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Carros Sexta-feira, 03 de Fevereiro de 2023, 17:05 - A | A

03 de Fevereiro de 2023, 17h:05 - A | A

Carros / Abarth

Abuso de autoridade

Primeiro SUV da história da Abarth, versão esportiva do Fiat Pulse impressiona pela dinâmica agressiva e divertida



por Eduardo Rocha
Auto Press

A Stellantis, capitaneada pela Fiat no Brasil, vive um momento auspicioso. Todos os recentes lançamentos das marcas da holding – Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM – têm encontrado respaldo no mercado. Seja picape de luxo, hatch compacto ou SUV de sete lugares, o resultado de vendas tem sido invariavelmente positivo. Nesse ambiente favorável, a empresas até se dão o direito de promover algumas firulas. Como a decisão de produzir um modelo nacional modificado pela divisão Abarth e tornar o Pulse o primeiro SUV a ter a assinatura da preparadora italiana, que pertence à Fiat desde a década de 1970. O modelo foi apresentado oficialmente em meados de novembro passado com uma produção programada 700 unidades em 2022. Uma previsão razoável para um carro de imagem, que custa mais de R$ 150 mil ‑ R$ 20 mil a mais que o Pulse mais caro até então. Mas o resultado retratou a boa fase da empresa: metade das unidades programadas foram vendidas em apenas três dias.

O visual do modelo busca valorizar a pegada esportiva da preparadora, a ponto de a única menção à fabricante ser a Fiat Flag no lado esquerdo da grade. A versão avaliada, na cor Cinza Strato, trazia o teto em Preto Vulcano e detalhes vermelhos como nas faixas laterais, na base do para-choque e nas capas dos retrovisores. Outro ponto de distinção é a guarnição em fibra de carbono que contorna a parte superior da frente. A grade, que tem um desenho mais aerodinâmico, traz uma trama com elos e é em preto brilhante, assim como as rodas de liga leve com 17 polegadas. Onde não houve economia foi na identificação da versão. O emblema da Abarth está presente na grade, nos para-lamas dianteiros, nos cubos das rodas, na tampa do motor e numa plaqueta no console. Contando com inscrições por extenso e desenhos de escorpião, são nada menos que 20 menções. Não dá para esquecer que se trata de um Abarth.

Para receber tantos badges da preparadora, o Pulse Abarth passou por modificações detalhadas na parte mecânica. Para começar, o modelo recebe o motor T270, um bloco de quatro cilindros com 1.33 litro, 16 válvulas, com turbocompressor de baixa inércia e válvula de alívio. O comando no cabeçote é único para as válvulas de escape, enquanto as válvulas de admissão são controladas eletronicamente pelo sistema eletro-hidráulico MultiAir III – capaz, inclusive, de alterar a taxa de compressão efetiva do motor. A alimentação é por injeção direta de combustível e o motor recebeu uma calibração específica para privilegiar a performance. Apesar desse mapeamento modificar a fluência de trabalho do propulsor, não alterou a geração de potência e torque, que se mantiveram em 180/185 cv com gasolina e etanol e 27,5 kgfm com ambos os combustíveis.

O câmbio automático de seis marchas recebeu também uma nova calibração, que o deixou um pouco mais rascante, mas ganhou na velocidade de troca das marchas. A direção também foi recalibrada, para ficar mais direta. O Pulse Abarth conta com três modos de direção, que alteram a resposta ao acelerador, o comportamento do câmbio, o peso da direção e o mapeamento do motor. O modo Normal busca o máximo de conforto. O modo Manual é alcançado ao mover lateralmente a alavanca de câmbio, o que torna o modelo um pouco mais intenso. Já adotar o modo Poison (veneno), acionado por uma tecla no volante, é como abrir uma jaula. O motor e o câmbio ficam mais reativos e ásperos. Segundo a marca, no modo Poison é possível atingir a mesma velocidade em 60% do tempo quando comparado com o modo Normal. A direção fica mais pesada e o sistema de vetorização de torque e o controle de estabilidade ficam mais agressivos. Faltou apenas incluir freios a discos no eixo traseiro – são a tambor ventilados.

Para acompanhar esse comportamento, as suspensões foram endurecidas, tanto na parte de molas e amortecedores – 13% mais rígidos – quanto na geometria. Na frente, a barra estabilizadora ficou mais grossa e na traseira eixo de torção recebeu um reforço para reduzir a elasticidade em 15%. No final, a Fiat mediu uma diminuição na rolagem lateral na ordem de 10%, mesmo sem reduzir muito a altura no veículo. Com 18,8 cm, perdeu apenas 0,8 cm na altura mínima para o solo – mesmo com a compensação dos novos pneus 215/50 R17, que tem flanco 0,5 cm mais alto. O modelo recebeu ainda rodas mais largas – com 7 polegadas em vez das 6 polegadas da versão Impetus.

Como deve ocorrer com um modelo de imagem, o Pulso Abarth traz de série todos os recursos disponíveis na linha. A lista é grande: câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, ar automático digital, faróis e lanternas em led, recursos de segurança como alerta de colisão com frenagem autônoma, monitor de mudança de faixa, farol alto automático, airbags frontais e laterais, painel digital de 7 polegadas, central multimídia com tela touch de 10,1 polegadas com espelhamento sem fio, carregador por indução, chave presencial para travas e ignição, partida remota via chave e revestimento dos bancos em couro sintético e o pacote Connect Me, uma plataforma de serviços conectados que permite interagir com o modelo remotamente. O único opcional é a cor externa, entre branco, vermelho e cinza, todas com teto preto, ou totalmente em preto.

Ponto a ponto

Desempenho – O motor GSE 1.3 Turbo dá e sobra para os 1.281 kg do Pulse Abarth. Trata-se de um motor girador, que chega à potência máxima de 180/185 cv (gasolina/etanol) a 5.750 rpm, e se sente à vontade em giros mais altos. As acelerações e retomadas são garantidas pelo porque de 27,5 kgfm totalmente plano entre 1.750 e 4 mil rpm. Isso se traduz em uma grande disposição de ganhar velocidade em praticamente todas as situações do dia a dia. Com uma relação peso/potência de 6,9 kg/cv (abaixo de 8 kg/cv já é considerado esportivo), o carrinho faz de zero a 100 km/h em apenas 7,6 segundos (8,0 s com gasolina) e chega a 215 km/h. Dois pequenos detalhes: em uso mais doméstico, com arrancadas mais comportadas, há um pequeno atraso na entrada do turbo (turbo lag) e o motor vibra mais que o desejável, mesmo quando frequenta giros mais baixos. Nada que impeça o Pulse Abarth de deixar todos os demais compactos do mercado na poeira. Nota 10.

 

Estabilidade – A suspensão do Pulse Abarth foi harmonizada com a brutalidade da motorização. Ou seja: teve a geometria revisada, foi endurecida, ganhou molas e amortecedores mais rígidos e conjunto de rodas e pneus mais largos. Os movimentos de carroceria ficaram mais restritos, mas isso não tornou o carro desagradável de usar no dia a dia. E nem retirou a capacidade do modelo para enfrentar maus caminhos, pois perdeu apenas 0,8 cm na distância livre para o solo. Ele filtra um pouco menos as irregularidades do pavimento, se comparado à versão Impetus, mas não chega a ofender a coluna dos ocupantes. Por outro lado, é preciso forçar bastante para provocar uma rolagem lateral mais acentuada. Nota 9.

 

Interatividade – O modelo traz um painel digital de 7 polegadas configurável com três grafismos: o normal traz conta-giros de desenho clássico com velocímetro digital no centro e cinco slots, onde podem ser expostas informações como autonomia, consumo médio, data, hora, temperatura externa – faltou o consumo instantâneo. No modo econômico, o conta-giros é substituído por um arco que vai do vermelho até o azul, conforme a condução vai ficando mais econômica. O terceiro é o mais esportivo, que pode ser usado de forma permanente, mas sempre aparece quando o botão Poison está acionado. Ele é parecido com o normal, mas retira os slots de informações gerais e acrescenta um medidor da pressão do turbo e outro para a força G. No mais, o Pulse Abarth segue o padrão do top de linha Impetus: conexão com smartphones sem o uso de cabos, central multimídia com GPS nativo e tela “touch” de 10,1 polegadas, volante multifuncional etc. As reações do alerta de colisão ficaram um pouco menos alarmantes, mas o sistema de centralização de faixa e a frenagem autônoma continuam muito intrusivas, mesmo no modo de condução Poison, o que é contraditório. Para silenciá-los é preciso desativar os sistemas a cada vez que o carro é ligado. Nota 8.

 

Consumo – O Pulse Abarth T270 é um tanto beberrão. De acordo com a Stellantis, o Pulse Abarth T270 registrou médias de 6,8/8,8 km/l com etanol e 10,0/12,3 km/l com gasolina, na cidade/estrada. É um consumo cerca de 20% superior ao do Pulse Impetus e só é obtido quando se deixa de lado a natureza do SUV compacto esportivo. No uso que o próprio carro instiga, o tanque de 47 litros se esvai rapidamente. Esses números rendem no Conpet notas de D na categoria e C no geral. Nota 6.

 

Conforto – A suspensão recalibrada roubou um pouco do conforto, naturalmente. Mas os pneus com flancos 0,5 cm mais altos ajudam a anemizar as irregularidades. Os bancos são bem ergonômicos e os apoios laterais seguram bem o corpo do motorista/piloto, que se estiver bem posicionado, com o peso alinhado com o quadril, não tem nenhuma necessidade de se apoiar no volante – o que dá maior liberdade de movimentação aos braços. A insonorização não foi uma preocupação da Abarth – até porque é o tipo do carro que se quer ouvir o ronco, mas há alguns ruídos aerodinâmicos que incomodam e, principalmente, a vibração do motor que afeta a cabine, como se fosse um subwoofer. Nota 7.

 

Tecnologia – O Pulse Abarth não recebeu qualquer reforço estrutural na plataforma MLA, usada no Pulse normal de linha. A plataforma eletrônica também é a mesma. A conectividade da central Uconnect é das mais práticas do segmento, com espelhamento de smartphones sem fio, tela de 10,1 polegadas e GPS interno. Os sistemas ADAS são um tanto invasivos – o que é pior em um modelo esportivo. Já motor e suspensão receberam algumas configurações mais esportivas, para atender às exigências de um motor 42% mais potente e 35% mais forte. No freio traseiro, porém, foi mantido o arcaico sistema de tambor. Nota 8.

 

Habitabilidade – O Pulse Abarth não muda internamente e mantém dimensões internas semelhantes às do Argo, mas com o teto mais. Isso aumenta o conforto dos passageiros, que podem ficar em uma posição mais vertical. O espaço é generoso para pernas, cabeças e ombros principalmente na frente. O acesso é facilitado pela altura do veículo e o porta-malas, com 370 litros, é razoável para o segmento. Nota 8.

 

Acabamento – O Pulse Abarth ganhou uma série de elementos estéticos que, de fato, valorizam a esportividade do modelo, como detalhes em vermelho interna e externamente, acabamentos em preto brilhante e texturas e padrões de revestimento agradáveis. A versão Abarth tem um maior refinamento por conta dos revestimentos dos bancos e as áreas de toque, como câmbio, volante e apoios nas portas em couro sintético. Além disso, o revestimento de colunas e teto são em preto. Nota 9.

 

Design – As linhas do Pulse, em geral, não impressionam. Ainda mais porque não anteciparam as tendências de estilo da marca. Mas no Abarth, a aplicação de acabamentos e detalhes específicos dão um ar renovado e agressivo ao SUV compacto. Em geral, as linhas são equilibradas e agradáveis. O teto em preto é um modismo de gosto discutível, mas funcionou nesse caso. Nota 7.

 

Custo/benefício – O Pulse Abarth foi pensado como um modelo de nicho. E o preço de R$ 149.990 (R$ 151.480 na unidade avaliada) expressa bem essa condição. Não há rivais diretos. O modelo mais próximo em termos de potência no segmento seria o Renault Captur. É também um SUV compacto, mas é um pouco maior. Ele tem um motor turbo 1.3 também com 27,5 kgfm de torque, mas com 170 cv. E custa mais caro: com o mesmo nível de equipamentos, fica em R$ 161 mil, ou R$ 11 mil a mais. Nota 8.

 

Total – O Fiat Abarth T270 somou 80 pontos em 100 possíveis.

 

Impressões ao dirigir
Cobertor curto

Ganhar desempenho, na imensa maioria das vezes, significa penalizar o conforto. São, de fato, valores contraditórios pois um maior controle quer dizer menor margem para suavizar a dinâmica. De qualquer forma, um certo estoicismo é até bem visto por quem busca um comportamento mais esportivo, pois significa que se está valorizando a essência, sem firulas. O Pulse Abarth não foi tão longe, A preparadora realmente injetou um comportamento agressivo ao SUV compacto, mas não perdeu de vista que se trata de um automóvel que será usado no dia a dia. Ele traz uma suspensão mais rígida, um tratamento acústico menos cuidadoso e um nível de vibração bem acima dos encontrados em carros de passeios normais – a ponto de assustar a cachorrinha Luli como nunca ocorreu em seus oito anos de vida.

Essas características e as inúmeras menções ao escorpião da Abarth no carro ajudam, de certa forma, a dar mais personalidade ao Pulse esportivo. Até porque as outras funções de SUV são bem cumpridas pelo modelo. Tem um espaço interno generoso, com boa altura na cabine e espaço para pernas, os bancos são confortáveis e ergonômicos e, o principal, tem um padrão de interatividade de acordo com a demanda atual – inclusive com serviços através do Connect Me. A central multimídia com GPS interno e espelhamento de celular via Bluetooth funciona de forma exemplar. Praticamente todos os comandos importantes podem ser feitos a partir do volante multifuncional.

Uma contradição vivida pelo Pulse Abarth é ser um carro com desempenho esportivo dotado de uma série de sistemas auxiliares de condução altamente intrusivos, que interferem e até empanam o comportamento dinâmico. Caso do centralizador de faixa, que promove uma queda de braço com o condutor que tente tangenciar minimamente as curvas ou mesmo escapar de um buraco no trajeto. Outro é o alerta de colisão, que parece confiar menos no motorista que carona medroso. Ele alerta e freia praticamente ao mesmo tempo, sem uma progressão e com muita antecedência.

A face mais corajosa do Pulse Abarth mora em uma tecla vermelha, instalado do lado direito do volante multifuncional. O botão Poison muda radicalmente o humor do SUV compacto. Uma vez acionada, os 180/185 cv e os 27,5 kgfm do motor se acendem e empurram o carrinho de forma muito vigorosa para velocidades mais e mais altas. Com pista livre, é fácil bater velocidades muito além dos limites legais. Nessas ocasiões, a vibração e a rispidez do motor, a firmeza da direção e a rigidez da suspensão se justificam amplamente. Caso se queira compor o modo Poison com o uso manual do câmbio, melhor reservar uma vaga em algum track day de autódromo, pois o SUV se torna uma fonte de adrenalina.

 

Ficha técnica
Pulse Abarth T270

Motor: Gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 1.332 cm³, sobrealimentado por turbo, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, eixo de comando simples no cabeçote para as válvulas de escape e válvulas solenóides eletro-hidráulicos para acionar as válvulas de admissão (sistema Multiair III). Injeção direta multiponto de combustível.

Transmissão: Automático de seis marchas à frente e uma à ré. Tração dianteira com controle de tração.

Potência: 180 cv a 185 cv, com gasolina e etanol, a 5.750 rpm.

Torque: 27,5 kgfm, com gasolina ou etanol, entre 1.750 e 4 mil rpm.

Diâmetro X curso: 70,0 x 86,5 mm.

Taxa de compressão: 10,5:1.

Aceleração 0-100 km/h: 7,6/8,0 segundos com etanol/gasolina.

Velocidade máxima: 215/214 km/h com etanol/gasolina.

Carroceria: Utilitário esportivo (SUV) com quatro portas e cinco lugares. Com 4,12 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,54 m de altura e 2,53 de distância entre-eixos. Altura mínima para o solo de 18,8 cm. Ângulo de 20º de ataque e de 27º de saída. Airbags frontais e laterais de série.

Suspensão: Dianteira tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores transversais com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos de dupla ação e molas helicoidais. Traseira com eixo de torção com amortecedores hidráulicos de dupla ação e molas helicoidais.

Freios: Dianteiro a disco ventilado com 284 mm de diâmetro com pinça flutuante. Traseiro a tambor refrigerado com regulagem automática. ABS com controle de partida em rampa e controle de estabilidade.

Pneus: 215/50 R17.

Peso: 1.281 kg em ordem de marcha com 400 kg de capacidade de carga.

Porta-malas: 370 litros.

Lançamento: Novembro de 2022.

Produção: Betim, Minas Gerais.

Preço: R$ 149.990.

Preço da unidade testada: R$ 151.480.

Álbum de fotos

FOTO: EDUARDO ROCHA/AUTO PRESS

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