: 11,8 segundos.
Velocidade máxima: 175 km/h (173 km/h com câmbio manual).
Torque máximo: 15,3/15,2 kgfm a 4 mil rpm com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 78 mm X 83,6 mm.
Taxa de compressão: 10,7:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 205/55 R17 (205/60 R16 nas versões Sense).
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. ABS com EBD. Oferece assistência de partida em rampa.
Carroceria: Utilitário esportivo compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,31 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,59 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.139 kg.
Capacidade do porta-malas: 432 litros.
Tanque de combustível: 41 litros.
Produção: Resende, Rio de Janeiro.
Lançamento mundial: 2016.
Lançamento no Brasil: 2016.
Atualização: 2021. Preço: R$ 155.990.