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Esporte Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2018, 00:00 - A | A

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Por que os ídolos são cada vez mais artigos de luxo no futebol brasileiro?

Goal.com



Pelé no Santos. Garrincha no Botafogo. Zico no Flamengo. Sócrates no Corinthians. Ademir da Guia no Palmeiras. Raí no São Paulo. Reinaldo no Atlético-MG. Tostão no Cruzeiro. E por aí vai.

Os grandes clubes brasileiros possuem ídolos imortais, que marcaram época e gravaram seus nomes na eternidade. São craques que defenderam e honraram suas camisas durante anos e deixarão saudades para sempre.

Todo gigante brasileiro possui não só um grande ídolo, mas vários. Cada um com seu tamanho na história. No entanto, atualmente tem sido cada vez mais difícil para os clubes ter um jogador realmente identificado com a agremiação e a torcida.

Se formos analisar cada caso, e para não nos alongarmos muito, olharmos apenas para os "12 grandes", isso é bem nítido. Santos, Palmeiras e São Paulo não possuem grandes e históricos ídolos em seus elencos atuais. O Tricolor tinha Hernanes no ano passado, mas seu retorno ao Morumbi durou pouco tempo.

O Corinthians tem Cássio, um dos maiores goleiros da história do clube, com muito tempo de casa e, entre outros títulos pelo Timão, uma Libertadores e um Mundial, mas é exceção entre os gigantes paulistas.

Já no Rio de Janeiro, o Flamengo tem um excelente elenco, mas nenhum grande e histórico ídolo. Fluminense e Botafogo, vivendo momentos difíceis, também não possuem um jogador deste perfil, enquanto o Vasco, se tivermos muita boa vontade, tem Nenê, que apesar dos bons momentos, não está na galeria de grandes ídolos históricos do clube. Nenhum gigante carioca tem no elenco atual um nome de peso na história das agremiações.

Em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, porém, vivemos exceções. O Cruzeiro conta com Fábio, jogador que mais vezes vestiu a camisa celeste e é um dos grandes nomes do clube em todos os tempos, além de jogadores que, dependendo do andamento desta e das próximas temporadas, podem aumentar a lenda na Raposa. Fred e Thiago Neves são exemplos. Já o Atlético-MG possui Victor e Leonardo Silva, que pelos feitos e pelas épicas conquistas nesta década, estão entre os grandes ídolos da história do Galo para qualquer torcedor.

Já no Sul do País, o Grêmio conta com alguns potenciais ídolos históricos no elenco e um já consagrado no banco de reservas. Por tudo o que fez como jogador e agora faz como treinador, Renato Gaúcho merece uma estátua no Tricolor Gaúcho. Do lado colorado, D'Alessandro certamente está na galeria de grandes jogadores do Internacional em todos os tempos.

Como podemos observar, no entanto, dos 12 clubes, apenas cinco contam com ídolos históricos em seus elencos, e são poucos os nomes de peso. Muito pouco se compararmos com o passado, inclusive recente.

Isso ocorre por alguns motivos. No futebol atual, os jogadores dificilmente permanecem em suas equipes por muito tempo, quanto mais durante toda a carreira. Casos como Totti e Iniesta são cada vez mais raros. No Brasil, isso acontece muito em função da fragilidade financeira dos clubes. Não existe tempo o suficiente para criar uma identidade e uma relação verdadeiras entre atleta, time e torcida.

Tem sido cada vez mais comum celebrar os 100 jogos de um jogador com a camisa de um clube, mas em cada temporada do futebol brasileiro, devido ao calendário maluco, um time pode jogar 70, 80 ou até mesmo 90 partidas. Não é algo de outro mundo e muito difícil jogar 100 vezes por uma equipe no Brasil hoje em dia. E, mesmo assim, são poucos os que alcançam essa marca. E os que alcançam, acabam saindo pouco tempo depois. É cada vez mais raro ver um atleta atuar por dois, três ou mais anos no mesmo esquadrão no País.

Outra questão é que os jogadores também são vendidos cada vez mais cedo para o exterior, eliminando a possibilidade de grandes ídolos e craques formados em casa. Imagine o que Philippe Coutinho poderia ter sido no Vasco, por exemplo, em outra realidade. Bernard poderia ter ganho mais títulos e ficado mais tempo no Atlético-MG, e por aí vai.

Os jogadores ou são vendidos rapidamente, porque os clubes precisam fazer caixa, ou decidem deixar suas equipes atuais por vários motivos, sendo na maioria das vezes, financeiros. Cada um faz a escolha que desejar e julgar melhor para si, mas muitas vezes, os atletas pensam no bolso e em outras coisas, priorizando isso a se tornar um ídolo, fazer história e marcar época em um time.

E isso preocupa porque, cada vez mais, vemos os novos torcedores, as nossas crianças, se interessando mais pelo organizado e mais vistoso futebol europeu, que conta com as grandes estrelas e os melhores times e jogadores do mundo, do que pelo futebol brasileiro. Muitos jovens afirmam torcer para Barcelona, Real Madrid e outras equipes do Velho Continente, e não pelos clubes de suas cidades. A ausência cada vez maior de ídolos por aqui inegavelmente tem um enorme peso nisso.

É preciso repensar vários pontos no futebol brasileiro: calendário, organização, CBF, federações, trabalho nas categorias de base, cultura, mentalidade... Enfim, tudo precisa ser mudado, e um ponto é, também, a necessidade de termos mais ídolos nos clubes do nosso Brasil.

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