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+Saúde / Saúde dos olhos

Neuropatia óptica por Metanol Sinais clínicos e tratamento

Na fase aguda, discreto edema de papila e hiperemia do disco óptico são os achados mais comuns



Dra. Débora Cumani

Nas últimas semanas, surtos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol foram registrados no Brasil, resultando em mortes e em casos de perda visual irreversível. Esse cenário representa um alerta importante, já que a neuropatia óptica tóxica por metanol configura uma emergência médica e oftalmológica, com evolução rápida e potencial devastador.
A lesão do nervo óptico decorrente da intoxicação por metanol (neuropatia óptica tóxica por metanol) é uma condição grave que causa perda visual, muitas vezes irreversível. Acredita-se que o ácido fórmico iniba a enzima citocromo c oxidase levando à disfunção mitocondrial e hipóxia tecidual que acomete principalmente as fibras do nervo óptico e as células ganglionares da retina que tem alta demanda metabólica.
Ocorre perda visual súbita ou rapidamente progressiva em poucas horas, geralmente bilateral e simétrica, que pode ser acompanhada de fotofobia e fenômenos visuais positivos, tais como flashes de luz. Pode ocorrer dor ocular leve, porém nem sempre está presente. O acometimento pode lesar totalmente o nervo óptico ou nas formas parciais acometer principalmente a visão central, levando ao desenvolvimento de escotomas centrais ou ceco centrais. A reação pupilar à luz se mostra reduzida e nos casos assimétricos observa-se um defeito pupilar aferente relativo.
Na fase aguda, discreto edema de papila e hiperemia do disco óptico são os achados mais comuns. O exame de OCT pode mostrar edema do disco óptico na fase aguda e redução da camada de fibras nervosas peripapilares e da camada de células ganglionares na região macular na fase crônica. Na evolução clínica, pode ocorrer atrofia óptica.
Para o diagnóstico, é importante lembrar que a neuropatia óptica é precedida ou acompanhada de sintomas sistêmicos de intoxicação como náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia, vertigem, confusão mental e até convulsões, além de ocorrer acidose metabólica grave. Os sintomas sistêmicos geralmente aparecem de 6 a 24 horas após a ingestão de metanol, podendo iniciar de forma mais tardia se houver ingestão de etanol concomitante. Em média, os sintomas visuais aparecem entre 12 e 24 horas após a ingestão, podendo surgir mais precocemente quando a quantidade ingerida é grande.
O tratamento deve ser urgente, para evitar o dano irreversível ao nervo óptico, sendo direcionado à inibição da formação de metabólitos tóxicos do metanol.
Não existe um tratamento comprovado para a neuropatia óptica tóxica por metanol, mas muitos estudos referem o uso, na fase aguda, de corticóide por via intravenosa, outras tentativas terapêuticas usadas empiricamente são vitaminas antioxidantes entre outros.
Em conclusão, a intoxicação por metanol configura-se como uma emergência médica e oftalmológica de alto impacto, capaz de provocar perda visual irreversível e risco de morte. O reconhecimento rápido dos sinais clínicos, associado ao manejo imediato com medidas específicas para bloquear a formação de metabólitos tóxicos e corrigí-los a tempo, é determinante para reduzir as sequelas.

Dra Débora Cumani é oftalmologista
CRM-MT 16619

 

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