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Política Quarta-feira, 23 de Outubro de 2024, 08:29 - A | A

23 de Outubro de 2024, 08h:29 - A | A

Política / Alta Floresta

Sem mudanças na Gestão Ambiental a região se tornará inabitável

Diretora Adjunta do ICV em Alta Floresta, Camila Horiye Rodrigues, alerta que caso não haja uma mudança de comportamento no uso dos recursos naturais e nas práticas agrícolas e pecuárias, se tornará inviável permanecer nesta região



José Vieira
Mato Grosso do Norte

A diretora adjunta do ICV - Instituto Centro de Vida - a engenheira florestal Camila Horiye Rodrigues, em entrevista ao jornal Mato Grosso do Norte, na sexta-feira, 18, em sua sala na sede da entidade, observa que a escassez hídrica que está ocorrendo em Alta Floresta, é uma questão ampla, que vai além da falta de planejamento e exige que se passe a ter um olhar diferente para a Gestão Ambiental.

Caso esta mudança de atitude não seja posta em prática, colocando em perspectivas, a previsão nos próximos anos, é de um cenário desolador, podendo ocorrer até mesmo uma diáspora, porque a região, devido ao clima inóspito, não ofertará condições de sobrevivência para a população.

“Há um grave problema emergencial que afeta a população e que necessita de uma solução imediata. Mas esse momento também deve ser aproveitado para se discutir medidas a médio prazo. Temos que nos conscientizar que estamos numa região que, historicamente, vem sofrendo com o desmatamento e a degradação. E isto tem afetado o regime hídrico, a temperatura e potencializa o problema de a empresa não ter atualizado seu programa de abastecimento de água, e do município não ter previsto a infraestrutura adequada para que isto não acontecesse. Há problemas das gestões pública e privada, mas há também o problema ambiental, que agrava”, enfatiza Camila.

Diante disto, ela observa que é necessário olhar as ações a médio prazo, com outras perspectivas. “Passamos dois meses embaixo da fumaça das queimadas. As pessoas percebem que está ficando mais quente, que o clima está mudando, mas continuam com as mesmas práticas. Temos que olhar a gestão ambiental de outra forma”, alerta.

Para ela, somente os investimentos na infraestrutura do sistema de abastecimento de água, sem observar a gestão ambiental, não será uma solução eficaz para a escassez hídrica. Isto porque a solução de buscar outras fontes para o abastecimento, se chegará a um momento, que todas as fontes estarão secas.

“O problema é que as fontes de água, de forma geral estão secando. Grandes rios como o Madeira e o rio Negro estão secando. Está havendo um esgotamento das águas superficiais e não é suficiente apenas mudar a fonte de água. É preciso melhorar o uso e a gestão dos recursos hídricos”, aponta.

Camila sugere que agora que a prefeitura está renovando seu Plano Diretor, preveja todas as bacias que existem de captação de água, prioritárias para a conservação. E garanta que as áreas de APP (Área de

Preservação Permanente) sejam preservadas, assim como a vegetação necessária para a capacidade de captação, absorção e infiltração desta água.

“É necessário garantir que em cima destas bacias, a Agricultura e a Pecuária sejam feitas com práticas de conservação de água e solo. Com as áreas desmatadas não se tem a infiltração necessária para a água retornar ao curso dos rios”, esclarece.

Conforme ela, além de reflorestamentos, é preciso que as práticas agropecuárias também sejam sustentáveis. E estas iniciativas devem ser somadas a alternativas de abastecimento de água, com uma infraestrutura eficiente.

“O que a gente entende é que não é somente um problema de gestão pública do município, isolando de um fator que é a mudança climática. Tivemos o aumento de um grau e meio na temperatura e o que se previa para 2030, já aconteceu e vai continuar. Vamos ter climas mais quentes, menos chuvas e a tendência é piorar. Precisamos mudar urgente a forma de uso da terra aqui na região se quisermos garantir a qualidade de vida para a população”, aponta.

Na opinião de Camila, caso não haja uma mudança de comportamento no uso dos recursos naturais e nas práticas agrícolas e pecuárias em alguns anos, se tornará inviável permanecer nesta região.

Segundo ela, continuando como tem sido e a população não mudar a forma de fazer gestão de uso das florestas, uso da terra e dos recursos hídricos, com certeza haverá um colapso na região e não haverá condições de ser habitada por humanos, ocorrendo uma deserção.

As previsões, segundo ela, é que esta região sofrerá muito com a escassez e será o primeiro processo de mudança climática extrema, com perda da vegetação pelo clima muito seco, sem chuvas, a própria floresta não se sustentará e não haverá como sustentar uma cidade e sua população.

Porém, o prazo para que estas mudanças de comportamento sejam adotadas está se exaurindo. O Acordo de Paris prevê que até 2030, mude-se significativamente as práticas de uso do solo, redução do desmatamento e manejo dos recursos hídricos.

“Temos que entender que isto faz parte da vida. Não é uma disputa entre ambientalistas e as práticas agropecuárias. A gente depende da água, depende do clima e de chuvas. Temos que ter o olhar de integrar a natureza nas nossas ações como prática de vida”, sugere a ambientalista.

Todavia, aponta que o primeiro passo para esta mudança é o desmatamento zero. Depois, melhorar as práticas de produção nas áreas já desmatadas, para não precisar mais fazer desmatamentos. E fogo zero! Não colocar mais fogo em florestas e pastagens.

As mudanças não afetariam a economia por que há áreas abertas suficientes, sem a necessidade de fazer novos desmatamentos.

“Basta apenas melhorar a pratica de produção e a mentalidade das pessoas. O mundo se transformou e ainda há uma disputa. Mas todo mundo quer viver aqui e viver bem”, disse.

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