Domingo, 08 de Junho de 2025

Artigo Sábado, 07 de Junho de 2025, 10:57 - A | A

07 de Junho de 2025, 10h:57 - A | A

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O luto do corpo antigo; a parte invisível da bariátrica

roupa que antes vestia como armadura já não serve



Moriel Nerges

A cirurgia bariátrica costuma ser associada à perda de peso, à melhora da saúde física e à conquista de uma nova qualidade de vida. Mas há uma parte desse processo que nem sempre é visível, nem discutida: o luto pelo corpo antigo.

 Sim, ele existe. E, ao contrário do que muitos imaginam, não é vaidade ou insegurança. É um sentimento legítimo, vivido por muitos pacientes no pós-operatório, especialmente à medida que o espelho começa a refletir uma nova imagem corporal — e a mente ainda está tentando acompanhá-la.

 A imagem corporal está profundamente ligada à nossa identidade, à forma como nos reconhecemos e nos apresentamos ao mundo. Quando o corpo muda de forma drástica em pouco tempo, o cérebro pode ter dificuldade em processar essas transformações. A roupa que antes vestia como armadura já não serve. O rosto afina, o contorno muda, o olhar do outro também. E surge a sensação de estranhamento.

É um sentimento legítimo, vivido por muitos pacientes

 É comum ouvir de pacientes bariátricos frases como:

- “Sei que emagreci, mas ainda me vejo como antes.”

- “As pessoas me tratam diferente e não sei como reagir.”

- “Sinto saudade do meu corpo de antes, mesmo com as limitações que ele me trazia.”

 Esse tipo de vivência pode gerar sentimentos de confusão, ansiedade e até tristeza. É aí que entra o luto do corpo antigo: um processo de despedida da imagem que, por anos, foi parte de quem a pessoa é — mesmo que estivesse ligada ao sofrimento.

 Trabalhar esse luto é parte essencial da transformação

A psicologia tem um papel fundamental nesse momento. O acompanhamento terapêutico permite que o paciente compreenda o que está sentindo, valide suas emoções e construa uma nova relação consigo mesmo.

 Trabalhar o luto do corpo antigo é, também, criar espaço para aceitar e acolher a nova versão de si. Não como imposição social ou obrigação estética, mas como parte de um processo de reconstrução da autoestima, da autonomia e do amor-próprio.

 Cada corpo tem uma história. E todo processo de mudança merece tempo, cuidado e respeito.

 

Moriel Nerges é psicóloga com fogo em bariátrica no Centro Médico TGA, em Tangará da Serra (MT)

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