Domingo, 25 de Maio de 2025

Entrevistas Sexta-feira, 23 de Maio de 2025, 10:23 - A | A

23 de Maio de 2025, 10h:23 - A | A

Entrevistas / Entrevista

"O racismo permeia todos os espaços e ambientes", diz ministra Vera Lúcia

Magistrada relata crime de discriminação em evento em que daria palestra e frisa: preconceito de cor é uma construção do Estado



Entrevista  ao Correio Braziliense

Vera Lúcia Santana Araújo,  ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), talvez não imaginasse que seria vítima de racismo em um ambiente institucional, que recebia um evento de Estado no qual ela seria palestrante. Convidada  a participar de um seminário sobre a prevenção e o enfrentamento do assédio e da discriminação, organizado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República — no auditório da Advocacia-Geral da União (AGU), no Centro Empresarial da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Vera Lúcia foi impedida de entrar.

As duas pessoas que estavam ali no atendimento não quiseram olhar meu documento

A senhora se importaria de lembrar o que aconteceu?

Fui convidada a compor uma mesa de debate nos seminários da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Esse evento acontecia no auditório da Advocacia-Geral da União, localizado no prédio da Confederação Nacional do Comércio. Ou seja, é um prédio privado que loca espaços, inclusive para órgãos públicos. E, ao chegar no local, o serviço de recepção do prédio era da CNC. Não era um serviço vinculado ao evento, mas sim um serviço especializado contratado pela administração predial da CNC. Eu disse meu nome.

A pessoa olhou numa lista e disse que não constava. Apresentei minha identificação funcional do Tribunal Superior Eleitoral, uma carteira vermelha com o brasão do Judiciário Eleitoral brasileiro. As duas pessoas que estavam ali no atendimento não quiseram olhar meu documento. Depois, chamaram um vigilante, que igualmente não quis olhar o documento. Aí ele ligou para alguém e disse que eu não queria dizer meu nome. Falei que era mentira dele, porque eu estava desde o primeiro momento apresentando. Eles não olharam, em nenhum segundo, minha identificação, até que conseguiram falar com alguém, para, finalmente, chegar até o auditório e participar do seminário.

Quais foram as formas de desrespeito com a senhora?

Primeiramente, fui ignorada, no sentido da minha fala e da minha identificação. Estava na condição de ministra substituta. Ia falar em um seminário da Comissão de Ética da Presidência da República. Foi um absoluto desrespeito por ignorar, de certa maneira, a minha presença. Uma das atendentes disse que eu deveria ligar para alguém da organização.

Falei que não ia ligar porque não estava tendo nenhum problema com a organização, mas a organização regularmente me convidou. Aceitei e estava no local próprio, no horário determinado. Então, não tinha nada para tratar com a organização do evento. E aí, depois, o vigilante disse que eu não queria nem dizer meu nome. Disse que não era verdade, que era mentira dele, porque desde que cheguei lá, estava me apresentando com a minha identificação institucional — e eles sequer se dignaram a conferir. Foi tão grave que nem precisaram me dizer muita coisa. Apenas me desrespeitaram. Me desconheceram e me ignoraram. 

O que precisou ser feito para que a senhora pudesse entrar?

Chamaram a parte de comunicação e, em algum momento, a comunicação chegou para o suporte da organização do seminário. E aí subiu alguém que foi até lá para conseguir fazer a entrada no prédio

Foi racismo velado?

Velado, não. Foi explícito, tanto que não me permitiu acesso. A Lei 7.716, inclusive, descreve condutas. Então, foi isso. Não foi disfarçado, não foi velado. Foi rigorosamente explícito. Não houve uma injúria racial. Foi o racismo nos termos da Lei 7.716.

Fonte/  Correio Braziliense

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/05/7153236-o-racismo-permeia-todos-os-espacos-e-ambientes-diz-ministra-vera-lucia.html

 

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