Agência Estado
Marcelo Otsuka, infectologista e vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), avalia que o alerta da organização chama atenção para a necessidade de controlar a doença e impedir a disseminação dela. "Indica que temos que tomar os devidos cuidados para bloquear essa cadeia de transmissão", explica.
Nova pandemia?
Na visão de Otsuka e Araújo, por definição, o surto atual já poderia ser considerado uma pandemia. "Uma pandemia se caracteriza pela expansão mundial de uma doença", fala Araújo. Isso não significa, porém, que a resposta seja na mesma intensidade do que a dada à de covid-19. "A gravidade é menor a princípio", pondera Otsuka.
O sanitarista Gonzalo Vecina discorda. Ele acha que o surto só deve ser visto como pandemia se houver transmissão local "forte". O médico destaca que, ao contrário da covid-19, a doença, por ora, tem taxa de infectividade e mortalidade baixas. O que preocupa, pondera, é o longo período de latência.
"Você pode conviver com ela até 40 dias e durante 40 dias é infectante." Por isso, teme que o vírus encontre um hospedeiro animal - ou seja, que a doença se torne uma zoonose. "Se ele encontra outro animal que seja hospedeiro dele, fora da África, você estabelece um novo ciclo.
O que o Brasil precisa fazer?
Otsuka avalia que o primeiro passo é difundir os protocolos de investigação. "Esses cuidados de triagem, de rastreio, de análise epidemiológica são o primeiro ponto."
Araújo indica que informação é crucial. Principalmente, para a população de homens que fazem sexo com homens (HSH), que, conforme a OMS, representam a maior parte dos casos. Isso não significa que outras pessoas não podem se infectar.
O Ministério da Saúde destacou, em comunicado, que o País está preparado para enfrentar a varíola dos macacos e que articula, com a OMS, a compra de vacinas para combater a doença. "De forma que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) possa definir a estratégia de imunização para o Brasil", informou.
Surgimento dos casos- O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivíduo que retornou à Inglaterra da Nigéria, onde a varíola dos macacos é endêmica. Desde então, países da Europa, assim como Estados Unidos, Canadá e Austrália, confirmaram casos.
A doença - A varíola causada pelo vírus hMPXV (Human Monkeypox Virus, na sigla em inglês) provoca um quadro mais brando que a varíola conhecida como smallpox, que foi erradicada na década de 1980.
A varíola dos macacos é uma doença viral rara transmitida pelo contato próximo com uma pessoa infectada e com lesões de pele. O contato pode ser por abraço, beijo, massagens ou relações sexuais. A doença também é transmitida por secreções respiratórias e pelo contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas) e superfícies utilizadas pelo doente.
Não há tratamento específico, mas os quadros clínicos costumam ser leves, sendo necessários o cuidado e a observação das lesões. O maior risco de agravamento se refere, em geral, a pessoas imunossuprimidas, como pacientes com HIV/AIDS, leucemia, linfoma, metástase, transplantados, pessoas com doenças autoimunes, gestantes, lactantes e crianças com menos de 8 anos.
Transmissão - Identificada pela primeira vez em macacos, a doença viral geralmente se espalha por contato próximo e ocorre principalmente na África Ocidental e Central. Raramente se espalhou para outros lugares, então essa nova onda de casos fora do continente causa preocupação. Existem duas cepas principais: a cepa do Congo, que é mais grave, com até 10% de mortalidade, e a cepa da África Ocidental, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%.
O vírus pode ser transmitido por meio do contato com lesões na pele e gotículas de uma pessoa contaminada, bem como através de objetos compartilhados, como roupas de cama e toalhas. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias.
Sintomas - Os sintomas se assemelham, em menor grau, aos observados no passado em indivíduos com varíola: febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas durante os primeiros cinco dias. Erupções cutâneas (na face, palmas das mãos, solas dos pés), lesões, pústulas e, ao final, crostas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os sintomas da doença duram de 14 a 21 dias. Muitos casos não tem apresentações clínicas (assintomático).
Prevenção - De acordo com o Instituto Butantan, entre as medidas de proteção, autoridades orientam que viajantes e residentes de países endêmicos evitem o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas) e devem se abster de comer ou manusear caça selvagem.
Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes ferramentas para evitar a exposição ao vírus, além do contato com pessoas infectadas.