POR EDUARDO ROCHA
AUTO PRESS
A Ford replica no Brasil a mesma estratégia que fez da Transit a van mais vendida na Europa e Estados Unidos. Primeiro, apostou na imagem de tecnologia, dotando os modelos com uma série de recursos de segurança e, principalmente, conectividade. Agora, para a linha 2023, a fabricante quer ampliar a oferta de produtos e de tecnologias. Para o primeiro semestre do ano que vem, a marca vai apresentar a versão com câmbio automático da Transit, tanto para o furgão de carga quanto para a configuração de passageiros, ou minibus, que exige CNH categoria D. Ainda no primeiro semestre, chega a e-Transit, versão 100% elétrica do veículo. Por fim, no segundo semestre, é a vez da configuração chassi-cabine, que deve ampliar bastante a base de consumidores do modelo – a montadora calcula que o segmento responde por 40% das vendas de furgões.
A Transit chassi-cabine e a automática sairão da planta da Nordex, no Uruguai, enquanto a e-Transit será importada da Turquia, onde são produzidas as unidades do modelo destinadas ao mercado europeu. A marca aponta duas principais vantagens da e-Transit, que se refletem no custo de utilização do modelo. A primeira é que ela compartilha com a versão convencional um grande número de peças, como da carroceira – apenas a suspensão é diferente, com molas helicoidais em vez dos feixes de mola. Outra vantagem é que ausência de um motor endotérmico faz com que o número de peças de desgaste seja 86% menor. No final, a troca do diesel pela eletricidade resulta ainda em uma economia de até 40%.
Ford mostra versões automática, elétrica e chassi-cabine da Transit para a linha 2023
A e-Transit traz um conjunto de baterias de íon de lítio instalado sob o piso entre os eixos no modelo e mantém o conceito da Transit convencional de tração traseira. A carga total é de 68 kWh, suficiente para rodar até 317, segundo o ciclo WLTP, método europeu que privilegia o uso urbano na medição. O motor, instalado no eixo traseiro, rende 269 cv de potência, ou 198 kW, com 43,8 kgfm de torque. Com a motorização elétrica, a capacidade de carga se manteve em 12,4 m³, com PBT de 3.500 kg – importante para permitir a condução de motoristas com CNH categoria B. O ponto negativo é que o peso da bateria rouba cerca de 20% da capacidade de carga, que cai de 1.150 para 936 kg. A recarga pode ser feita em 11,5 horas com uma wallbox de 7,4 kWh e em 8 horas com carga de 11 kWh.
A outra novidade para o primeiro semestre de 2023 é a opção de câmbio automático para a Transit. Trata-se da mesma transmissão usada nos Estados Unidos na picape F150, com 10 velocidades. Ela será oferecida em todas as configurações do furgão e é acoplada ao motor já usado atualmente, o 2.0 turbodiesel com duplo comando no cabeçote, mas perde um pouco da potência, que passa de 170 para 165 cv. O torque se mantém nos mesmos 39,7 kgfm. Segundo a Ford, a adoção do câmbio automático, além de dar mais conforto ao condutor, pode representar uma real economia na manutenção.
Por fim, a configuração chassi-cabine, que chega no segundo semestre, será oferecida em duas versões: com PBT de 3.500 kg e com PBT de 4.700 kg, que exige carteira C. Com estes modelos, a Ford espera morder uma fatia bem maior que a atual. Em cerca de um ano de mercado, a Transit conseguiu 12% do mercado de vans de passageiros e 4% dos furgões de carga, com um média de 125 unidades mensais.
Primeiras impressões
Silêncio de catedral
Como todo veículo elétrico, a ausência de ruído da e-Transit faz com que seja preciso checar no painel se ele está realmente acionado antes de acelerar. A van da Ford é bem completa, com câmera de ré, diversos recursos de assistência à condução e um ótimo acabamento, com materiais robustos, como deve ser em um veículo comercial. No console central, o comando giratório do câmbio tem as posições R, N e D e um botão L ao centro.
No modo D, a Transit ganha velocidade de forma bem comedida, não há uma redução acentuada da velocidade quando se alivia o acelerador e a enorme potência de 269 cv não é revelada. Apenas quando se recorre ao modo L, o furgão passa a se comportar como outros veículos elétrico, com arrancadas vigorosas e redução acentuada nas desacelerações, o que sinaliza uma alta recuperação de energia. A direção é leve e precisa e a suspensão controla bem os movimentos do veículo. O comportamento é bem próximo ao da Transit convencional, com a vantagem de ser extremamente silenciosa.