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Nacional Sexta-feira, 20 de Julho de 2018, 00:00 - A | A

20 de Julho de 2018, 00h:00 - A | A

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Relatório documenta intoxicação aguda devido ao uso de agrotóxicos em 7 localidades rurais do Brasil

Por Carolina Dantas, G1 - (Foto: Marizilda Cruppé/Human Rights Watch



A organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch divulgou um relatório nesta sexta-feira (20) em que documenta a intoxicação aguda devido ao uso de agrotóxicos em sete localidades rurais do Brasil, incluindo comunidades quilombolas, indígenas e escolas. O artigo traz entrevistas com moradores da Bahia, Pará, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.

O relatório reforça também a posição da Human Rights Watch, que junto com outras entidades, é contra o projeto de lei quer mudar legislação dos agrotóxicos no Brasil. Além de documentar o relato dos afetados, a organização faz recomendações a diversos órgãos da administração pública (veja mais abaixo).

No estudo, 73 pessoas foram entrevistadas. Entre os sintomas relatados, estão: vômito, diarreia, dormência, irritação nos olhos, dor de cabeça e tontura. Carina, com a identidade preservada no relatório, é estudante no município de Primavera do Leste, no Mato Grosso. Ela foi uma das que relatou os problemas na saúde:

 

"Eu comecei a me sentir mal, enjoada. Eu tentei beber água para melhorar, mas não ajudou. Eu comecei a vomitar várias vezes, até que vomitei tudo que tinha no estômago", diz o texto.

 

De acordo com a diretora da organização no Brasil, Maria Laura Canineu, além dos registros de intoxicação, na maioria das regiões da pesquisa foram relatados casos de intimidação.

 

"Há um clima enorme intimidação nestas áreas. Por que as pessoas não falam mais disso? Por que elas têm medo de denunciar. Das sete localidade, em cinco os moradores falaram de ameaças, inclusive de morte", contou.

 

Marelaine, que também não teve o sobrenome divulgado por questões de segurança, é professora no interior da Bahia e contou que os produtos chegam a atingir os alunos dentro da sala de aula:

 

"O avião estava jogando do lado da escola e o vento trazia para a escola. Não dava para sentir o cheiro, mas dava para sentir a neblina, o vapor entrando pela janela. As crianças, entre 4 e 7 anos reclamavam que suas gengivas e olhos estavam ardendo", diz no documento.

O relatório "Você não quer mais respirar veneno" traz recomendações para órgãos do governo federal, como os Ministérios da Fazenda e da Saúde. Além da denúncia com relação à intoxicação aguda dos entrevistados, o texto também expõe o fato de que os pesticidas muitas vezes são pulverizados sem respeitar os limites em relação à comunidade – há uma "zona de segurança" que deve ter pelo menos 500 metros até povoações, cidades, vilas, bairros e mananciais de captação de água para abastecimento.

"Não existe nenhuma proibição no Brasil semelhante [à aérea] para a pulverização terrestre. Ou seja: é legal que um agricultor ou fazendeiro pulverize agrotóxico do lado da sala de aula, por exemplo", completou Maria Laura.

Recomendações

O relatório faz ainda uma série de recomendações para diferentes órgãos. Veja os destaques abaixo:

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Criar zonas de segurança em torno de locais sensíveis (incluindo áreas de moradia e escolas) para todas as formas de pulverização terrestre. Suspender a pulverização aérea de agrotóxicos até que sejam feitos estudo sobre os impactos à saúde humana, ambientais e os custos econômicos da pulverização. Desenvolver um plano de ação nacional abrangente para reduzir o uso de agrotóxicos altamente perigosos no Brasil.

Ao Ministério da Saúde

Conduzir um estudo sobre os principais efeitos à saúde e os custos associados à exposição aguda e crônica a agrotóxicos entre as pessoas que vivem em áreas rurais, incluindo mulheres grávidas, crianças e outras pessoas vulneráveis.

Ampliar, em termos de número e tipo de alimentos e agrotóxicos testados, a análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos no âmbito do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA);

Ao Ministério do Meio Ambiente

Como parte de uma revisão nacional das políticas atuais de agrotóxicos, conduzir um estudo dos principais impactos ambientais das atuais políticas de agrotóxicos. Em conjunto com os Ministérios da Saúde e da Agricultura, desenvolver um plano de ação nacional abrangente para reduzir o uso de agrotóxicos altamente perigosos no Brasil, que deverá conter metas vinculantes e mensuráveis

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