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Artigo Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2019, 00:00 - A | A

25 de Fevereiro de 2019, 00h:00 - A | A

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O Caminho da Simplicidade



Todos temos um grau de acumulador. Essa patologia, quando radical, é muito importante e deve sempre ser acompanhada de tratamentos. Mas nós Ocidentais somos, seja em maior ou menor grau, um pouco acumuladores.
A nossa forma de pensar, viver e agir no mundo vem dos povos do deserto, povos que lidavam com constante escassez. Imagine-se em um deserto todos os dias do ano, durante vários anos, buscando água, morrendo de fome, passando pelo frio da noite e pelo calor intenso do dia. Os povos do deserto, guerreiros, conviviam com uma gigante necessidade. 
Mesmo depois do deserto, o Ocidente viveu duas grandes Guerras, que também nos colocaram em condições de escassez e de extrema necessidade. O Ocidente viu sua sociedade retornar ao deserto, só que desta vez, um deserto de escombros, destruição e falta de suprimentos. Não é à toa que os nossos familiares mais antigos têm uma tendência maior em estocar comida. 

Atualmente, o próprio Capitalismo, a partir do pensamento de Max Weber e Walter Benjamin, utiliza esse sentimento de escassez e de necessidade que foi gerado há séculos. Esse sentimento nos impulsiona a cada vez mais acumular. E não importa se é dinheiro, roupas, crushes, fotos, drogas, curtidas nas redes sociais, etc.. Em um sentido mais amplo, a humanidade inteira faz isso com o planeta Terra, usurpando todos seus recursos. 

Na verdade, nós precisamos acumular para tentar tapar o buraco que nós sentimos em nossa alma. Esse buraco é tanto uma herança milenar dos povos do deserto, quanto nossos complexos e frustrações do cotidiano e de nossa história de vida. Ele é filo e ontogenético. 
Há esperança? Muitas pessoas estão tentando fazer o caminho inverso, buscando uma maneira de viver mais simples. Os depoimentos apontam que esta nova forma de viver é libertadora. Mujica é um desses exemplos, entrando e saindo da presidência com seu fusquinha. 
A liberdade que se experimenta ao tomar essa atitude de vida é porque, no fundo, não somos nós que temos coisas, são as coisas que nos tem. 
Esse caminho, o da simplicidade, pode ainda auxiliar na preservação do planeta. Se nós não formos mais conscientes ao utilizar os recursos naturais, nós, no fim, transformaremos tudo em um grande deserto.
 
*Leonardo Torres, 28 anos, Palestrante, Professor e Doutorando de Comunicação e Cultura. 

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