MARCELO TOLEDO/ FOLHAPRESS
O Brasil conseguirá encontrar alternativas para a carne bovina que os Estados Unidos deixaram e deixarão de comprar nos próximos meses, após o anúncio do tarifaço feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
A afirmação é do consultor Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, que ainda avalia que o preço da arroba bovina seguirá em alta nos próximos anos apesar da possibilidade de retração nos embarques para o segundo principal comprador da carne de boi brasileira. O primeiro é a China.
As tarifas extras já impostas derrubaram a venda de carne bovina brasileira para os americanos antes mesmo do início da vigência da sobretaxa de 50%, prevista para valer a partir de 1º de agosto.
Em abril, mês em que Trump passou a impor a taxação adicional de 10%, as exportações brasileiras de carne para os EUA chegaram a 47,8 mil toneladas, mas desde então houve seguidas quedas, até atingir 9,7 mil toneladas neste mês, até o momento.
“Apesar dessa bronca toda, a gente bateu recorde de exportação nas primeiras três semanas de julho. Ou seja, o fluxo de mercadoria para o exterior não foi afetado. Somente 2% do que a gente produz vai para os Estados Unidos. A gente consegue com o tempo mudar o destino dessa carne ou, melhorando o poder aquisitivo do brasileiro, isso fica aqui no mercado interno mesmo”, afirmou o consultor.
Dados da consultoria apontam que há plantas que alteraram escalas de abate e até mesmo colocaram parte de seus empregados em férias coletivas devido às incertezas que o tarifaço tem gerado no setor
Isso se explica, na avaliação de Torres, pela rapidez na tomada de decisões que o setor tem atualmente. “[O mercado] fica na retranca, aguardando.”
Estudo do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP), também aponta cenário semelhante à projeção de Torres: embora os embarques para os Estados Unidos estejam em queda, as exportações totais de carne bovina brasileira seguem fortes, com junho registrando o segundo melhor resultado do ano. Houve alta nos embarques principalmente para a China, mas também para outros países.
Esse fluxo, na avaliação do pesquisador do Cepea Thiago Bernardino de Carvalho, sinaliza que frigoríficos brasileiros “têm possibilidade de ampliar suas vendas em outros mercados, ainda que haja dificuldade quanto ao ajuste de cortes demandados”.