Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2025

Atualidades Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2025, 14:31 - A | A

10 de Dezembro de 2025, 14h:31 - A | A

Atualidades / Alta Floresta

UNEMAT inaugura Horto Medicinal e resgata tradição de saberes em Alta Floresta

Com 65 espécies cultivadas, novo espaço acadêmico integra ensino, pesquisa e saberes populares, e pretende fortalecer políticas públicas de fitoterapia no município.



Dionéia Martins/ Mato Grosso do Norte

Depois de 24 anos sem um espaço dedicado exclusivamente às plantas medicinais, a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus de Alta Floresta, voltou a cultivar uma tradição que sempre pertenceu ao território: o uso ancestral das plantas para cuidar do corpo e da vida. No dia 14 de novembro, durante o “II Workshop Alta-florestense de Práticas Integrativas e Complementares no SUS”, foi oficialmente lançado o novo Horto Medicinal de Alta Floresta, instalado na Unidade I, ao lado do Herbário da Amazônia Meridional.

O espaço, coordenado pelo professor Dr. José Martins Fernandes, nasceu com ambição e afeto. São 65 espécies cultivadas, um mosaico vivo que reúne desde plantas tradicionais da Amazônia até espécies vindas da Ásia, África e Europa — compondo uma verdadeira agrofloresta terapêutica. Para o pesquisador, o horto representa mais que um projeto: é a retomada de uma história interrompida em 2002, quando o antigo “Viveiro de Plantas Fitoterápicas” deixou de existir.

“Foi um momento triste”, relembra o professor. “Mas talvez tenha sido também o início de um caminho que me trouxe aqui: a especialização, o mestrado, o doutorado, os anos de pesquisa… e, claro, a interação com a comunidade e os saberes populares que sempre foram tão fortes em Alta Floresta”.

Um laboratório a céu aberto para ensino, pesquisa e extensão

Mesmo jovem — são apenas oito meses de existência — o horto já movimenta a vida acadêmica do campus.

Cerca de 58 estudantes de Agronomia, Ciências Biológicas e Engenharia Florestal passaram por ali apenas em 2025 para aulas práticas de Botânica. No campo da pesquisa, três Trabalhos de Conclusão de Curso estão em andamento, envolvendo temas como o uso medicinal de Angelins e Mulungus, além de um levantamento sobre doenças tratadas com plantas na região de Vila Rica.
O espaço também se tornou um ponto de encontro entre a universidade e a população. Durante a 1ª Semana de Extensão, em maio, o horto recebeu moradores curiosos, estudantes do ensino básico, profissionais da saúde e representantes de diversos setores públicos.

“É um lugar para aprender com a planta viva — com o toque, o cheiro, a textura”, explica José Martins. Cada espécie cultivada tem placa de identificação, e as propriedades medicinais são compartilhadas nas visitas guiadas.

Diálogo com os saberes populares
Alta Floresta sempre teve uma relação íntima com as plantas medicinais — 80% da população relata usar ou reconhecer seu valor. O horto quer alimentar essa tradição, mas com ciência, ética e cuidado.

Um dos frutos mais recentes dessa ponte entre ciência e território é o TCC da acadêmica Luiza Erislaynny Santos Lira, que mapeou 154 espécies usadas na comunidade rural Novo Paraíso — 68 delas com fins medicinais. O estudo deve ser devolvido aos moradores em linguagem acessível, reforçando o compromisso da universidade com o retorno social.

O professor também espera levar a discussão para os bairros e comunidades rurais nas próximas edições do Workshop de Práticas Integrativas, fortalecendo a troca de saberes e o protagonismo das pessoas que vivem da terra.

Parceria com o SUS e desafios para políticas públicas
O horto nasceu com vocação para apoiar a Secretaria Municipal de Saúde. A proposta é contribuir na estruturação de uma política permanente de plantas medicinais e fitoterapia no SUS de Alta Floresta — algo previsto em decreto federal desde 2006, mas ainda pouco implementado no município.

“O setor privado já atua muito bem, mas a população de baixa renda merece ter pelo menos uma Unidade Básica de Saúde com esse perfil”, defende o professor. Para ele, é preciso planejamento a longo prazo, equipe interdisciplinar e, idealmente, um edital específico para atrair médicos com formação em práticas integrativas.

Um espaço que cresce devagar, mas com raízes profundas
Com 256 m², o horto foi construído com apoio da universidade e parceria da iniciativa privada — como a empresa Machadão Atacadista, responsável pelas placas de identificação das espécies. A ampliação está nos planos, mas depende de bolsistas e recursos externos.

“Estruturar uma coleção viva exige atenção permanente. A planta avisa quando algo não vai bem”, brinca o professor, lembrando que o manejo diário é parte fundamental da vida do horto.

O futuro plantado agora
Quando pensa nos próximos cinco anos, José Martins fala com o entusiasmo de quem vê o horto como um legado. Ele imagina mais pesquisas, mais diálogo com a comunidade e uma ampliação física que acompanhe o crescimento do interesse popular pelas terapias naturais.

“Quero plantar esperança, curiosidade e resiliência nos jovens. Que eles continuem estudando uma área tão necessária para a sociedade”, resume.

O espaço agora se chama oficialmente Horto Medicinal de Alta Floresta — uma homenagem ao município que conserva, nos quintais e na memória, alguns dos saberes mais antigos e mais atuais sobre saúde e natureza.

Comente esta notícia

Rua Ivandelina Rosa Nazário (H-6), 97 - Setor Industrial - Centro - Alta Floresta - 78.580-000 - MT

(66) 3521-6406

[email protected]