Jornal Mato Grosso do Norte
José Vieira do Nascimento editor MT Norte
O vereador Rogério Colicchio (PT) avalia que houve uma distorção na forma como a proposta de ideologia de gênero foi apresentada durante as discussões do Planto Municipal da Educação. Em entrevista à Mato Grosso do Norte o parlamentar disse que não existe no Plano nenhuma proposta para ensinar a criança a ser gay ou heterosexual.
Para ele, o debate teria que ser mais abrangente, porque, na verdade, o termo ideologia de gênero serviu para esconder preconceitos reincidentes na sociedade. “A palavra gênero significa masculino e feminino. Houve uma grande distorção. Por isso, que disse que esse diálogo teria que continuar”, reafirma.
Rogério pontua que a discussão sobre ideologia de gênero ultrapassa a distorção a que foi imposta, que as escolas iriam ensinar os meninos a serem ‘frutinhas’. Para ele, não se pode ignorar o fato que existem pessoas que desde criança apresentam características homossexuais. E a escola teria que ter o cuidado de acompanhar a particularidades destas crianças em suas diferenças, e protegê-las para que elas possam ter condições de construir a sua personalidade. E ser um adulto, independente de sua opção sexual, com responsabilidades, sabendo escolher o que é melhor para sua vida.
“Esses meninos e meninas não são homens e nem mulheres. São crianças que estão em fase de construção. A partir de sua maturação é que vão se transformar”, enfatiza.
Seguindo neste contexto, o vereador considera que a sociedade não tem o direito de julgar quem é diferente em suas opções. E observa que existem pessoas, independente da condição de serem masculino ou feminino, que não se sentem a vontade naquele corpo, que são os transgêneros. “Essas pessoas estão na sociedade e são seres humanos que existem. E a sociedade precisa acolhê-las”, assegura Rogério.
“A preocupação é que, se a criança tiver pré-disposição de ser homossexual, que não sofra preconceito. A mesma condição deve ser atribuída aos índios, negros e quem tem uma cultura diferente. Às vezes, uma criança sofre preconceito porque é nordestina e fala com sotaque diferente dos demais. A escola tem que ser um ambiente adequado ao aprendizado da criança. Por isso que a proposta teria que ir além da sexualidade”, defende.
O parlamentar pontua que até mesmo a igreja católica, através do Papa Francisco, não condenou as pessoas diferentes em suas opções sexuais. Ele relembra o que disse o Papa em sua visita ao Brasil em 2013. "Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? não se deve marginalizar essas pessoas por isso! Elas devem ser integradas à sociedade. Devemos ser irmãos”.
Na opinião do vereador, não se pode fechar os olhos para a realidade e a sociedade tem que entender que as pessoas são diferentes uma das outras, em situações que vão além do aspecto físico. “Essa discussão tem que avançar e não tem mais volta. Precisamos ser mais humanos. Precisamos nos colocar mais no lugar dos outros em todas as situações. Ainda predomina a cultura da sociedade patriarcal, regida pelo homem branco, heterosexual e abastardo financeiramente”, pondera.
Para Rogério, há registros na história da humanidade que o preconceito e a discriminação já levaram a prática de fatos absurdos. “Defendia-se que os negros não tinham alma e não eram seres humanos, por isso eram escravizados. Pessoas que nasciam com alguma diferença eram assassinadas porque eram consideradas transgressoras da raça. Temos que sermos mais humanos”, tergiversa.
Na sequência, ele observa que a mulher, pelo instinto materno, naturalmente é a maioria entre os profissionais de educação e não tem a mesma valorização dos homens. “Este ponto em si é responsável pela desvalorização da profissão. Para mim, este é um grave problema social de desigualdade de gênero”, exemplifica.
“Então, a proposta não é para ensinar a criança ser gay. A sociedade tem que ser menos preconceituosa e mais humana. Nos tempos atuais, existem famílias constituídas de pessoas do mesmo sexo. O pai e a mãe podem ser iguais. A sociedade não pode julgar. Tem que contribuir e acolher, seja as pessoas da forma com elas forem”, sintetiza.
Banheiros- Sobre a instituição de banheiros exclusivos para os transgêneros, o vereador Rogério diz que é favorável.
“É uma discussão complexa. Mas uma pessoa transgênera não se sente bem em usar o mesmo banheiro. Então, vejo como uma necessidade ter um banheiro para elas, assim como os deficientes tem um banheiro destinado a eles e as mulheres que também não se sentem bem usando o mesmo banheiro que os homens nos locais públicos. Acredito que no futuro isto vá acontecer”, vislumbra.