foto Lucas Eduardo da Silva

Nesta semana, uma expedição do Projeto Looking for Jaguars, realizada pela Fundação Ecológica Cristalino (FEC), trouxe novos avanços para o monitoramento da fauna na Amazônia Meridional.
Durante os três dias de atividades nas Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino, a equipe do projeto avistou uma onça-pintada (Panthera onca) na trilha da Castanheira, localizada nas proximidades do rio Cristalino.
De acordo com o biólogo Lucas Eduardo Araújo Silva, coordenador do projeto, o animal foi encontrado em comportamento tranquilo, permanecendo por mais de quatro horas no mesmo local, o que permitiu que a equipe técnica e os turistas presentes no Cristalino Lodge observassem o felino com detalhes.
"As imagens serão analisadas e há grandes chances de que seja um novo indivíduo, possivelmente a oitava onça-pintada a ser monitorada pelo projeto", explicou.
Intensivo monitoramento e diversidade de registros
Durante os três dias de campo, a equipe percorreu 28 km pela Floresta Amazônica, cobrindo 9 trilhas em jornadas de 10 horas diárias. Foram coletados cartões de imagens de 17 câmeras trap instaladas estrategicamente nas RPPNs Cristalino, que ajudarão a ampliar o banco de dados sobre a fauna local.
Diversos outros animais também foram avistados durante a expedição, incluindo lontras, capivaras, jacarés e aves, reforçando a diversidade da região. Participaram da expedição as biólogas e assistentes de projetos fa FEC: Alicia Marques e Suesly Habowski. A época de seca foi apontada como a ideal para observação da fauna na Amazônia, pois os animais tendem a se deslocar mais em busca de alimentos e água.
Pesquisa reforça tranquilidade dos carnívoros na presença humana
O comportamento despreocupado da grande felina avistada é respaldado pelo estudo realizado no âmbito do projeto, conduzido pela Fundação Ecológica Cristalino em parceria com o Laboratório de Mamíferos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Segundo o trabalho desenvolvido pelo biólogo Emanuel Cerqueira Bonin Melgar, as trilhas das RPPNs têm sido intensamente usadas por mamíferos de médio e grande porte, mesmo em áreas de alta visitação humana.
A pesquisa fez parte de seu trabalho de conclusão de curso em Ciências Biológicas da UFMT e apontou que grupos menores de turistas não causam perturbações significativas aos animais.
foto Lucas Eduardo da Silva

O estudo também identificou variações no comportamento de espécies conforme o nicho trófico:
- Herbívoros: Preferem áreas com maior presença humana, mas evitam a aproximação de grupos grandes. •
Onívoros : Apresentam seletividade em relação ao tamanho dos grupos. •
Carnívoros: Não demonstram ser afetados pela presença humana, explorando as trilhas inclusive à noite.
Essas descobertas ressaltam a plasticidade comportamental da fauna e sua capacidade de coexistência com a presença controlada de humanos.
No entanto, o monitoramento contínuo foi apontado como essencial, especialmente em função do crescimento do ecoturismo, que pode aumentar tanto a frequência quanto o tamanho dos grupos nas trilhas.
Monitoramento para a conservação
O projeto Looking for Jaguars da FEC tem como principal objetivo estudar e monitorar as onças-pintadas e outras espécies nas RPPNs Cristalino, proporcionando dados fundamentais para o manejo de áreas de conservação e o equilíbrio das interações entre humanos e fauna.
A coleta das imagens das câmeras e os registros de avistamentos diretos são essenciais para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade local e melhorar os planos de manejo em Unidades de Conservação.
foto Lucas Eduardo da Silva

A pesquisa desenvolvida sob a orientação da professora Dra. Viviane M. G. Layme e do biólogo Dr. Lucas Eduardo Araújo Silva reforça a importância da preservação da biodiversidade e da gestão sustentável para garantir o equilíbrio entre atividades humanas e a proteção da fauna amazônica.
O olhar atento a cada registro, como o avistamento da onça-pintada na trilha da Castanheira, continua a lembrar da necessidade de conciliar ecoturismo e preservação ambiental nas unidades de conservação, assegurando que esses encontros se tornem cada vez mais uma celebração da coexistência entre o homem e a natureza.
foto Lucas Eduardo da Silva
