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Artigo Quarta-feira, 08 de Novembro de 2017, 00:00 - A | A

08 de Novembro de 2017, 00h:00 - A | A

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As Hidrelétricas e o Sumiço dos Peixes dos Rios



Ah! Que saudades dos peixes do Teles Pires! Aliás, não é só dos peixes do Teles Pires, é também dos afluentes do Teles Pires. Pessoalmente, eu e companheiros pescadores temos experiência de um dos afluentes, do Teles Pires, o Rio Parado, que também não dá mais peixe; nem sequer, piranha das quais vivia praguejado.
Dizem que os índios, por exemplo, os mundurucus, habitantes do Rio Azul e do Rio São Benedito, já se movimentam temerosos de que passem fome sem os peixes.
Sumiram os peixes: nada de pintado, nem de tucunaré, nem de cachara, nem de bicuda, nem de piau, nem de matrinchã e nem mesmo de dourado-cachorro, sendo estes verdadeira praga de tanto peixe que a gente pescava.
Das pousadas desapareceram os turistas. Quem, como nós que teimava em pescar – falamos, claro, sempre fora da piracema! – e ia de barco Teles Pires afora, era uma judiação o que a gente via: “O Teles Pires em sua imensidão linda de água piscosa parecia um deserto!... Ninguém, nem os pescadores profissionais. A casa-suspensa do Ailton, pescador profissional, com o pai e o filho pescadores, casa confortável, inclusive com luz elétrica derivada da luz-solar, vive fechada. Não há mais peixe...
Prezada(o) Leitora(or), isso é para tentar lhe dizer um pouquinho do que virou o Teles Pires e seus afluentes.
Nessa altura, eu e os companheiros pescadores precisamos dizer e repetir: “Ninguém é contra as hidrelétricas. São uma bênção. Exemplo disso é o progresso e as royalties que fizeram de Paranaíta, assim me dizem, a cidade do Brasil com o maior PIB da nação!”
Costumo dizer: “Lamúria, apesar do desabafo psicológico, que é uma bênção, não resolve nada. Só piora a situação”.

Na presente situação, constituída, de um lado, pelas cinco hidrelétricas que já chegaram e pelas outras que estão vindo e, de outro lado, pelos peixes que sumiram, duas constatações que podem se transformar em dois imensos projetos.
A primeira constatação, é a construção das chamadas “escadinhas”, obrigatórias em todas as hidrelétricas e que não existe em nenhuma delas, nem na respeitável Hidrelétrica Teles Pires, com seus 1850 megawatts, a décima do Brasil e nem, tampouco, que o saibamos, nas hidrelétricas projetadas para o futuro. A escadinha é na realidade uma escada que possibilita os peixes de baixo do lago da usina a subirem e descerem para cima do lago da hidrelétrica; na piracema e fora dela os peixes sobem e descem e podem multiplicar-se; do contrário, tendem a diminuir, a sumir e desaparecer do rio.
A segunda constatação, que também pode vir a se transformar num projeto, é constituída pela cadeia de montanhas que, abaixo do lago da Usina do Teles Pires, fechou o rio e fez sua fundura descer de mais de vinte metros: virou um imenso lago – de barco a motor leva-se cerca de três horas para atravessá-lo! – onde os peixes do Teles Pires se aninharam na seca, dizem, explicando o sumiço dos peixes abaixo da Usina Teles Pires. Um companheiro meu, pescador, inclusive do Lago do Teles Pires, dizia-me que seu velho piloteiro chegava aos galhos secos da copa de árvores de vinte metros ou mais e dizia: “Veja! Aqui estava uma das árvores que eu conhecia!”
Prezada(o) Leitora(or), por hoje, chega, não? Fico por aqui deixando essas ideias e reflexões para a(o) Sra(or), esperando que também os Srs. pensem e ajudem a arrumar alguma solução para o sumiço dos peixes do Teles Pires e de seus afluentes.

José Antonio Tobias é professor, Dr. e diretor da Faculdade de Alta Floresta 

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