Jornal Mato Grosso do Norte
José Vieira do Nascimento
Editor de Mato Grosso do Norte
O médico cirurgião geral, Dr. Mário Nishikawa, é um dos pioneiros mais ilustre de Alta Floresta e não se cansa de exaltar seu amor pela terra que lhe acolheu no final da década de ‘70’. É, sobretudo, um homem de grandes ideias, que defende causas nobres e seu grande sonho é ver Alta Floresta brilhar como uma estrela de primeira grandeza no céu do norte de Mato Grosso.
Seu nome já foi lembradopara exercer cargos públicos, mas sua opção é atuar nos clubes sociais, ajudando a comunidade e contribuindo com causas relevantes, como o projeto da Hidrovia Teles Pires Tapajós, que é plausível, deve ser concretizado e fazer parte do futuro das novas gerações.
Em Alta Floresta desde 1979, o médico foi um dos maiores colaboradores para o crescimento da cidade
Dr. Mário conta que inaugurou o Hospital Geral em janeiro de 1981. Não foi fácil construir um hospital numa cidade inserida no meio da floresta amazônica. No entanto, as dificuldades não foram motivos para desistência. E a partir de seu funcionamento, boa parte das crianças que hoje são adultos, nasceram no Hospital Geral.
Ele relembra que na época da sua construção, no 2º semestre de 1979, o local destinado ao Hospital Geral era mata nativa.
“Solicitamos a derrubada da mata. Porém a grande maioria do maquinário pesado da Indeco, estava abrindo estradas em Paranaíta e não foi possível devido ao início do período chuvoso. Na época, havia falta de materiais de construção, não havia telefonia, dependíamos de rádios de raras empresas comerciais para comunicação, falta de mão de obra, principalmente após a eclosão da atividade garimpeira. Enfim, havia muitas dificuldades”, rememora o médico.
Conforme Dr. Mário, exercer a medicina naquela época era difícil e necessitava de sacrifícios pessoais e heroísmo, devido a carência de profissionais de diversas especialidades. Faltavam exames laboratoriais especializados e mais sofisticados, banco de sangue, tomografia computadorizada, anestesista e muitas outras carências.
“Haviam doentes em grande número, devido ao grande fluxo de garimpeiros, muita malária e doenças infectocontagiosas, muita violência, tais como ferimentos de armas de fogo, de armas brancas, acidentes etc.”, conta.
Mas, mesmo diante deste quadro inóspito, o médico reitera que graças ao preparo e eficiência da pequena equipe do hospital, com residências médicas e pós graduações, os trabalhos transcorriam e a população era assistida na área de saúde.
“Nossa equipe era formada por Dr. Júlio como ginecologista e obstetra, além do preparo para exercer funções de anestesista (devido inexistência de especialista na cidade); Dra. Ení como pediatra e berçarista; Dr. Mário como cirurgião geral e Dr. Sushumu como clínico. Tivemos bons resultados nos tratamentos. Como exemplo, em mais de 3 décadas, das centenas de pessoas operadas com ferimentos graves, muitos deles chocados (pressão arterial zero), com anemia aguda devido ferimentos por armas de fogo ou armas brancas, a maioria absoluta foi salva e com sucesso. Raríssimos pacientes tiveram insucesso (menos de cinco)”, observa.
Naquela época, segundo ele, a solidariedade era uma característica marcante do povo de Alta Floresta, que se prontificava a doar sangue sempre que havia necessidade.
“O pronto- atendimento dos alta-florestenses, previamente cadastrados, às solicitações emergenciais de doação de sangue, foram fundamentais neste sucesso para salvar vidas. E Graças a Deus, muitas pessoas foram salvas, estando em situações graves", diz.
Alta Floresta está completando 41 anos e o Hospital Geral, há 36 anos, faz parte da história do município. No decorrer destas décadas, se transformou em uma importante referência em Saúde na região. Seu fundador, mesmo septuagenário, continua atuante profissionalmente, como um dos médicos mais conceituados de Mato Grosso, e também como cidadão, tanto nas áreas sociais, como na participação em questões inerentes aos processo de crescimento do município.
Mato Groso do Norte- O QUE ACHA NECESSÁRIO PARA ALTA FLORESTA se CONSOLIDAR COMO CIDADE POLO?
DR. Mário- Pela localização geográfica, sendo naturalmente polo de vários municípios com terras produtivas, riquezas naturais, rios piscosos com belezas cênicas e biodiversidade com grande potencial turístico (com uma ressalva: é urgente proibir garimpagem de minérios nos leitos dos rios), flora com grande perspectiva para produtos farmacêuticos e cosméticos, riqueza mineral, e grande potencial humano, visando otimizar e verticalizar crescimento agropecuário/florestal/industrial sustentável, criando oportunidades para prestação de serviços, comércio, escolas de ensino fundamental, de segundo grau, escolas técnicas e faculdades com potencial para tornar-se importante polo universitário, Alta Floresta caminhará gradativamente para tornar-se um importante centro de referência.
Mato Grosso do Norte - que investimentos o senhor acha que devem ser priorizados?
Dr. Mário - Para que o crescimento e desenvolvimento aconteçam, em primeiro lugar há necessidade prioritária de investimento em educação, que não é só construir escolas. Na nossa visão, vendo o atual ensino nas escolas públicas, achamos lamentável o baixo nível. Sem bom nível de conhecimento, o jovem não consegue ocupar bons cargos no mercado de trabalho e nem participar como ator da evolução tecnológica necessária para escalada rumo ao seleto grupo de países do primeiro mundo. É preciso investir na qualidade de ensino, investir no melhor preparo dos professores, é preciso implantar a meritocracia, reconhecendo e valorizando os bons professores e não aceitar o nivelamento de todos no baixo patamar. É preciso resgatar o respeito que os alunos devem ter com os professores. Resgatar o civismo, o respeito que cada cidadão deve ter com o próximo e com a nação. É preciso mudar. Com urgência. Por que não começar agora em Alta Floresta os debates sobre este assunto?
Mato Grosso do Norte- E no que se refere a infraestrutura?
Dr. Mário- Há necessidade de investimentos em logística de transportes, tanto rodoviário quanto ferroviário, hidroviário e aéreo na nossa região. Interligar com Alta Floresta municípios de toda esta grande região de influência localizados a oeste e daqui para os corredores maiores a leste (como a BR-163), encurtando a distância aos portos paraenses de Miritituba e Santarém. Não podemos esquecer também de viabilizar ferrovias, que deverão passar próximas daqui; viabilizar hidrovias, apesar de termos desperdiçado oportunidades pela falta de empenho do Congresso Nacional em aprovar Lei de Obrigatoriedade de construção de eclusas em rios navegáveis e rios potencialmente navegáveis. Um Projeto de Lei do Senado de 1997, estratégico e de fundamental importância para o Brasil ganhar competitividade, demorou mais de 17 anos para tornar-se Lei, sendo sancionada em 02 de janeiro de 2015 pela presidente Dilma, infelizmente sem validade para as hidrelétricas Teles Pires e São Manoel e outras cujas obras estavam em execução ou com projetos aprovados. A Comissão Pró-Hidrovia Teles Pires/Juruena/Tapajós, da Família Rotária de Alta Floresta (Rotary) trabalhou firme nessa questão vários anos. Enfrentou enormes dificuldades, muitos e grandes interesses contrários, conscientizou e chamou atenção das autoridades e das classes produtoras para a importância deste modal de transporte para ganho de competitividade, evoluindo para estudos e projetos para viabilização da nossa hidrovia, sendo emperrada pelas questões ambientais, pelas ações judiciais patrocinadas pelas ONGs defendendo interesses contrários e pelas mudanças de projetos de governos. Na sequência, em 2009, o Movimento Pro-Logística, liderado pela APROSOJA, aglutinando várias associações de classe e entidades como FAMATO, FIEMT, FECOMERCIO, ACRIMAT, Associação Matogrossense de Municípios, tendo Edeon Vaz Ferreira como secretário-executivo, vem batalhando, também com dificuldades, para nosso estado conquistar obras infraestruturais, visando melhorar a logística de transportes.
Mato Grosso do Norte - COMO VÊ ALTA FLORESTA NO FUTURO?
Dr. Mário- Alta Floresta, na nova era de diversificação da sua base econômica e com a gradativa chegada da agricultura de grande escala, terá ciclo sólido e duradouro para consolidar-se como grande polo regional de desenvolvimento.