Carta Z
À primeira vista, Bruno de Luca leva uma vida invejável. Há 10 anos à frente do "Vai Pra Onde?", do Multishow, o apresentador já conheceu e desbravou diversos países, como Tailândia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos e Índia. Não é à toa que, constantemente, é questionado nas ruas sobre ter o "melhor emprego do mundo". Ainda assim, ele procura não se deslumbrar e nem glamourizar a vida movida pelos roteiros internacionais. Entre festas, cenários deslumbrantes e museus, Bruno destaca o complicado trabalho de pré e pós-produção. "Quem fala isso fica de mau humor no meio da viagem e quer voltar logo. Já vi muita gente que viajou comigo desistir e não continuar fazendo o programa. Não é tão fácil quanto parece. No ar e editado é bem legal. Mas é difícil passar 20 dias longe de casa e trabalhando", explica ele, que atualmente está no ar com a nova temporada gravada em Cuba. "É um povo muito acolhedor. Foi muito louca a viagem. É um país com muita cultura e história", completa.
Durante o período em que esteve gravando em Cuba, Bruno se impressionou com a restrita conexão de internet. Para conseguir acessar sites e redes sociais, precisava ir até determinados pontos de acesso. "Eles têm uns pontos que funcionam na frente de um supermercado, por exemplo. Você compra um cartão e eles dão uma senha e um login. Existem aglomerações em determinados pontos de gente usando a internet. É muito recente e muito fraca", ressalta ele, que também lançou uma web tevê. "É um projeto pelo qual estou apaixonado. É um canal com muito conteúdo jovem. Estamos investindo em uma tecnologia incrível", valoriza.
P – Este ano, o "Vai Pra Onde?" completa 10 anos na grade do Multishow. Qual o balanço que você faz do programa até agora?
R – Tenho muito orgulho do "Vai Pra Onde?". Comecei sozinho e sem dinheiro para contratar um câmera ou um editor. Fiz curso de edição para poder editar e apresentar o projeto para o Multishow. O programa está no ar há 10 anos e isso é muito difícil hoje em dia. Acho que as pessoas gostam do formato descontraído da produção. Tento passar a informação de uma maneira leve e não fazer um programa vazio. Nesses 10 anos, trabalhei em vários programas, como "Domingão do Faustão", "Vídeo Show" e outros projetos no próprio Multishow. Mas o "Vai Pra Onde?" continua lá firme e forte.
P – Como funciona a seleção dos destinos do programa?
R – A escolha é bem aleatória. O Guilherme Zattar (diretor do Multishow) escolhe os destinos da cabeça dele. Não temos muito critério. Cuba, por exemplo, era um local que eu estava louco para ir. Fiquei seis meses esperando a autorização para a viagem. Eles são bastante controladores.
P – Como assim?
R – Durante as gravações, sempre ficava uma pessoa do governo acompanhando. Foi algo bem diferente do que eu estava acostumado. A moça do governo era muito gente boa, mas ficava ligada em tudo o que íamos falar. Mas não tivemos problemas porque o "Vai Pra Onde?" não é um programa de cunho político e sim de diversão e turismo. Não tínhamos a intenção de julgar ou comentar a política deles.
P – Ao longo da viagem, vocês passaram por algum imprevisto ou tiveram dificuldades para gravar algo?
R – O mais difícil foi gravar com o filho do Che Guevara, Ernesto Guevara. Íamos gravar um passeio de moto com ele, mas, quando chegávamos para fazer o passeio, ele estava sempre bêbado (risos). Não ia andar na garupa da moto dele com ele bêbado. Mas, no último dia, conseguimos gravar e deu tudo certo.
P – O Multishow é bastante conhecido por programas de viagens, como o "Lugar Incomum" e o "Anota Aí – Os 10 Mais". Como você busca diferenciar o "Vai Pra Onde?" das demais produções do canal?
R – Acho que o grande diferencial está na minha câmara de mão. Através dela, eu falo coisas que não falaria para um "camera man", por exemplo, e me permito mostrar certas intimidades. A câmara é um sinal de informalidade muito legal. Além disso, fiz coisas que um apresentador normal não faz no ar. Acho que fui o primeiro apresentador a aparecer bêbado (risos). Me filmei acordando, de ressaca e reclamando. Isso criou uma identidade com o público. Eles percebem que eu não estou simplesmente apresentando, mas também vivendo a viagem.