Kassiana Bonissoni/ Assessoria
Mato Grosso é o grande protagonista e berço da pecuária brasileira, detendo o maior rebanho bovino do País. De janeiro a agosto deste ano, por exemplo, o Estado foi responsável por 3,2 milhões de animais abatidos. Diante dessa importância do setor, em setembro a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) realizou o seu I Encontro Técnico de Pecuária, em parceria com a Acrimat e Imac. “Eventos como esse são fundamentais para a cadeia”, conforme destaca o zootecnista e pesquisador de Pecuária de Corte da instituição, Thiago Trento.
Uma das palestrantes do evento, Monique Melânia Kempa, coordenadora da inteligência de mercado do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), há muitas oportunidades para o curto e médio prazo para a bovinocultura de corte no Estado, porém, para ser ainda mais eficiente é preciso superar alguns desafios diante das oscilações do mercado.
Em relação ao cenário de ofertas, tem-se observado uma mudança de ciclo pecuário. O ano de 2021 foi marcado por um período de retenção de fêmea, o maior dos últimos dez anos, que auxiliou o preço da arroba a permanecer em elevados patamares. Contudo, segundo a especialista, desde o final do ano passado é notada uma mudança desse ciclo pecuário, que tem se confirmado a cada mês de 2022. “Agora é um período de maior oferta de mercado, isso traz uma maior disponibilidade de carne e consequentemente causa uma pressão para os preços da arroba”, diz.
Em relação ao abate de bovinos, em 2022 houve incremento de mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a agosto). Esse aumento vem principalmente do abate das fêmeas, que cresceu nesses meses quase 12%, um indicativo de virada de ciclo. Outro indicativo está nos preços de reposição em Mato Grosso, que estão recuando desde o final do ano passado, algo que também indica uma maior oferta no mercado. “Tudo indica que a bovinocultura está passando por um processo de mudança, com maior oferta e consequentemente isso traz uma maior pressão sobre os preços”, acrescenta Monique.
Desafios
O principal desafio para os pecuaristas vai ser em relação ao custo de produção, neste ano há uma estimativa de crescimento de 37% para cria, 19% para recria e engorda e 29% para o ciclo completo. O aumento é significativo e traz atenção para o produtor, que precisa ter os seus custos calculados e se proteger no mercado futuro para não ficar refém das oscilações do mercado, já que há previsões de que 2023 seja um período de maior oferta no mercado.
Já em termos de demanda, é preciso uma contextualização sobre o que fica dentro de Mato Grosso, o que vai para outros estados e o que segue para exportação. “Basicamente, nos últimos anos, sempre vimos um cenário de 80% ficando no mercado interno e 20% indo para exportação. Já com a entrada mais forte da China no mercado, em 2021 já vimos um cenário diferente, com 65% ficando no mercado interno e 35% seguindo para exportação”, destacou a coordenadora.
Para 2022, com a China mais forte ainda no mercado, 40% está sendo estimado para exportação e 60% para o mercado interno. Outro fator de impacto desse cenário é com relação ao consumo per capita de carne bovina do brasileiro, o qual está caindo. A Conab está estimando 24,8 quilos por ano, ou seja, o menor consumo per capita dos últimos dez anos. Esse número vem diminuindo desde o começo da pandemia, com a desaceleração econômica. Como 2022 não teve entrada de auxílios do governo, houve retração de quase 11% em relação a 2021.
Existem, ainda esse ano, alguns eventos que podem auxiliar na demanda da carne bovina. Entre eles estão as eleições que injetam mais dinheiro na economia e para novembro a Copa do Mundo que pode auxiliar com mais confraternizações e aumento do consumo doméstico. E dezembro, que é sazonal, com as festividades de final de ano e a entrada do 13º salário, também podem contribuir na demanda. “A expectativa é de que se houver uma recuperação econômica em 2023, aliada à perspectiva de maior oferta de carne, podemos ter um potencial de melhora na demanda doméstica, mas ainda está um cenário bem nebuloso”, conclui Monique.
Área de pesquisa importante
Para enfrentar esses desafios, Trento afirma que a Fundação MT, que é referência em pesquisas agronômicas, possui agora uma área de estudos em pecuária. “Dessa forma é importante divulgar informações de pesquisas em desenvolvimentos e finalizadas, para que o pecuarista possa replicar isso em sua fazenda e assim alavancar sua produtividade individual e por área, sem a necessidade de agredir o meio ambiente, ou seja, sem abrir novos pastos”, finaliza.