POR GERALDO BESSA
TV PRESS
Quando o assunto é política, Osmar Prado é do tipo atento. De olho nos conflitos na região do Oriente Médio, o ator de 71 anos se surpreende ao ver as disputas entre judeus e palestinos no texto de “Órfãos da Terra”, na qual vive o israelita Bóris. “A novela trata o assunto com leveza e respeito. Gosto da mensagem de que o mundo tem de ser cooperativo. Ou nós optamos pelo ódio ou pela paz. A paz resulta em ceder, reconhecer o direito do outro e não tomar no tapa”, ressalta o ator.
Natural de São Paulo, Osmar tinha apenas 10 anos de idade quando entrou para o elenco da novela “David Copperfield”, da TV Paulista. Nos anos 1960, integrou o elenco da primeira novela produzida pela Globo, “Ilusões Perdidas”, de 1965. Posteriormente, passou por emissoras como Excelsior, Manchete e SBT, mas sempre retornando à Globo, onde fez personagens de sucesso como o divertido Tabaco de “Roda de Fogo”, o misterioso Cabeleira de “Pedra Sobre Pedra”, e o sofrido Tião Galinha de “Renascer”. “Sou um ator intenso. Isso já me causou alguns percalços na vida. Mas sigo acreditando que é preciso ter o mínimo de coerência e se entregar em tudo na vida”, destaca.
P - Você foi um dos primeiros nomes reservados para “Órfãos da Terra”. Como é voltar a atuar sob o texto da Thelma Guedes e da Duca Rachid alguns anos depois de “Cordel Encantado” (2011)?
R - Foi justamente por causa de “Cordel Encantado” que eu prontamente aceitei fazer parte de “Órfãos da Terra”. Alguns trabalhos marcam a gente de forma muito especial. Recentemente pude rever a trama no “Vale a Pena Ver de Novo” e a novela continua belíssima e muito atual. Adoro o texto da dupla e acho que elas tocam em temas urgentes e profundos, como a questão dos refugiados e as complexidades dos contrastes entre judeus e palestinos.
P - O Bóris é um judeu mais tradicional. Como foi seu processo de construção para o papel?
R - Esse trabalho olha para fora, mas foi feito a partir do Brasil e de forma muito coletiva, solidária mesmo, com todo mundo se ajudando. Durante dois meses, a equipe inteira teve aulas sobre os conflitos que entrariam na trama, a cultura, costumes e culinária dos povos retratados. Isso garantiu o estofo dos personagens. Optei por um pouco de sotaque, mas nada que pudesse destoar. Então, é tudo feito com muito cuidado e sempre em sintonia com o texto e a direção.
P - Além do trabalho em “Órfãos da Terra”, nos últimos meses você esteve envolvido com as gravações das séries “Carcereiros” e “Ilha de Ferro”. Como se organiza para conciliar tantos compromissos?
R - Não é fácil. Até porque, a minha vida não é só trabalho. Mas acho muito bacana ser um ator que já passou dos 70 e ainda tem tantos bons convites para analisar. A televisão celebra a juventude e muitas vezes esquece talentos mais experientes. Então, quando um diretor me liga para saber do meu interesse em fazer um personagem ou quando sou reservado para alguma produção, fico pensando comigo que fiz as escolhas certas ao longo da carreira.
P - Como assim?
R - Sempre me portei como um operário dentro dessa grande indústria do entretenimento. Acho que quando me convidam para algum papel, é porque sabem o que posso entregar ao trabalho. Não parei de trabalhar nem quando fiquei doente. Ainda estava me recuperando da retirada de um câncer quando o Zé (José Luiz Villamarim, diretor) me chamou para “Amores Roubados” (2013). A tevê tem muitos caminhos. Você pode ser um ator ou uma celebridade. Eu escolhi a primeira opção.
P - Em tempos onde o Brasil vive uma polarização política. Como é ser um ator que se posiciona dentro da Globo?
R - Minha relação com a Globo é pautada pela liberdade. Já me desentendi ao longo de trabalhos, mas a emissora sempre me respeitou como profissional. Alguns colegas parecem estar perdidos no meio de tanta informação. Quando alguém diz que é apolítico já é uma posição. Para essas pessoas, pensar no outro é algo fora de moda. O que prevalece é a arrogância, a prepotência e a discriminação por luta de classe.
“Órfãos da Terra” - Globo - de segunda a sábado, às 18h20.