por Eduardo Rocha
Auto Press
No seu próprio tempo, o Kardian vem cumprindo os planos que a Renault traçou. O crossover feito em São José dos Pinhais foi lançado em março do ano passado e iniciou sua trajetória no mercado emplacando em torno de 1500 unidades por mês. No segundo semestre, já rondava os 3 mil emplacamentos mensais. E mais recentemente, no último bimestre, o compacto da marca francesa passou para a média de 4 mil vendas por mês.
Mas nesse ponto, o modelo contou com o incentivo de uma novidade: a chegada da versão com câmbio manual, que derrubou o preço inicial do carro em cerca de 10%: R$ 106.990 contra R$ 118.090 da versão com câmbio automatizado de dupla embreagem. A diferença, de R$ 11.100, fica ainda maior com as promoções oficiais da marca, que oferecem a configuração Evolution MT por R$ 99.990. A novidade simplesmente ampliou de forma significativa o alcance do modelo no mercado.
A não ser pela troca do câmbio manual pelo automatizado de dupla embreagem, o conteúdo não mudou. A versão Evolution traz de série faróis full led, barra no teto modulares, rodas de liga leve aro 16, controle de cruzeiro, ar-condicionado digital, direção e trio elétricos, painel digital de 7 polegadas e central multimídia com tela de 8 polegadas e espelhamento sem fio.
Mesmo sendo modelo de entrada, o Kardian traz um pequeno arsenal de equipamentos. São seis airbags, câmera e sensores traseiros, alerta de cinto para todos os ocupantes, monitoramento de pressão dos pneus e alerta de colisão frontal (faltou a frenagem autônoma).
Sob o capô, o Kardian traz o mesmo motor TCe 1.0, turbo de três cilindros, que rende 120/125 cv e 20,4/22,4 kgfm com gasolina/etanol. Ele conta com duplo comando variável, revestimento de peças internas de baixo atrito (DLC ou Diamont-Like Carbon), eixo de comando por corrente, entre outras tecnologias. Já o câmbio é o JX22, manual com seis marchas e embreagem a seco.
Na parte estética, as diferenças do Kardian Evolution para as versões mais completas são bastante sutis. As barras de teto e as saias dianteira e traseira, assim como a grade, são em preto fosco, enquanto nas outras são em prata acetinado, enquanto a grade é em preto brilhante. Invadindo o capô, por outro lado, ainda está a nova logo da marca, com losangos entrelaçados. Em geral, as linhas são orgânicas e arredondadas, com poucos elementos geométricos. As medidas são 4,12 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 de altura e entre-eixos de 2,60 m. A capacidade do porta-malas é de 410 litros.
Ponto a ponto
Desempenho – Até aqui, o motor TCe 1.0 tem se mostrado bem robusto e confiável. Trata-se do mesmo projeto que gerou o motor TCe 1.3, de quatro cilindros, que anima o Duster, a Oroch e também modelos da Mercedes-Benz, como o Classe A, com quem a Renault dividiu o desenvolvimento. Entre os motores 1.0 turbo de três cilindros no mercado brasileiro, é que o tem o maior torque. Como usa uma transmissão manual, a Renault tratou de encurtar a primeira marcha para evitar, com sucesso, o turbolag nas arrancadas. Na cidade, ele funciona bem com as primeiras quatro marchas, mantendo o motor cheio e sem consumir muito – a 5ª e a 6ª só se fazem realmente úteis em vias expressas e rodovias, pois são muito longas. O câmbio é macio e bom de manipular, mas menos preciso que o desejável para um câmbio de seis marchas. Nota 8.
Estabilidade – A suspensão do Kardian segue um estilo mais europeu, com prioridade para o controle dos movimentos de carroceria, mais ainda capaz de oferecer conforto. Mesmo com boa altura livre para o solo, de 20,9 cm, não há muita rolagem nas curvas e nas retas, mesmo em velocidades mais altas, não exige correções de trajetória. Nota 8.
Interatividade – O painel é o mesmo das versões mais completas. Traz uma tela de sete polegadas e é configurável. Já a tela de oito polegadas da central multimídia fica em uma posição elevada e traz informações interessante, como o Eco-Coaching, que ajuda a conduzir economicamente. O espelhamento de celulares sem fio é muito simples e direto. A alavanca do freio de mão foi deslocada do local tradicional para próximo ao acento do carona, o que incomoda um pouco. Nota 7.
Consumo – De acordo com o Inmetro, o Renault Kardian registrou médias urbanas de 8,4 e 12,3 km/l e rodoviárias de 9,7 e 14,0 km/l, respectivamente com etanol e gasolina. São resultados ligeiramente piores que os da versão com câmbio de dupla embreagem, mas não a ponto de prejudicar as notas do Conpet, que ficaram em B na categoria e C no geral. Nota 7.
Conforto – Apesar da suspensão firme, os pneus 205/60 têm 12,3 cm de flanco – 1 cm a mais que os usados nas versões Techno e First Edition – e deixam a rodagem do Kardian um pouco mais macia, com uma melhor filtragem das irregularidades e uma agradável sensação de solidez. Os bancos são ergonômicos e os revestimentos, apesar de parecerem resistentes, têm textura agradável. A insonorização da cabine é muito boa e mais se escuta o motor. Nota 8.
Tecnologia – Apesar das aparências, o Kardian ainda não é um Renault raiz. A arquitetura dele é compartilhada com modelos da Dacia. Mas é preciso reconhecer que a Dacia também evoluiu tecnicamente. Mesmo sendo uma plataforma de baixo custo, é moderna e versátil. O motor, por outro lado, é de alto nível. Já o câmbio mecânico tem seis marchas e um escalonamento que separa muito bem o uso urbano, de 1ª a 4ª, e o rodoviário, 5ª e 6ª. Obviamente, a versão de entrada é depenada de diversos itens tecnológicos, até para incentivar que as versões mais caras sejam desejáveis. Ainda assim, tem câmera e sensores de ré, alerta de colisão (a frenagem autônoma foi economizada), seis airbags, sensor de cinto para 5 passageiros, DLR e faróis de led. Se destaca entre os modelos de entrada do mercado. Nota 9.
Habitabilidade – O entre-eixos de 2,60 metros e a boa altura da cabine dão aos ocupantes do Kardian uma sensação de espaço. Pernas, cabeças e ombros, principalmente na frente, têm uma boa área de movimentação. Por outro lado, não oferece muitos espaços para acomodação de objetos. O console central é curto e há apenas um pequeno nicho à frente do câmbio. O acesso ao interior é facilitado pela boa altura do veículo e o porta-malas, com 410 litros, tem um bom tamanho para o segmento. Nota 8.
Acabamento – As texturas e padrões de acabamento do Kardian são bem aceitáveis para um modelo de entrada. Os padrões de decoração são elegantes, com estampa com detalhes em laranja nos bancos e painel em preto fosco e preto brilhante com detalhes em cromado. Nota 7.
Design – O Kardian traz diversos detalhes de estilo usado pela Renault na Europa. As linhas são modernas, mas foram eliminados alguns detalhes de acabamento, como saias frontal e traseira em prata. Não se pode dizer, no entanto, que a falta de enfeites caiu mal. Ficou mais discreto e deu uma ideia de maior robustez. Em geral, o perfil do modelo é bem clássico, com volumes bem equilibrados. De perfil, lembra muito o Dacia Sandero Stepway, mas frente e traseira são bem diferenciadas. Nota 8.
Custo/benefício – O Kardian Evolution MT é bem equipado e tem preço competitivo. A rigor, ele tem preço de Fiat Pulse Drive MT, que sai a R$ 107.990, mas com motor equivalente ao do Pulse Audace T200, que custa R$ 123.990 – quase R$ 6 mil a mais que o Evolution automático. Já em relação ao Volkswagen Nivus Comfortline, versão de entrada do modelo, não há comparação. O modelo da marca alemã é bem mais equipado e custa acima de R$ 143 mil. Ou seja: o modelo da Renault é de longe o que tem o melhor custo/benefício. Nota 9.
Total – O Renault Kardian Evolution MT somou 79 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Dinâmica própria
As qualidades intrínsecas do Kardian não se perdem na versão Evolution MT, a mais despojada do modelo. O modelo tem uma boa estrutura, ótimo espaço interno para a categoria e o melhor motor 1.0 turbo disponível atualmente no Brasil. O que muda é o câmbio manual, no lugar do ótimo automatizado de dupla embreagem, presente em todas as demais configurações. Para quem frequenta o ambiente rodoviário, essa alteração não significa qualquer perda. Ao contrário, o carro fica até um pouco mais econômico na estrada e, a partir de 70 km/h, praticamente não exige trocas.
Onde a perda do câmbio automatizado se faz sentir é mesmo na cidade. Inclusive no consumo, que fica 7,5% pior. E por mais que a embreagem seja muito macia e o câmbio, agradável de utilizar (só precisa de um pouco mais de precisão no encaixe das marchas), dá algum trabalho. Trata-se, na verdade, de uma questão de gosto e de custo/benefício. Para quem não é especialmente fã de mudar marcha e tem um uso intenso na cidade, talvez os R$ 11.100 de diferença no preço – mais de 10% adicionais – valham a pena. Isso porque, além do câmbio, não há nem um item sequer que a versão automática tenha a mais.
Em relação ao desempenho, a diferença é também desprezível. O motor 1.0 turbo de três cilindros, com 120/125 cv de potência e 20,4/22,4 kgfm de torque oferece um zero a 100 km/h na versão manual de 11,0 segundos, 1,1 s pior, mas a máxima de 180 km/h é rigorosamente igual. O escalonamento das marchas foi ainda muito bem urdido pela engenharia da Renault, com a 1ª bem curta, para eliminar o turbolag nas arrancadas. 5ª e 6ª são excessivamente longas e dificilmente serão usadas na cidade.
No mais, a versão Evolution traz um pequeno arsenal de recursos de segurança – inclusive alerta de colisão, seis airbags, câmera de ré e sensor traseiro –, tem um bom nível de acabamento e de insonorização, central multimídia versátil e um painel digital atraente visualmente e funcional em relação a informações. Um detalhe é que esta versão traz rodas aro 16 com pneus 205/60, um conjunto bem mais adequado à realidade das ruas e estradas brasileiras.
Ficha técnica
Renault Kardian Evolution MT
Motor: Gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote variável na admissão e no escape, com turbocompressor e injeção direta.
Transmissão: Manual com embreagem a seco a óleo de seis marchas seis marchas à frente e uma à ré. Tração dianteira.
Potência: 125 cv com gasolina e 130 cv com etanol e 5 mil rpm.
Torque: 20,4 kgfm com gasolina a 2 mil rpm e 22,4 kgfm com etanol a 2.250 mil rpm.
Diâmetro X curso: 72,2 x 81,4 mm.
Taxa de compressão: 11,1:1.
Aceleração 0-100 km/h: 11,0 segundos.
Velocidade máxima: 180 km/h. Carroceria: Crossover compacto com quatro portas e cinco lugares. Com 4,20 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 m de altura e 2,60 de distância entre-eixos. Altura mínima para o solo de 20,9 cm. Ângulo de 20º de ataque e de 36º de saída. Airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Suspensão: Dianteira tipo McPherson com rodas independentes, amortecedores hidráulicos, molas helicoidais, barra estabilizadora e braços oscilantes inferiores. Traseira com eixo de torção com barra estabilizadora, rodas semi-independentes, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais.
Freios: Dianteiro a disco ventilado com pinça flutuante. Traseiro a tambor. ABS com controle de partida em rampa e controle de estabilidade.
Pneus: 205/60 R16.
Peso: 1.163 kg em ordem de marcha com 460 kg de capacidade de carga.
Porta-malas: 410 litros.
Lançamento: outubro de 2024.
Capacidade do reservatório de combustível: 50 litros
Produção: São José dos Pinhais, Paraná.
Preço: R$ 106.990.
Preço da versão avaliada: R$ 108.890.