Dionéia Martins
Mato Grosso do Norte
No dia 30 de junho, em Campinas (SP), o pesquisador mato-grossense Wagner Gervazio lançou seu terceiro livro: A Dialética da Sustentabilidade. Nascido na zona rural de Alta Floresta, Wagner é o primeiro dos cinco irmãos a ingressar na universidade. Sua trajetória, marcada pelo trabalho na Agricultura Familiar e pela militância em comunidades de base, inspira uma análise crítica e comprometida da sustentabilidade.
Crescido entre os cafezais da região conhecida como Segunda Sul, Wagner começou a trabalhar na roça aos 11 anos. Com a crise do café nos anos 1990, a família migrou para o cultivo de culturas anuais como algodão, arroz e feijão, em meio a dificuldades e poucas oportunidades.
“Minha vivência no campo me despertou para uma consciência crítica. Vi o impacto dos agrotóxicos, a destruição ambiental e comecei a buscar alternativas mais justas e sustentáveis”, conta. Esse despertar o levou à Agronomia, curso que cursou na UNEMAT [Universidade Estadual de Mato Grosso], conciliando com o trabalho como professor e as atividades pastorais.
No doutorado, Wagner estudou dois assentamentos no Portal da Amazônia. A partir dessa experiência, construiu a base de A Dialética da Sustentabilidade, que agora se transforma em um livro acessível ao público geral. “Quero dialogar com quem vive os desafios da sustentabilidade. O conhecimento precisa sair da universidade e retornar às comunidades que o inspiraram.”
No livro, Wagner propõe uma leitura crítica do conceito de sustentabilidade, denunciando sua apropriação esvaziada por empresas e governos. “Transformaram o termo em slogan. A sustentabilidade virou um rótulo, sem enfrentar as causas reais da crise ambiental e social”, afirma.
Segundo o autor, a crise atual exige novos paradigmas, como o Bem Viver indígena e a Agroecologia, que propõem uma convivência harmônica com a terra e rompem com a lógica da exploração infinita.
Em sua pesquisa, viu de perto práticas sustentáveis nos assentamentos: uso de sementes crioulas, recuperação de áreas degradadas, proteção de nascentes e produção sem veneno. “A sustentabilidade ali é vivida, não teorizada”.
Para fortalecer essas iniciativas, ele defende políticas públicas estruturantes, como o Plano Nacional de Agroecologia, assistência técnica emancipadora e escolas do campo com foco territorial. “Não basta incentivar a produção. É preciso garantir direitos, terra, educação e acesso à comercialização justa.”
Sobre o futuro da sustentabilidade no Norte de Mato Grosso, o autor é direto: “Está em disputa. De um lado, o avanço do agronegócio e da economia verde de mercado. De outro, as resistências camponesas e indígenas que constroem alternativas reais. A esperança está nessas práticas de cuidado, resistência e reconstrução do tecido socioecológico.”
Gracineide Aparecida Barbosa 07/07/2025
Excelente trabalho, continue em frente! Parabéns!!
WAGNER GERVAZIO 07/07/2025
Obrigado pela matéria.
2 comentários