FÁBIO HENRIQUE ALVES
Maquiavel, em sua obra prima “O PRÍNCIPE” explica que a ascendência ao poder ocorre ou com armas alheias ou com as próprias, pela sorte ou pelo valor. Analisando o caso do governador Pedro Taques, ninguém dúvida que o mesmo chegou com as próprias armas. Portanto chegou pela virtù.
Deixou a carreira no Ministério Público Federal, onde com brilhantismo exerceu o cargo de Procurador da República por 15 anos. Renunciou ao cargo vitalício, filiou-se ao PDT e em 2010 com 708.440 votos se tornou Senador da República. A coligação que deu sustentação a sua eleição foi formada pelo PDT, PPS, PSB E PV.
Ninguém por mais virtuoso que seja, chega ao poder sozinho. Política se faz em grupo. É inegável que neste contexto tiveram papel de importância impar três políticos: Percival Muniz, atualmente prefeito de Rondonópolis; Otaviano Pivetta, atualmente prefeito de Lucas do Rio Verde e Zeca Viana, deputado estadual em seu segundo mandato.
No Senado, Taques foi muito bem. Ganhou o respeito dos seus pares e o reconhecimento nas ruas pelo trabalho realizado. Ganhou diversos prêmios pela atuação legislativa, como destaque para o Congresso em Foco e Diap, que escolhem os “cabeças” do Congresso, ou seja, parlamentares que conseguem se diferenciar dos demais e por isto são considerados mais influentes.
Importante destacar que no meio de gigantes da política nacional, Taques demonstrou uma destreza política notável, ao ponto de naturalmente passar a integrar o chamado alto clero da política nacional, e começar a ser cogitado para disputar a Presidência da República.
Conseqüência do trabalho realizado, o reconhecimento popular se expressou nas urnas em 2014, sendo eleito Governador de Mato Grosso no primeiro turno com 833.788 votos, o que representou 57,25% dos votos válidos. Chamou a atenção da realeza tucana, e migrou do PDT para o PSDB.
Talvez por estar abarrotado com as tarefas que a gestão impõe ou mesmo por descuido, ou ainda pela mistura dos dois fatores, o Governador Taques negligenciou da parte política, e não notou que todo o grupo político de seus inimigos (Silval e Riva), acomodou-se em seu governo, sob as asas de seu vice-governador, no PSD, nascendo um “governo paralelo”.
Não precisa ser nenhum cientista político para notar, que pela movimentação política que vem ocorrendo, as labaredas do fogo amigo ganham o Palácio Paiaguás. Nem conheço a pessoa do vice-governador, portanto, não estou aqui a fazer qualquer juízo, positivo ou negativo. Porém pelas leis naturais do poder, o Governador Pedro Taques que como bom constitucionalista que é, ou coloca-se as coisas no lugar ou não terminará bem. Afinal como advertiu há tempos Maquiavel “Em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã”.
Esse amanhã, está com a cara de hoje. Alguns recentes episódios deixam bem claro que existe uma bifurcação no poder estadual. Já no Poder Legislativo paira um clima no mínimo nebuloso, com sinais de tempestade. Tempestade esta que só precisa de um último ingrediente: clamor popular.
Já entre os aliados de Taques, existem aqueles que preferem não ver, ao melhor estilo “marido traído”, e outra parcela crescente que está com aquele sentimento retratado na música “Eduardo e Monica” da banda Legião Urbana que diz “Festa estranha, com gente esquisita. Eu não tô legal”.
Fosse eu o Governador Pedro Taques, ajuntaria os meus e imediatamente promoveria mudanças no Governo. Terceirização política não existe. Não somente os aliados, mas a população costuma não entender esta cruza de cobra com jacaré. E as eleições municipais estão ai. Se cochilar, o recado da urna vai ser bem dolorido.
FÁBIO HENRIQUE ALVES, advogado especialista em direito eleitoral, membro do IF - Instituto Federalista, e-mail:[email protected]