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Entrevistas Sexta-feira, 02 de Fevereiro de 2024, 10:55 - A | A

02 de Fevereiro de 2024, 10h:55 - A | A

Entrevistas / CINCO PERGUNTAS

Sonhos de menino

Bruno Luperi reescreve “Renascer” com foco nas questões atuais



por Geraldo Bessa TV Press  

               Bruno Luperi ainda estava descansando e colhendo os louros do remake de “Pantanal”, exibido em 2022, quando recebeu da Globo uma nova encomenda: revisitar “Renascer”, outra obra de seu avô Benedito Ruy Barbosa. Clássico exibido em 1993 que celebrou o retorno de Benedito ao casting da Globo e o colocou direto no antigo horário das oito, a trama que conta a saga de José Inocêncio, agora vivido por Humberto Carrão e Marcos Palmeira, mexe de forma muito profunda nas lembranças de Luperi.

Gosto de todas as coisas que meu avô escreveu, mas ‘Renascer’ sempre foi minha preferida. Eu tinha cinco anos quando passou pela primeira vez e o acompanhava nos bastidores. Revi a história algumas vezes ao longo da vida e acredito que seja o auge do meu avô como novelista. Foi um momento sublime e iluminado”, valoriza.                

Não esperava escrever um outro remake depois de ‘Pantanal’, mas a Globo me instigou e mexeu com a minha memória afetiva

Filho da também novelista Edmara Barbosa, Luperi bem que tentou seguir por rumos diferentes do avô e da mãe. Publicitário de formação, ele passou a investir na teledramaturgia ao assumir o posto de coautor de “Velho Chico”, em 2016.

Com contrato de prazo longo com a Globo, aos 36 anos, o autor é conhecido internamente por sua pontualidade e organização na entrega dos textos. Além da atual novela das nove, ele já tem praticamente pronta uma trama para as seis, que vem sendo adiada por conta do sucesso das adaptações da obra do avô.

A sinopse está correndo pelos corredores da emissora desde 2017. É um projeto lindo e que deve ficar para o ano que vem. Não esperava escrever um outro remake depois de ‘Pantanal’, mas a Globo me instigou e mexeu com a minha memória afetiva. Estou muito feliz com o resultado”, avalia.

P – Depois do sucesso do remake de “Pantanal”, o que o motivou a aceitar a encomenda da Globo para revisitar “Renascer”?

R – Sou apaixonado pela obra do meu avô. Ele é a minha maior referência. É bonito o jeito que ele desbravou a dramaturgia brasileira por esse viés do Brasil profundo, do rural, desse realismo fantástico, e sempre mesclando o imaginário com o tom realista. Neste contexto, “Renascer” é uma novela que me toca muito em diferentes níveis e que eu considero que é a dramaturgia mais potente que ele atingiu enquanto autor. A novela que mais me emociona e a primeira que eu tenho lembranças vivas.

P – Quais suas principais recordações?

R – São mais dos bastidores. Eu tinha cinco anos quando foi exibida a primeira versão e a vi sendo criada. Então, tenho todas essas lembranças, uma memória afetiva de uma novela sendo concebida por ele, e acontecendo na frente dos meus olhos através das reuniões com os atores e diretor, das discussões com os colaboradores.

P – Como é atualizar esse texto pouco mais de três décadas depois?

R – O exercício da minha função aqui é me valer de um espelho: tenho a possibilidade de olhar para o Brasil de 31 anos atrás e trazer esse reflexo para hoje. Eu sou a pessoa a quem foi designado adaptar um clássico. A minha proposta não é recriar. Acho que essas obras não precisam de um novo autor, mas sim de uma adaptação para os dias de hoje. Respeito profundamente o trabalho que me precede e as histórias que ele criou. Eu não estou aqui para reinventar a roda, muito pelo contrário.

P – Como assim?

R – Eu sempre uso a metáfora que me foi oferecida a chave de um jardim que o meu avô plantou 31 anos atrás. Então, ao entrar nesse jardim, consigo ver claramente ali o efeito do tempo sobre ele. Então, vejo as espécies que vingaram, que floresceram bem, e também as que não vingaram, que precisam ser ressignificadas.

P – Como esse olhar impacta no icônico José Inocêncio, protagonista da obra?

R – José Inocêncio ressurge mais pé-no-chão. Ele precisa saber falar a língua da terra e compreender aquela sinfonia, pisar o cacau dele, colher e manejar a roça. Ele é um cara mais vivo, muito mais um agricultor do que um coronel. E tem uma questão muito importante: é uma reinvenção da imagem do homem do campo. Neste novo olhar, ele carrega a consciência do pequeno produtor, mas que ficou grande pelo trabalho, pelo sucesso dele.  

Renascer” – Globo – de segunda a sábado, às 21h.

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