José Vieira do Nascimento
Editor Mato Grosso do Norte
Rodrigo de Souza é um exemplo de que as pessoas portadoras de deficiências, apesar de enfrentar limitações, podem ser vencedoras e ter uma vida plena e feliz. Natural de Ivaiporã (PR), de onde saiu aos 14 anos para morar em Altamira (PA), com a família, sua vida é mercada por perseverança e superação.
A causa de sua deficiência foi uma paralisia infantil aos 2 anos de idade. Após passar meses hospitalizado ele sobreviveu, mas jamais pode andar. Mas esta condição não o fez desistir. Ainda criança começou a trabalha. Foi vendedor de bilhete de loteria e geladinho. “Invés de ir pedir esmola, fui trabalhar”, diz.
A vida se apresentou à Rodrigo, com uma versão diferente das outras crianças, que podiam correr, brincar e ir à escola.
Mas foi em sua infância que ele tomou a decisão que fez toda a diferença para as conquistas de sua vida. Invés de se acomodar e se entregar vencido pelas limitações, optou em enfrentar todas as adversidades e viver e lutar para realizar os seus sonho.
Foi agarrando as oportunidades que a vida lhe ofertou que ele se tornou locutor de rádio, desde a adolescência. Em 18 de abril e 1986 desembarcou em Alta Floresta e escreveu um história de realizações vitórias. Continuou trabalhando no rádio e se elegeu vereador em dois mandatos (1993/ 96 e 2001/ 2004).
É casado há 28 anos com Aparecida Procópio do Nascimento, é pai de três filhos: Pedro Henrique, Lucas e Tiago. Leia a integra da entrevista.
Mato Grosso do Norte- Como foi a sua infância e como se sentiu não podendo fazer as mesmas coisas que as outras crianças faziam?
Rodrigo- A minha infância foi difícil. Porque naquele tempo eu não podia fazer as mesmas coisas que as outras crianças faziam. Eu sofri muito bulling, e eu nem sabia o que era bulling, e quem fazia isso comigo também não sabia. Outras crianças, assim como eu que também sofreram a paralisia infantil sentiram essa diferença de não poder fazer o mesmo que as outras crianças. Eu ainda extrapolei um pouquinho, subia até em pé de mamona, com todas as minhas dificuldades eu ainda fazia isso. Eu tive a paralisia infantil com 2 anos de idade e a dificuldade sempre foi muito grande.
Mato Grosso do Norte- Como você enfrentou estes limites?
Rodrigo- Os limites e as dificuldades começaram a aparecer a partir do momento que eu comecei a viver essa diferença de não poder andar. Passei um tempo muito grande hospitalizado e de lá para cá, fui me adaptando. Eu tive a paralisia quando estava começando andar, então eu não senti muito esta barreira porque eu era muito novo e a partir daí eu já me via uma pessoa com deficiência.
Mato Grosso do Norte- Quais as dificuldades que enfrentou para ingressar no mercado de trabalho?
Rodrigo- Eu comecei a trabalhar bem novo, em Ivaiporã no estado do Paraná. Eu vendia Loteria Federal na rodoviária, depois vendi picolé, geladinho. Eu sempre tive uma queda muito grande para o trabalho, sempre quis trabalhar, nunca pedi esmola. Dede pequeno eu queria ser útil. Ouvia muito: Lá vem o aleijadinho, o aleijadinho caiu. Quantas vezes eu cai de muleta. Mas desde pequeno eu queria ser útil. Não foi fácil essa luta, porque nem todo mundo consegue entender que uma pessoa com deficiência consegue desempenhar muitos tipos de trabalho. Por exemplo: Na minha área de trabalho que é a comunicação, eu ingressei no rádio em Altamira no estado Pará, comecei atendendo telefone, depois passei para sonoplasta e a locutor. Mas nem tudo são flores, teve pessoas que não acreditaram em mim, outras que demoraram para acreditar, aqui em Alta Floresta eu tive esse tipo de problema, mas depois elas viram que eu tinha capacidade e me deram a oportunidade, mas fácil não foi.
Mato Grosso do Norte- Como você vê a acessibilidade em Alta Floresta e quais as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam para andar nas ruas?
Rodrigo- Nós vemos as calçadas da nossa cidade que um cadeirante vai, porque é um herói, ele passa porque tem que sobreviver e enfrentar essas batalhas, mas as calçadas não são preparadas para isso. Quando se fazem uma rampa, ninguém procura saber com um cadeirante qual o nível que ela tem que ter, colocam um corrimão sem saber, às vezes um corrimão é tão largo que um cadeirante não consegue utilizá-lo. Um conselho para as pessoas que vão fazer rampas ou colocar corrimão, que chamem um cadeirante para saber a largura correta para que ele possa subir ou descer utilizando os dois braços. Infelizmente alguns comércios ainda não fizeram rampa de acesso e as calçadas de nosso município estão muito deficientes, porque um degrau de vinte centímetros é um obstáculo imenso para um cadeirante. A lei da acessibilidade é antiga e infelizmente não se respeita. Vejo as vagas reservadas para deficientes, que são poucas, e mesmo assim eu vejo elas sendo ocupadas por pessoas que jogam futebol no final de semana, andam, correm e essas pessoas estão deixando a desejar. Elas fazem isso não porque são ignorantes, mas porque não querem cumprir a lei.
Mato Grosso do Norte- Qual a mensagem que você deixa para os portadores de deficiência?
Rodrigo- Não desistam jamais dos objetivos. Não deixem a sua vida vazia. Ocupe a sua cabeça. Se puder, estude, se não puder sozinho peça ajuda, mas estude, se prepare. Seu corpo pode ter uma grande deficiência, mas a sua cabeça é saudável, e a cabeça é o que comanda o corpo. Nós temos vários exemplos por esse mundo afora, de pessoas que o corpo é praticamente inútil, mas a cabeça é gigante. Portanto, não desista jamais, sonhe e coloque seus sonhos em prática. Muitos com deficiência se acomodam e ficam no seu cantinho, acham que aquele valor da aposentadoria dá para viver. Eu ando de joelhos dentro de casa, em qualquer local, quem me conhece sabe disso, é a minha maneira de locomover, eu não posso ter vergonha de mim. Você que tem uma deficiência, não tenha vergonha de você. Vá, encarre a vida, corra atrás, procure ter objetivos porque você vai vencer!