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Artigo Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019, 00:00 - A | A

17 de Dezembro de 2019, 00h:00 - A | A

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Um nada diante de um tudo



Ontem, nas escadas do Banco do Brasil, onde uma infinidade de coisas acontece como um encontro com um conhecido ou uma conhecida que a gente só encontra nas escadas ou dentro do banco do Brasil que poderia ser em qualquer outro banco, mas no meu caso quase sempre a ocorrência se dá nas escadas ou dentro do Banco do Brasil. 
 Pois bem, ontem no local aqui registrado, que também já se convencionou como local utilizado por alguns para pedido de ajuda, já que ali se supõe ser um local onde as pessoas entram sem nenhum e saem com algum, o que às vezes é uma pura fake news (pra usar a expressão do momento) já que outras transações como pagamento de boletos, depósito de pensões e resgate de cheques voadores também são feitas, porém para os pedintes ali é o local do dinheiro fácil e tenho dito.
Embora em nosso município isso ainda não tenha virado febre como nas grandes capitais ou cidade com alto índice populacional, aqui também é Brasil e por ser Brasil desses tempos isso também acontece, em escala menor, mas acontece.
Não sei se em Cabeça de Negro, Cabeça de Papel ou em outro livro do saudoso jornalista Paulo Francis, me lembro de ter lido uma narrativa em que Francis, andando pela orla da zona sul, ali próximo ao Arpoador na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, ao deparar com situação nada maravilhosa de um pedinte que em silêncio estendia as mãos, teria ouvido do também saudoso jornalista Samuel Wainer o comentário: “eles querem tão pouco e nós lhes negamos”. É isso. Assim somos. Assim são os seres denominados seres humanos.
“Qualquer coisa moço”, falou-me uma mão estendida saltando de uma voz masculina cujo som era quase um sussurro emoldurado em tamanha fraqueza. Então, inexplicavelmente, minhas pernas impediram-me de seguir, “Eles querem tão pouco e nós lhes negamos”. Na correria da vida não temos tempo para quase nada embora tenhamos tempo para quase tudo. Sim para os prazeres da vida, para as nossas necessidades e não para as necessidades do outro.
“Qualquer coisa moço” poderia ser um minuto do meu tão curto tempo de compridos afazeres. Abaixei-me e, de cócoras, quis ouvi-lo. O ancião não me disse quase nada e quase nada entendi, apenas que o abandono da família o fizera morador de rua. Suficiente para que meus botões saíssem das casinhas. 
Não direi o que fiz, mas tive a certeza do que fazer daquele momento para frente, afinal somos tão pequenos, um nada diante de um tudo. Ontem consegui terminar o meu dia, os demais eu não sei como e se terminarei.

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