Meus olhos não são verdes, nem azuis eles são, são escuros quase pretos, como a sunga de Platão. E, por favor, não reclame das barbaridades ou dos absurdos que escrevo.
Dentro desse nosso momento Brasil briga-se, ou melhor, discute-se, no bom sentido, sobre educação, cultura, meio ambiente, agricultura, quem é quem e quem é que deve ocupar o quê, se permitirem que esse o quê seja ocupado.
Inicio esta crônica confessando ao leitor que, apesar do arsenal de palavras, frases feitas e um mundo de argumentos armazenados no meu cérebro, tenho encontrado dificuldades em escrever. Seguinte: estou à mercê de uma paralisia intelectual. Não é nenhum problema físico/orgânico ou mental. Levo, de certa forma, uma vida salutar. Acontece que, com o passar do tempo, milhares de coisas, ideias e teorias, dentre as milhões que defendo, vêm à tona, cobrando-me posições mais rígidas no campo da atuação.
Paro e penso: há anos vivo tentando consertar o mundo e o máximo que consegui foi construir o meu próprio mundo, enquanto o mundo que me cerca está cada vez mais desconsertado. Estou certo de que minhas conclusões e o meu posicionamento em relação à vida e à vida com dignidade estão corretos, porém é muito pouco dentro de um universo.
Às vezes imagino-me uma estrela perdida entre trilhões de outras, tentando dar um mínimo de luz a um holocausto de injustiças, outras vezes sinto-me preso dentro de uma enorme ratoeira humana, a parte sadia de um fruto imerso em uma tonelada de frutos inteiramente apodrecidos sendo ultimados para o seu destino final: o lixo.
O falecido repórter policial Gil Gomes, diariamente repetia a célebre frase de Millôr Fernandes: “Se você agir com dignidade, poderá não consertar o mundo, mas tenha certeza de uma coisa: na terra haverá um canalha a menos”. Apesar de estar certo disso e também ter essa teoria como princípio, estou fadado a acreditar que não existe sinceridade na própria sinceridade que sempre vem embebida de certos interesses individuais. A canalhice, por ser identificável pela sua posição transparente, carrega muito mais sinceridade que a própria sinceridade, e “pior que a ditadura é a própria maquiada da democracia” (o que está entre aspas desconheço o autor, mas também estou de acordo).
Perdoem-me. Mas só se forma e só se atinge e se tem a verdadeira consciência, aqueles que em são estado de lucidez, brigam por ela. Estou certo disso, como também estou certo de que esse período político é o melhor período para iniciarmos esse treinamento.
Carlos Alberto de Lima é jornalista em Alta Floresta e mantém a coluna semanal, Espaço, no jornal Mato Grosso do Norte