A saúde vascular raramente é lembrada até que algo aconteça. No entanto, por trás de cada dor que se intensifica ao caminhar, de cada perna que incha sem explicação ou de uma ferida que simplesmente não cicatriza, pode haver uma doença vascular em evolução silenciosa.
É por isso que, mais do que uma data no calendário, o Dia Vascular (15 de agosto) representa um convite à mudança de perspectiva: olhar para as veias e artérias não apenas como caminhos, mas como estruturas fundamentais para a preservação da vida. No Brasil, as doenças vasculares periféricas estão entre as principais causas de incapacidade funcional, internações prolongadas e eventos fatais evitáveis.
E ainda assim permanecem subdiagnosticadas, mal compreendidas e, em muitos casos, negligenciadas no cuidado contínuo à saúde. A trombose venosa profunda (TVP) é um exemplo emblemático. Caracterizada pela formação de coágulos em veias profundas, principalmente dos membros inferiores, ela pode se apresentar de forma discreta — um leve desconforto, uma perna mais inchada — mas evoluir para um quadro grave de embolia pulmonar.
No Brasil, estima-se que centenas de milhares de casos ocorrem a cada ano, muitos dos quais em pacientes com fatores de risco evitáveis: imobilidade prolongada, cirurgias recentes, câncer, obesidade, varizes, uso de anticoncepcionais ou histórico familiar. As varizes e a insuficiência venosa crônica (IVC), por sua vez, impactam direta e progressivamente a qualidade de vida.
Com prevalência entre 30% e 50% da população, esses quadros vão além da questão estética. Quando não tratados adequadamente, evoluem para edemas persistentes, alterações na coloração da pele, sensação de peso constante e até úlceras venosas de difícil resolução — condição que gera afastamentos do trabalho, internações recorrentes e sofrimento físico e psicológico significativo.
A IVC pode evoluir para quadros de edema, hiperpigmentação e úlceras venosas, comprometendo a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) realizou, entre 2008 e 2019, mais de 869 mil cirurgias relacionadas à doença venosa crônica, com custos superiores a 230 milhões de dólares.
Entre as artérias, a doença arterial periférica (DAP) representa uma das formas mais subdiagnosticadas de aterosclerose. Com uma prevalência que pode ultrapassar 20% entre idosos, a DAP costuma passar despercebida até fases avançadas. A dor ao caminhar, que muitos associam ao envelhecimento natural, pode ser sinal de isquemia progressiva.
Quando ignorada, a doença pode culminar em amputações evitáveis e aumento importante do risco cardiovascular geral. Já os aneurismas arteriais, sobretudo os da aorta abdominal, seguem sendo diagnosticados tardiamente — com consequências dramáticas. A maioria dos casos é descoberta incidentalmente, e rupturas não tratadas chegam a ter mortalidade acima de 80%. Populações de risco, como tabagistas e hipertensos, ainda têm pouco acesso a triagens sistemáticas.
(Dr. Edwaldo Edner Joviliano -Presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP) e professor associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto).