LEANDRO CARVALHO |
Parto dos dados da recém-publicada pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, para contextualizar nossa realidade e melhor avaliar a importância de políticas de estimulo à leitura para o futuro do país.
A pesquisa traz dados contundentes e revela aspectos importantes das dimensões econômica, simbólica e cidadã, que tem o livro, a leitura e literatura como vetores de desenvolvimento.
Começo com um dados avassalador: 44% da população brasileira não lê. Para a pesquisa, é leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses.
Dentro destas metodologia, em números absolutos, não temos poucos leitores. Estima-se que 104,7 milhões de brasileiros (ou 56% da população acima dos 5 anos de idade) leram pelo menos partes de um livro nos últimos três meses.
O levantamento considerou todos gêneros: literatura, contos, romances, poesia, gibis, Bíblia, livros religiosos e livros didáticos.
A Bíblia é o livro mais lido, em qualquer nível de escolaridade. O livro religioso, aliás, aparece em todas as listas como os últimos livros lidos ou livros mais marcantes.
74% da população não comprou nenhum livro nos últimos três meses. Entre os que compraram livros em geral por vontade própria, 16% preferiram o impresso e 1% o eletrônico ou e-book. Um dado alarmante: 30% dos entrevistados nunca comprou um livro.
Vejam quais foram os livros mais citados, em ordem decrescente:
Bíblia
A Culpa é das Estrelas
A Cabana
Pequeno Príncipe
Cinquenta Tons de Cinza
Diário de um banana
Turma da Mônica
Violetas na janela
O Sitio do Pica Pau Amarelo
Crepúsculo
Ágape
Dom Casmurro
O Alquimista
Harry Potter
Meu pé de laranja lima
Casamento blindado
Vidas Secas
Os dados são vastos e interessantíssimos. Gostaria de chamar atenção aqui apenas de um deles: para 67% da população, não houve ninguém que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma influência, a mãe e a professora foram os principais responsáveis.
Dai a importância de focarmos nossos esforços na diversificação dos livros que chegam as mãos de nossos alunos, com títulos que digam respeito a sua realidade, a sua cultura, ao seu cotidiano, com especial atenção a produção literária de autores e editores mato-grossenses.
É preciso ampliar o leque de instrumentos à disposição dos cidadãos para expandir suas possibilidades de leitura do mundo, e ampliar o número de livros à disposição da população por meio de bibliotecas bem aparelhadas.
É preciso também diversificar as estratégias para provocar o leitor e fazer com que as pessoas tenham vontade de ler. Dizia o grande escritor italiano Humberto Eco que o texto é uma máquina preguiçosa esperando que o leitor faça sua parte”.
É interessante notar também que é na infância que se lê mais por “gosto”. A pesquisa mencionada mostra também que o brasileiro lê mais por “gosto” quando é criança. Essa foi a resposta de 40% dos entrevistados de 5 a 10 anos e de 42% dos de 11 a 13.
Entre as demais faixas etárias, o porcentual cai para 29% quando analisamos a motivação de adolescentes entre 14 e 17, para 21%, entre 18 e 24, para 20%, de 25 a 29, para 16%, dos 30 aos 39, e por aí vai.
Alguns continuam lendo para se atualizar e se distrair, por crescimento pessoal, motivos religiosos e exigência escolar ou profissional. Mas a concorrência com outras atividades faz com que muita gente se esqueça de como era gostoso ouvir ou ler uma boa história.
A pratica da leitura pode ser poderosa ferramenta de desenvolvimento, melhor qualificando nossa relação com outros indivíduos, com a televisão, com o computador, com nosso smart phone, com o mundo. Precisamos, mais do que nunca, desenvolver a cultura do discernimento e do diálogo, para continuarmos construindo um ambiente social pacifico e democrático.
É conhecida a frase do médico e escritor Moacir Scliar que diz que a leitura no Brasil deveria ser tratada como uma questão de saúde pública.
LEANDRO CARVALHO é secretário de Estado de Cultura.