POR HERNANDO CALAZAPOR HERNANDO CALAZAL
PARA AUTO PRESS
A história parece engraçada, mas não é a primeira vez que acontece. A BMW fez sua revolução quando colocou um acabamento fastback no X5 e o X6 nasceu. Anos depois, o formato, que as montadoras adoram chamar de cupê, foi expandido para muitos modelos, incluindo o Fiat Fastback, imediatamente acusado de ser uma cópia do BMW Série 3 GT. Mais recentemente, a Citroën lançou o Basalt e, na sequência, a BMW apresentou o novo X2.A piada agora é que ele parece mais uma cópia do SUV da Citroën do que do que com o pioneiro X6. Em relação à função de mercado, os SUVs cupês são os novos sedãs.
Os modelos de quatro portas com acabamento inclinado alongado existem há muitos anos. A grande diferença entre o X6 e os sedãs fastbacks está na altura do teto e da suspensão. O que aconteceu é que agora esses crossovers aparecem com prolongamento traseiro típico de sedãs, com um visual off-road – molduras de proteção, barras de teto e altura – e perfil fastback. O iX2 está mais para ser um cruzamento de SUV com um sedã, e não um cupê.
O mais caraterístico no iX2 é exatamente a traseira inclinada que termina em um spoiler preto. As colunas traseiras se estreitam para deixar os para-lamas traseiros bem protuberantes. Outro elemento marcante são linhas retas, tanto no teto quanto na lateral e a forma discreta como a janela da porta traseira forma a dobra de hofmeister, ou hofmeister kink, elemento de design que virou marca registrada da fabricante há décadas. Outro elemento recorrente da marca é a grade bipartida, que aqui aparece com formato reto e tão largo quanto alto. Junto com a fenda no capô, com o brasão da marca, é a melhor interpretação atual da clássica grade BMW, que já estão presente em modelos futuros da Neue Klasse, ou nova Série 3.
O conceito emprestado pela letra i, que define os modelos elétricos da BMW, fica marcado na frente do X2 pela grade superior selada. Além disso, este iX2 possui um pacote M, que é claramente visto nas imensas rodas de 20 polegadas com estilo de estrela dupla. Na parte traseira, não há, obviamente, escapamento. Ali há uma guarnição em preto brilhante que parecem saídas de ventilação. Exatamente essa versão, iX2 xDrive30 M Sport, é vendida no mercado brasileiro por R$ 463.950. Por dentro, o iX2 segue rigorosamente o novo estilo dos interiores da marca alemã.
Tudo na cabine traz um requinte que ajuda a justificar o dinheiro que se paga pelo modelo. Dentro do crossover tudo é macio ao toque e até as superfícies duras são sedosas. Os apliques metálicos no console com listras em cores passa a ideia de qualidade. Os pespontos contrastantes dos revestimentos e a luz ambiente complementam a atmosfera de luxo do modelo. Mais de atraente, o interior do crossover é também prático.
Caso da ponte flutuante do tipo apoio de braço central, que não só cria espaços de armazenamento, mas também deixa controles como volume, seletor de marchas, energia e acessos principais na tela ao alcance do condutor. A tela dupla em curva do iX2 é menor que a do Série 3, mas muito práticas e fáceis de usar. O sistema inclui navegador próprio, câmera 360° e espelhamento sem fio com Android e Apple. As cores e gráficos têm diversas configurações e as informações são todas acessíveis. Há ainda o enorme head up display e oferece dados da dinâmica do veículo bem completos.
A lista de recursos é extensa: teto panorâmico fixo, sistema de som de alta qualidade, couro vegano de alta qualidade e diversos serviços conectados da marca, que permite até usar as câmeras do carro espelhadas no celular para tirar fotos no celular. Em termos de segurança, o iX2 tem o arsenal ADAS típico desse segmento – com tecnologias que já estão se democratizando por segmentos com preços mais modestos.
Além da mudança de estilo, o novo iX2 também cresce em relação ao anterior, com 19,4 cm extras no comprimento, sendo 2,2 cm no entre-eixos que ficam bastante perceptíveis para os passageiros dos bancos traseiros e no porta-malas. Na segunda fila há bom espaço para as pernas de adultos. Embora haja uma boa folga para as cabeças, para entrar é preciso se abaixar bastante, como em quase todos modelos com teto inclinado.
Ainda assim, as comodidades atrás são completas, com materiais macios saídas de ar direcionais, portas USB C, bandeja dobrável e até o apoio de braço. Uma grande vantagem dos modelos é a enorme vão de abertura dos porta-malas, que neste caso também possui uma tampa com abertura e fechamento elétrico. O porta-malas tem 560 litros de capacidade e tem um piso um pouco elevado, pois ali embaixo se escondem motor elétrico, bateria, suspensões. Só não tem estepe, que é substituído por um kit de reparo. O iX2 traz um conjunto de baterias com 68,4 kWh, que segundo o InMetro fornece uma autonomia de 327 km, com consumo equivalente em gasolina de 35,7 km/l na cidade 32,8 km/l na estrada.
O computador de bordo, no entanto, está configurado para considerar a autonomia pelo ciclo WLTP, que é entre 417 e 449 km de autonomia. O carregamento do iX2 suporta uma potência máxima de recarga CC de 130 kW, que eleva a carga de 10 a 80% em 29 minutos, e em CA de 22 kW, que faz a mesma tarefa em 3h45min.
Impressões ao dirigir
Agressividade sob controle Além de um volante de aro grosso, típico da BMW M, que ajusta manualmente a altura e a profundidade, o iX2 oferece ajustes elétricos de todos os tipos para o assento, incluindo inclinação e comprimento do assento, este último manual. Os espelhos estão corretos e, quando não chegam, estão os sensores e câmeras que cobrem todo o perímetro. Ao pressionar o botão de partida, há um som para servir de alerta que está pronto para se movimentar.
Com a marcha em D e o freio liberado, o iX2 faz o que todo bom carro elétrico faz: se move suavemente e emite um som para avisar as pessoas que um carro está chegando. Tratado com delicadeza, o iX2 se mostra um veículo refinado e confortável, capaz de filtrar quase completamente a aspereza do perfil baixo das rodas (pelo menos em asfalto decente. Quando se pisa no acelerador com mais entusiasmo, fica claro o porquê do nome conter xDrive30 MSport.
São 313 cv de potência e 50,4 kgfm de torque com resposta instantânea. Se estiver no modo Sport, a reação é selvagem. E fica ainda mais quando o Boost é acionado. São 10 segundos furiosos. A marca declara que o zero a 100 km/h é de 5,6 segundos, o que não é nada mal para um crossover que pesa mais de duas toneladas. As retomadas de 80 a 120 km/h também é impressionante. No modo Eco, são 4,3 segundos, no Sport cai para 4,0 s e no modo Sport com Boost acionado fica em 3,7 s.
Além de desempenho, o iX2 se move com facilidade na cidade, ajudado por seus 16,7 cm de altura livre para o solo. O isolamento acústico e a estabilidade são perfeitos e apenas a direção merece crítica, pois é anestesiada em relação ao que ocorre nas rodas. Não é tão direta como um BMW merece, ainda mais com um M no nome. Uma curiosidade é a regeneração de energia, com diferentes intensidades de desaceleração, mas que funciona de forma desigual, não progressiva: devagar no começo e de repente desacelera mais. Melhor seria paddle shifts no volante, que permitem um controle mais direto sobre a frenagem.
