Dionéia Martins/ MATO GROSSO DO NORTE
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso está dando um passo importante no combate à violência de gênero. Em meio a números alarmantes, 32 feminicídios registrados só neste ano, a instituição lança, ainda em agosto na capital, o projeto FloreSer, voltado à prevenção da violência contra mulheres desde a adolescência.
O foco da iniciativa é mudar a cultura machista enraizada que, muitas vezes, começa a se manifestar ainda nos primeiros relacionamentos amorosos. É o que explica a promotora de Justiça, Claire Vogel Dutra, coordenadora do Núcleo das Promotorias de Justiça Especializadas no Enfrentamento da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá.
“A ideia é atuar na base. Trabalhar com adolescentes antes que a violência aconteça, antes que esses comportamentos nocivos se cristalizem. O objetivo é fomentar uma cultura de respeito e igualdade desde cedo”, afirma a promotora.
O nome do projeto — FloreSer — chama atenção à primeira vista não por acaso. “A gente tem o Observatório Caliandra e agora o FloreSer. Tudo isso remete à flor, à mulher. E o 'ser' é o adolescente, é o jovem que ainda está em construção. A proposta é que ele floresça com uma mentalidade diferente da que aprendeu em um ambiente, muitas vezes, violento”, explica Claire.
Prevenção - Enquanto a legislação brasileira endurece as penas para crimes como o feminicídio, o projeto aposta na prevenção como caminho mais eficaz para reduzir as estatísticas. Como reforça a promotora, a punição não tem o poder de reparar o que foi perdido.
“A pena alta é importante, sim. Mas ela não traz a vítima de volta. Não devolve uma mãe aos filhos órfãos do feminicídio, que já somam 54 órfãos só neste ano. Por isso, precisamos parar de tratar só as consequências e começar a agir antes. Trabalhar a prevenção é urgente”, pontua.
Nesse sentido, o FloreSer vai atuar diretamente com alunos do primeiro e segundo ano do Ensino Médio da rede estadual. Em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), equipes do Ministério Público formadas por psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, que vão visitar escolas para promover rodas de conversa com os estudantes.
“Não é palestra, é diálogo. A gente quer ouvir esses jovens, entender o que eles veem e vivem, para que possamos desconstruir juntos essa cultura de violência, que muitas vezes, se aprende dentro de casa. A ideia é criar um espaço seguro de escuta e reflexão”, explica Claire.
Inicialmente, o projeto vai contemplar cerca de dois mil alunos. O trabalho será feito em grupos pequenos, para que haja tempo e espaço para aprofundar as discussões. A expectativa é que o FloreSer se estenda por um ano e meio, com ações previstas até o fim de 2026.