Sexta-feira, 14 de Novembro de 2025

Entrevistas Sexta-feira, 14 de Novembro de 2025, 14:14 - A | A

14 de Novembro de 2025, 14h:14 - A | A

Entrevistas / SUPERAÇÃO SOBRE 2 RODAS

Mariana Ribeiro vence o câncer sem sair do pódio e conquista o título estadual de ciclismo

Professora, mãe e atleta, a mato-grossense de Alta Floresta enfrentou o diagnóstico de câncer de mama no meio do campeonato, em meio ao tratamento é campeã da categoria Elite em Mato Grosso.



Dionéia Martins/Mato Grosso do Norte

A determinação de Mariana Emídio Oliveira Ribeiro vai muito além das pistas. Prestes a completar 41 anos em dezembro —, ela carrega no currículo cerca de 40 provas e o título de Campeã Estadual de Ciclismo de Estrada na categoria Elite de Mato Grosso (2025). Mas o que realmente transforma sua trajetória em uma história de superação é o fato de que parte dessas conquistas veio enquanto enfrentava um câncer de mama.

Professora doutora de Matemática na escola estadual Cecília Meireles, em Alta Floresta, e também docente de Administração na Uniflor e no Senac, Mariana concilia o amor pelo ensino com a paixão pelo ciclismo.

A ciclista começou a competir em 2020, ano em que conquistou o 4º lugar no Desafio Del Rey, em Carlinda. Desde então, Mariana subiu ao pódio em todas as provas que disputou, somando mais de 35 pódios e conquistas expressivas. Só entre 2024 e 2025, venceu provas importantes como o Tour do Manso (Cuiabá), o GP de Sorriso, e as etapas de Nova Mutum, Cuiabá e Tangará da Serra, que garantiram o título estadual na categoria Elite.    

FOTO/ Reprodução

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1.       Para quem não a conhece, como Mariana Ribeiro se descreve?  

* Esposa e mãe, dedicada à família. 

* Professora, apaixonada por ensinar e compartilhar conhecimento. 

* Ciclista, que encontra alegria e saúde nas pedaladas. 

* Uma apreciadora da vida e da fé em Deus. 

* Extrovertida e amiga, com uma personalidade que se expressa claramente: ou gosta ou não gosta!  

2.       "Casada há 16 anos e mãe de dois meninos." Qual é o papel da sua família (Josué, Lucca e Davi) em sua rotina, especialmente na hora de conciliar os treinos e o dia a dia?  

- Parceria total.

- ⁠Meus filhos apoiam e vibram demais cada conquista.

- ⁠Meu marido é meu apoio durante treinos longo, apoio em casa com os meninos, apoio nas corridas e durante as provas, cuidando da minha hidratação, e todo suporte com a minha bicicleta.

- ⁠Sem o apoio da família não seria possível treinar, e nem viajar para as competições.  

3.       ​Desde 2020, o ciclismo de estrada tem sido uma paixão. O que a atraiu para essa modalidade e o que ela representa em sua vida?  

O que me atraiu para essa modalidade foi a combinação de desafio físico, a sensação de liberdade que sinto ao pedalar e a velocidade. O ciclismo representa muito mais do que um esporte, é uma forma de autodescoberta e superação. Cada pedalada me ensina sobre disciplina, resiliência e o poder de ultrapassar limites. Além disso, é uma oportunidade de conectar-me com outras pessoas que compartilham essa paixão, criando laços e amizades que enriquecem a minha vida.  

4.       No final de agosto, a vida lhe apresentou um desafio imenso: o diagnóstico de câncer de mama HER2 positivo. Como foi receber essa notícia no meio de uma fase tão intensa do campeonato?  

Receber o diagnóstico de câncer de mama foi um dos momentos mais desafiadores da minha vida, especialmente em meio a uma fase tão boa que eu estava, desde final de 2024 vencendo algumas corridas, e iniciando 2025 vencendo as primeiras etapas do campeonato. E após tudo isso ainda tinha 3 etapas, mesmo liderando eu precisava correr essas etapas. A notícia foi um choque, um turbilhão de emoções. Mas não sou de lamentar, sou prática e quero resolver as coisas. Então a minha preocupação era iniciar o quanto antes o tratamento. E os médicos me diziam continuar o esporte respeitando o meu corpo, e foi o que comecei a fazer, mas não parei, não desisti. No entanto, essa experiência me ensinou sobre força e vulnerabilidade. Descobri que a determinação que aplico nas corridas também pode ser usada na vida. Cada dia é uma nova etapa, e essa luta me impulsiona a ser ainda mais resiliente, tanto na bike quanto fora dela. O apoio da minha família, amigos e da comunidade do ciclismo tem sido fundamental, e isso me dá coragem para seguir em frente.  

5.       A quimioterapia é um tratamento muito exigente. Quais foram os seus primeiros pensamentos e sentimentos em relação a como isso afetaria sua vida pessoal e, claro, o ciclismo?  

A princípio, senti um misto de medo e incerteza. Eu me perguntava como isso afetaria minha vida pessoal e, especialmente, o ciclismo. Comecei a imaginar tudo o que aconteceria comigo e a me preparar para isso. Decidi ver tudo de forma mais leve e sempre positiva. Sabia que perderia em breve os meus cabelos e comecei a me imaginar sem eles. Quando cortei, não foi um impacto como eu esperava; achei que choraria, mas não chorei. Brinco que perder as sobrancelhas e os cílios é mais difícil do que perder os cabelos, rsrs. A ideia de enfrentar fadiga, efeitos colaterais e a interrupção das minhas rotinas de treino me deixou pensativa. Comecei a criar planos, imaginando como tudo seria. No entanto, com o tempo, percebi que a quimioterapia poderia ser uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Entendi que, mesmo em momentos desafiadores, posso encontrar maneiras de me manter ativa e conectada com o esporte. Respeitar o momento e o corpo não significa parar tudo ou desistir; pelo contrário, é sobre ser resiliente, adaptar-me às mudanças e continuar fazendo tudo o que amo, mas de uma forma diferente.  

6.       De onde surgiu a decisão e a força para não parar de correr e seguir liderando o campeonato? Houve um momento específico de "decisão" ou foi algo mais gradual?  

Em nenhum momento passou pela minha cabeça em desistir, eu sempre pensei que poderia conciliar o tratamento e a minha rotina. O meu medo era as médicas que me acompanham falar que eu não poderia praticar a atividade física ou participar das corridas. Porém, as Doutoras sempre me deixaram tranquilas, e disseram que não era para eu parar, e sim, ter a consciência de que a minha performance mudaria. Então, procurei trabalhar isso dentro de mim, que só pelo fato de participar eu já estaria sendo uma vencedora, e que os resultados que viessem seriam consequências e não uma obrigação. E procurei transformar tudo isso em motivação para continuar, mesmo diante dos desafios. Decidi que não iria deixar que a doença definisse minha jornada. Em vez disso, transformei essa luta em uma motivação para ser ainda mais forte e determinada. Cada pedalada se tornou uma afirmação da minha resiliência e da minha paixão pelo ciclismo.  

7.       Participar das últimas três etapas após o diagnóstico e já durante o início da quimioterapia deve ter exigido um esforço físico e mental sobre-humano. Como você descreveria a sensação de pedalar nessas etapas?  

Participar das últimas três etapas após o diagnóstico e durante o início da quimioterapia foi, sem dúvida, um desafio físico e mental colossal. Cada prova representava não apenas um esforço físico, mas também uma batalha interna. A sensação de pedalar nessas etapas era uma mistura de dor e euforia. A dor vinha do cansaço e dos efeitos colaterais da quimioterapia, que tornavam cada quilômetro mais difícil. No entanto, a euforia de estar em movimento, e estar rodeada por amigos e atletas me dava uma força inesperada. Pedalar nessas etapas me ensinou a valorizar cada momento e a força que eu não sabia que tinha, mostrando que, mesmo em meio a dificuldades, é possível encontrar alegria e propósito.  

8.       Qual a diferença de pedalar antes e depois do diagnóstico? Você teve que adaptar treinos ou estratégias de prova?  

A diferença de pedalar antes e depois do diagnóstico é significativa. Sim, tive que adaptar tudo: minha rotina, meus horários e meus treinos. Meu treinador, Roger Muller, sempre foi cuidadoso em passar os treinos e fazer as adaptações necessárias. Com a quimioterapia, as demandas físicas mudaram, e precisei ser mais atenta ao meu corpo e ao meu limite. As estratégias nas provas também mudaram. Procurei me preservar mais durante as competições, priorizando a resistência e a recuperação. No entanto, havia momentos em que eu precisava encontrar forças de onde parecia não haver, superando a fadiga e a dor. Essas adaptações me ensinaram a ser mais flexível e a ouvir meu corpo, permitindo que eu continuasse competindo, mas de uma maneira que respeitasse minha nova realidade.  

9.       ​O que significa, de fato, ser a CAMPEÃ Elite Estadual de Ciclismo de Estrada de MT neste contexto de vida?  

Significa uma realização, uma superação, um sonho realizado em meio a dificuldade e onde parecia impossível ser concretizado. Claro que para isso acontecer, não dependeu somente de mim, mas de Deus em primeiro lugar, toda honra e glória a Ele que me permitiu. Ao meu marido e minha família. As minhas amigas que se eu for citar aqui são muitas, mas cada uma sabe o que representa na minha vida. Ao meu treinador Roger Muller. A academia Poly Sport onde eu treino. Ao projeto ISSQN da prefeitura de Alta Floresta junto com a empresa Rodcar.  

10.   A gratidão a Deus e a menção de que "Tudo é para honra e a glória de Jesus" são evidentes em seu depoimento. Como a sua fé a sustentou e a motivou a cruzar a linha de chegada?  

A minha fé foi fundamental durante toda a jornada. A gratidão a Deus me deu força e esperança, lembrando-me de que não estou sozinha nessa luta. A certeza de que "tudo é para honra e a glória de Jesus" me motivou a seguir em frente, mesmo nos momentos mais difíceis. Essa conexão espiritual me ajudou a encontrar propósito e coragem para cruzar a linha de chegada, transformando desafios em vitórias.

  11.   Você dedicou uma menção especial às outras ciclistas. Como foi a reação e o apoio da comunidade do ciclismo e de Alta Floresta durante essa jornada?  

O apoio da comunidade do ciclismo, foi incrível. As outras ciclistas me encorajaram e estiveram ao meu lado, oferecendo solidariedade e motivação. Fiz amizades verdadeiras durante a trajetória no ciclismo, e mesmo sendo concorrentes na pista, nos respeitamos e admiramos. Recebi muitas mensagens de carinho e suporte, que foram essenciais para minha força e determinação. Essa união fez toda a diferença na minha jornada.  

12.   Que mensagem você gostaria de deixar para outras mulheres, mães, ou atletas que estejam enfrentando diagnósticos desafiadores e sentem que precisam abrir mão de suas paixões?  

Minha mensagem é: não desistam de suas paixões. A luta pode ser difícil, mas a força que vocês têm é incrível. Encontrem maneiras de adaptar seus sonhos e continuem buscando o que amam. Vocês podem superar desafios e transformar dor em motivação. Acreditem em si mesmas! E nunca percam a fé e a esperança!  

13.   Quais são os próximos passos de Mariana Ribeiro? Há novos objetivos no esporte ou o foco agora está totalmente na recuperação e nos próximos tratamentos?  

O foco está no meu tratamento e na minha recuperação, mas também no esporte e na vida. No próximo ano, quero participar das competições, focando em algumas provas específicas e conciliando com meu tratamento. Continuarei com meu treinamento, fazendo as adaptações necessárias, mas sempre presente no grid.

foto/ reprodução

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