Gabriel Faria
Embrapa Agrossilvipastoril
Uma pesquisa em andamento no município de Terra Nova do Norte está levando esperança aos produtores de maracujá de Mato Grosso e reativando a cultura no estado. O trabalho, conduzido em parceria entre Embrapa e a cooperativa Coopernova, valida a resistência à fusariose de maracujazeiros enxertados. Causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. passiflorae, a doença atinge as raízes e mata as plantas em poucos dias, inviabilizando o cultivo em áreas infectadas.
Dados preliminares mostram que ao menos um dos três porta-enxertos utilizados tem se mostrado resistente à doença nas condições climáticas e de solo daquela região. Enquanto as plantas cultivadas sem enxertia (pé-franco) morreram e algumas das enxertadas em Passiflora alata e Passiflora gibertii também já apresentaram o problema, todas as plantas enxertadas em Passiflora nitida permanecem vivas, sem sintomas e produzindo bem.
O resultado é um alívio para os produtores, uma vez que a fusariose praticamente inviabilizou a cultura do maracujá na região de Terra Nova do Norte. Entre 2008 e 2009, mais de 300 cooperados produziam maracujá. A produção era vendida in natura ou processada na agroindústria da cooperativa. Em dois anos, cerca de 90% dos produtores abandonaram a atividade devido aos problemas com a doença. O prejuízo com a perda do investimento se somou a uma capacidade ociosa de cerca de 85% da indústria de beneficiamento da Coopernova.
A solução foi encontrada em uma técnica de enxertia de maracujazeiro desenvolvida há cerca de 15 anos. Responsável pela inovação, o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Givanildo Roncatto explica que, diferentemente de outras espécies como mangueira e citros, por exemplo, a enxertia no maracujá não depende da retirada de galhos de plantas adultas.
"Na fase de viveiro se utiliza 100% de mudas jovens. Você produz tudo por semente, não só o porta-enxerto, mas também a planta que vai dar origem à copa. As plantas jovens não possuem caule oco, como as adultas. O caule oco é um problema, pois a planta enxertada não vinga”, explica Roncatto.
O diretor técnico da Coopernova, Carlos Távora, foi quem começou a coletar e multiplicar as sementes do maracujá silvestre, que depois veio a ser identificado como Passiflora nitida. Ele utilizou as mudas como porta-enxerto e, desde então, com apoio da Embrapa, vem desenvolvendo testes em viveiro e no campo. Os bons resultados levaram ao retorno do interesse dos agricultores.
Atualmente cerca de 90 agricultores voltaram ao cultivo do maracujá. Todos eles utilizando as mudas enxertadas produzidas no viveiro da Coopernova. De acordo com Távora, a demanda dos cooperados chega a 40 mil mudas por ano, três vezes maior do que a capacidade de produção.
“Se a gente tiver condições de atender às demandas dos produtores, não só da região, como do estado, a tendência é de um aumento progressivo não só da área, como também da produtividade de maracujá no estado. A fusariose tem sido uma limitação por provocar alta mortalidade de plantas. Como na enxertia nós praticamente zeramos essa mortalidade, a tendência é de aumento”, prevê Carlos Távora.
A pesquisa conduzida pela Embrapa em Terra Nova do Norte ainda está em andamento e só terá dados finais sobre produtividade após o fim do ciclo de dois anos. Entretanto, avaliações feitas pela equipe da Coopernova demonstram que os pés enxertados são mais produtivos do que os pés-francos.
Em áreas já com três anos de produção, observou-se que no primeiro ano os pés-francos produzem mais. No segundo ano há um equilíbrio e no terceiro as plantas enxertadas produzem mais. A maior longevidade das plantas é outro aspecto ainda em avaliação, mas a equipe da cooperativa já está estendendo de dois para três anos o ciclo da cultura.