G1
Mulheres ouvidas pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) afirmaram que alguns funcionários do médium João de Deus eram coniventes com os abusos sexuais cometidos durantes as sessões espirituais em Abadiânia, Goiás.
Segundo a promotora Valéria Scarance, as vítimas apontaram quatro funcionários, cujos nomes se repetem nos depoimentos. O fato será apurado pelo MP de Goiás, que é responsável pelas investigações do caso.
O grupo de apoio criado pela promotoria em São Paulo para colher depoimentos já registrou formalmente 60 casos. Segundo Scarance, 18 mulheres já foram ouvidas até esta quinta-feira (13) e outras 18 já estão marcadas para a semana que vem. Os trabalhos devem continuar em janeiro, na volta do recesso judicial.
O número de vítimas ainda pode aumentar, já que foi aberto um canal de denúncia por e-mail ([email protected]). O MP-SP também recebeu o relato de um grupo que reúne mais de 200 mulheres que teriam sofrido abuso, mas nem todas quiseram se identificar ou formalizar a queixa.
De acordo com o MP-GO, mais de 300 mulheres já denunciaram formalmente o médium ao órgão. Ele nega os crimes.
Pedido de prisão
Nesta quarta-feira (12), o MP-GO pediu a prisão preventiva de João de Deus. O pedido deve ser analisado pelo juiz Fernando Chacha, que é responsável pela comarca de Abadiânia.
A defesa do médium protocolou, na quinta-feira, no Fórum de Alexânia, um pedido para o que João de Deus continue os atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, mesmo que, para isso, seja filmado ou tenha a presença de policiais. O objetivo é que os trabalhos na casa não sejam prejudicados e para que não haja a suspeita sobre continuidade de crimes.
“Muitas pessoas são beneficiadas com o tratamento e vão em busca do João de Deus. Então, para que ele possa continuar os atendimentos sem causar um embaraço à Justiça, parecer uma afronta, pedimos para que, se o juiz julgar necessário, coloque câmeras no local e até policiais para ver que o trabalho é feito com lisura”, disse o advogado Alberto Toron.
O defensor explicou ainda que já havia feito outro pedido à Justiça, para que possa marcar uma data para que o médium seja ouvido. Toron relatou que ainda não teve acesso ao teor dos depoimentos das vítimas e nem ao pedido de prisão.
“Ele tem 76 anos e uma larga folha de serviços prestados. Os depoimentos têm que ser apurados com rigor. É necessário ter cuidado para que João de Deus não seja submetido a um linchamento público antecipado”, completou.