por Hernando Calaza
Autocosmos.com/Argentina
Exclusivo no Brasil para Auto Press
A história da nova Fiat Titano remonta à aliança entre a chinesa Changan e a Peugeot, para criar respectivamente as picapes Hunter, vendida no país oriental, e a Landtrek, feita desde 2023 no Uruguai e vendida ainda no Chile e no México, entre outros países. Houve até planos para ser vendida na Argentina, mas o lançamento foi adiado por conta exatamente da ideia de promover um rebadge para criar a Titano. Com identificação da marca italiana, o modelo chegou tanto ao Brasil quanto à Argentina e logo a linha na fábrica da Nordex chegou ao limite. A Stellantis decidiu promover um investimento de US$ 385 milhões colocar o projeto em uma nova fase a partir de 2025: montar uma linha de produção na fábrica de Ferreyra, em Córdoba, para produzir não só Titano e Landtrek, mas também uma variante da RAM, que ainda será lançada.
Essa mudança coloca à disposição da Titano uma maior capacidade de produção. A ideia é sair da média de 700 unidades emplacadas por mês para brigar em volume no Brasil com Toyota Hilux, Chevrolet S10 e Ford Ranger, todas com média acima de 2 mil unidades/mês. Para isso, a Fiat quer se valer da tradição que tem em relação a picapes e também de uma motorização mais forte, para igualar a disputa. O motor BlueHDi, de origem PSA – que é usado, por exemplo, na van Peugeot Boxer, deu lugar ao Multijet II, de origem Fiat, já usado pela RAM Rampage.
Ambos têm 2.2 litros, mas a potência sobe de 180 para 200 cv e o torque vai de 40,8 para 45,9 kgfm na versão automática (na transmissão manual, manteve os 40,8 kgfm). O câmbio automático de seis marchas da Aisin também foi trocado por um ZF de oito velocidades com reduzida, mas agora o sistema 4X4 é on-demand. Com essas mudanças, a aceleração de zero a 100 km/h passou de longos 12,4 segundos para 9,9 s. A máxima passou de 175 para 180 km/h e o consumo caiu de forma importante: foi de 8,5 para 9,9 km/l na cidade e de 9,2 para 10,8 km/l na estrada.
Na experimentação feita a partir de Córdoba, versão avaliada foi a topo de linha Ranch. Todos as Titanas vêm com seis airbags, mas a Ranch adiciona faróis em LED e recursos ADAS como alerta de colisão, frenagem automática de emergência, sensor de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo. Tem ainda monitoramento de faixa, mas apenas com alerta, sem ação na direção. O painel de instrumentos é estranho, com os ponteiros invertidos e tela colorida de 7 polegadas, que dá boas informações, mas tem letras pequenas demais para quem já sofre com algum grau de presbiopia.
Por dentro, o design e o acabamento denunciam que não se trata de um original da Fiat. O design geral permaneceu inalterado em relação ao Landtrek, incluindo o volante e o painel de botões no estilo da Peugeot. Há muitos porta-trecos, incluindo um porta-luvas refrigerado e o espaço sob o apoio de braço. A tela principal é de 10 polegadas novamente no estilo Peugeot. A versão Ranch inclui GPS, câmera 360º e sempre espelhamento de Android Auto e Carplay sem fio. Há controles físicos para o ar duplo e vários botões de atalho para outras funções. Algo que denota a idade do projeto é que não há portas USB-C nem carregador sem fio.
Como o visual se manteve, as medidas também não mudaram. A Titano tem 5,33 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,86 m de altura e 3,18 de entre-eixos, com um peso total de 2.150 kg. A caçamba tem largura máxima de 1,60 m, com 1,20 m entre as caixas de roda, com 1,63 m de comprimento e 51 cm de altura, com capacidade de 1.220 litros e 1.020 kg de carga útil. Em relação às características para o off-road, o ângulo de ataque é 29º, o de saída, 27º e o ventral, 24º. A altura livre para o solo é de 23,5 cm.
Impressões ao dirigir
Elemento terra
O caminho do teste incluía passar por um rancho no meio das montanhas, onde foi possível fazer um pouco de off-road. Antes de começar, o posicionamento à direção é facilitado pelos ajustes de altura e profundidade do volante e bancos elétricos presentes na Ranch. Os retrovisores são grandes e o volante de dois raios é anatômico e revestimento em couro. O câmbio automático ZF de 8 marchas tem redutor BorgWarner, o mesmo usado no Jeep Wrangler. Neste caso, há também modos de condução, distribuição on-demand da tração entre os eixos, mas pode ser bloqueada em que 50/50, além de contar com travamento mecânico do diferencial traseiro. Dito isso, a Titano se move como qualquer picape com uma caixa de câmbio AT moderna. Engata e muda as marchas dando a sensação de escorregar um pouco, mas sem solavancos ou saltos.
Em uma rota especialmente organizada para a apresentação, o piso seco, com fundo duro sob a lama, facilitou o trabalho dos pneus mistos da Rancho. Em condições mais severas, certamente o 255/65 R17 das outras versões deve funcionar melhor. A Titano subiu, passou e desceu, neste último caso com o sistema de controle de descida bem eficiente. Por fim, a marca teve um pequeno trecho onde encarou um grau de inclinação lateral acima de 40º. A rigidez do chassi, das longarinas e das travessas permitiu que tanto as portas como a tampa traseira fossem abertas e fechadas normalmente, no ponto máximo de torção.
A direção tem assistência elétrica, mas não é leve demais, mas também não é direta. O pedal do freio é firme e as suspensões, que foram recalibradas, estão em conformidade com uma plataforma que pode carregar 1.020 quilos nas costas – sem a abordagem dura da Hilux ou o desempenho feroz de uma Amarok. Nas curvas, rola pouco e os pneus 265/60 R18 a mantém bem agarrada ao asfalto. Na estrada, o Multijet 2.2 vai bem, com pouco mais de 2 mil rpm a 120 km/h. Embora anuncie 200 cv, tem um comportamento mais próprio para um utilitário, função para a qual foi desenvolvido. Encara bem as ultrapassagens, mas não gera uma aceleração que impressione.