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Artigo Segunda-feira, 21 de Novembro de 2016, 00:00 - A | A

21 de Novembro de 2016, 00h:00 - A | A

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Valores trocados



Jairo Pitolé Sant'Ana

Na quinta-feira, dia 17, foi comemorado o Dia Mundial em Memória às Vítimas do Trânsito. Os números são assustadores. Cerca de 1,2 milhão de pessoas morrem anualmente em todo o mundo por este motivo o Brasil, com 45 mil acidentes fatais, fica em terceiro lugar no ranking mundial.
Na América Latina, onde basicamente todas as montadoras de veículos são americanas, europeias ou asiáticas, o número de mortes em acidentes de trânsito ultrapassa 130 mil anuais, com uma taxa de mortalidade quatro vezes maior do que a europeia.
Segundo matéria publicada no final de outubro no jornal espanhol El País, com base em um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), se as mesmas normas e sistemas de segurança semelhantes aos carros europeus e americanos fossem aplicados na América Latina, 40 mil mortes (34 mil apenas no Brasil) em acidentes de trânsito poderiam ser evitadas nos próximos 15 anos.
Além de 40 mil mortes a menos, a adoção de medidas semelhantes à da União Europeia evitaria 400 mil feridos no Brasil, Chile, Argentina e México entre 2016 e 2030 e economizaria 143 bilhões de dólares, quase equivalente ao déficit do orçamento brasileiro deste ano.
Nem as crianças escapam deste sinistro distanciamento entre o que se pratica em países chamados ricos e a mórbida realidade de países pobres ou em desenvolvimento. Ainda segundo o El País, a também espanhola Fundação Mapfre divulgou paralelamente ao estudo do BID um relatório sobre segurança infantil na América Latina.

Mais de 5.000 crianças, até 14 anos, morrem a cada ano em acidentes de trânsito na região, com México e Brasil respondendo por cerca da metade dos casos nos 18 países analisados. Segundo o trabalho, todos os países estudados possuíam lacunas em suas legislações sobre o uso obrigatório das cadeiras para crianças.
A situação global vai pelo mesmo (mal) caminho. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), menos da metade dos países possui legislação sobre segurança viária, enquanto apenas 15% possuem leis consideradas completas e somente um terço trabalha com uma estratégia nacional de segurança viária patrocinada e apoiada pelo governo.
(Enquanto nos EUA e na Europa, a obrigatoriedade do airbag duplo e do freio ABS começou, respectivamente, em 1995 e 1998, no Brasil a exigência só passou a existir a partir de 2014. Isto é, quase duas décadas depois dos Estados Unidos e 16 anos depois da Europa. Quase uma geração. Mesmo assim, depois de muitos adiamentos oficiais).
A inércia governamental se amplia na falta de educação sobre o trânsito na escola e se alia à má formação de condutores. Segundo José Aurélio Ramalho, do Observatório Nacional de Segurança Viária, a maioria das pessoas, no Brasil, só toma contato com palavra trânsito, quando vai tirar carteira de habilitação. "Mesmos as bicicletas não são pensadas como meio de transporte para as crianças, mas como um brinquedo".
Ele critica também a formação do condutor. "Se você perguntar a um motorista, o que acontece se ele andar sem cinto de segurança ou em alta velocidade, a resposta mais frequente é "vou ser multado". Ou seja, as orientações que lhe são repassadas enfatizam a quantidade de pontos e o valor da multa, mas não se preocupam com os riscos de morrer, matar ou ferir alguém.

Jairo Pitolé Sant"na é jornalista e-mail [email protected]

 

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