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Opinião Segunda-feira, 18 de Março de 2024, 10:45 - A | A

18 de Março de 2024, 10h:45 - A | A

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Água no chopp

Alguns vão lembrar do caso da disputa entre o Brasil e os Estados Unidos sobre os subsídios domésticos, o que tirava a competitividade do produto verde e amarelo



*Luciano Vacari   

O Brasil é um grande produtor de alimentos, fibras e energia. Somos os maiores exportadores de carne bovina, soja em grão, milho, celulose e açúcar. São mais de 180 destinos que por um motivo ou outro dão a preferência para o produto made in Brazil, mas o fato é que seja pelo grande volume de produção ou pela relação preço x qualidade nos tornamos fundamentais para garantir a segurança alimentar para bilhões de pessoas.

Isso tranquiliza tanto os produtores quanto o governo brasileiro, afinal as exportações geram negócios, que geram divisas, que geram saldo na balança comercial, mas por outro lado tiram o sono de milhares de produtores mundo afora, sobretudo os europeus.

Prova disso é que não é de hoje que o Brasil sofre os mais variados tipos de sanções que de uma maneira ou de outra tem um único objetivo, impedir ou reduzir o volume de exportação de determinado produto. Alguns vão lembrar do caso da disputa entre o Brasil e os Estados Unidos sobre os subsídios domésticos, o que tirava a competitividade do produto verde e amarelo, a briga começou em 2002 só terminou quase uma década depois.

Prova disso é que não é de hoje que o Brasil sofre os mais variados tipos de sanções que de uma maneira ou de outra tem um único objetivo

Área tampão, zona livre, anexo “B”, também são expressões que assombraram os criadores brasileiros durante anos. No início o argumento era sanitário, uma linha imaginária foi criada e de um lado o produto tinha acesso à Europa, e de outro não chegava nem perto do velho continente, como se fosse um tratado de Tordesilhas.

 

Algumas semanas atrás, tivemos em Brasília um evento muito importante sobre a lei de desmatamento da União Europeia. Com um público extremamente qualificado, foram discutidos durante 02 dias os desafios e soluções de rastreabilidade.

O tema está em tramitação no parlamento europeu e conta com o apoio de importantes nações como França e Alemanha. Em 2007 a Europa era o maior importador de carne bovina do Brasil, vendíamos muito, e com bom valor agregado, e aí começaram as barreiras. Em 17 de janeiro de 2008 veio a “Decisão 61”, um ato normativo da Comissão Europeia que atropelou regras que já existiam e criou outras que até hoje existem, e pior, que não têm respaldo na Organização Mundial de Saúde Animal. A consequência direta dessa norma foi o desabastecimento da proteína nas terras além-mar, e é claro uma grande histeria popular.

Para piorar, alguém europeu metido a esperto resolveu batizar um lote de lasanha à bolonhesa com carne de cavalo, o que foi descoberto semanas depois, e até hoje é motivo de revolta entre os povos de lá. Isso não foi um fato isolado, a falta de matéria prima encareceu os preços dos alimentos processados prejudicando os consumidores e a insegurança fez com que o consumo diminuísse prejudicando também os produtores europeus, ou seja, todos perderam. Mas afinal, qual a moral da história?

Precisamos cada vez mais conversar com os parceiros comerciais e entender de maneira clara quais são as regras, os prazos, as implicações e lógico quem vai remunerar tudo isso. É preciso tempo e transparência para que todos, ou apenas aqueles que quiserem, se adequem.

Precisamos estruturar uma transição, porque se resolverem virar a chave na marra, pode ser que seja pior que em 2008. Já imaginou se alguém resolver colocar água no chopp? 

*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria  

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