por Geraldo Bessa TV Press
Hábil em se comunicar de forma direta e divertida, Astrid Fontenelle soube construir e conduzir sua carreira de forma muito independente. Grande nome da extinta MTV Brasil e hoje uma das principais apresentadoras do canal pago GNT, ela conseguiu reconhecimento nacional e um público cativo a partir de programas como “Saia Justa” e “Chegadas e Partidas”. A saída do sofá do “Saia Justa”, em 2023, acabou levando Astrid a um novo momento da carreira à frente do “Admiráveis Conselheiras”, que acaba de estrear sua segunda temporada.
“O fim do ciclo no ‘Saia’ me fez parar para pensar em um projeto totalmente autoral. Estou com 64 anos e me veio essa urgência de falar sobre maturidade e envelhecimento. Em um veículo que pensa muito na juventude, o programa surge como um contraponto ao entrevistar mulheres que já passaram dos 60 anos e que têm muito a dizer sobre futuro e a longevidade”, valoriza a apresentadora, que na nova temporada tem como convidadas como Irene Ravache, Regina Casé, Cissa Guimarães, Miriam Leitão, Benedita da Silva e Simone, entre outras.
Natural do Rio de Janeiro, radicada em São Paulo e apaixonada pela Bahia, Astrid se formou em Jornalismo pela PUC de São Paulo. Inicialmente, trabalhou com assessoria de imprensa, fez produção para a televisão até que estreou à frente das câmeras da Globo como repórter, ao lado de Pedro Bial, na transmissão do festival Hollywood Rock, em 1988. Na sequência, foi o primeiro rosto a aparecer na versão nacional da MTV, onde ficou de 1990 a 1999, e ajudou a criar a figura do VJ. “A música sempre fez parte da minha vida e me ajudou nessa ida para a tevê. O trabalho na MTV me fez a profissional que sou”, analisa.
Nos anos 2000, Astrid teve passagens pela Band e SBT, mas foi no GNT que ela se sentiu realmente em casa. “É um lugar que ouve e acredita em seus profissionais. Foi onde me redescobri como comunicadora”, conta ela que, atualmente, trabalha em mais uma temporada do “Chegadas e Partidas”.
“Estou acordando às três da manhã e passo o dia gravando no Aeroporto de Guarulhos. Sigo feliz e com muita vontade de trabalhar”, avisa
. P – A passagem do tempo e o envelhecimento são temas tratados com um certo tabu pela tevê. O “Admiráveis Conselheiras” é uma forma de você criar um espaço seguro para ideias e ensinamentos de mulheres maduras?
R – O programa foi uma encomenda do GNT, que também marcou a minha saída do “Saia Justa”. Com a minha saída do programa, me pediram para criar um programa autoral. Algo que fosse com entrevistas com mulheres mais velhas. Então, veio esse formato charmoso.
P – Por que esse recorte?
R – O espaço para mulheres 60+ é muito restrito na tevê. Ainda não temos um número muito expressivo de conteúdo voltado e pensado para elas. O “Admiráveis Conselheiras” é como se fosse um espelho para o público, ao mostrar o quanto as pessoas mais experientes têm a entregar. Ao mesmo tempo, não é um programa só para quem é mais velho ver. É para quem é mais novo assistir, aprender e angariar ferramentas para envelhecer melhor.
Acho que existe uma relação de confiança e o entendimento de que é um espaço de troca de experiências
P – A segunda temporada mantém um time muito forte de entrevistadas. Qual o parâmetro para a seleção de convidadas?
R – Desde que esse projeto surgiu, carrego uma lista, feita à mão e escrita em um caderninho, com nomes possíveis para entrevistar. Essa seleção não foge do nome do programa, ou seja, tenho realmente que admirar essas pessoas. Cada convidada tem um motivo, uma característica que me instiga a mostrar suas ideias e trunfos para o público. Depois de uma primeira temporada com participações muito profundas e significativas de nomes como Marília Gabriela, Zezé Motta e Wanderléa, entre outras mulheres incríveis, eu e minha equipe tivemos de suar para manter o nível.
P – Você acha que é esse padrão que faz com que mulheres realmente famosas e que têm algo a dizer se sintam confortáveis para uma conversa mais sincera?
R – Acho que existe uma relação de confiança e o entendimento de que é um espaço de troca de experiências. Eu fico muito feliz quando as convidadas realmente compram a ideia e saem da mesmice de entrevistas protocolares. Nesta temporada, por exemplo, Cissa Guimarães me emocionou muito. Eu estava dentro da casa dela, lugar de maior verdade da vida dela, onde ela falou sobre como ressignificou a perda do filho e do quanto está viva. Apesar das durezas da vida, o brilho no olhar com que ela vive e trabalha é realmente estimulante. Regina Casé e Simone também renderam episódios surpreendentes
. P – Por quê?
R – A Regina estava muito focada. A conversa não foi aquela festa com a qual todos estamos acostumados quando ela está em cena. Ela estava a fim de conversar comigo sobre Brasil e sobre ela, onde falamos sobre tristeza e velhice. Já a Simone foi pura sedução, praticamente voltei para casa enamorada. São mulheres que entregam tudo e mais um pouco.
“Admiráveis Conselheiras” – Sextas, às 22h45 no GNT. Duas temporadas disponíveis no Globoplay.