Depois de acumular mocinhos, Marcos Pitombo vive primeiro vilão da carreira.
Por um tempo, o "physic du role" de Marcos Pitombo determinou o perfil dos papéis para os quais era escalado. Dono de um porte atlético e um belo rosto, o ator se acostumou a interpretar os mocinhos de tramas como "A História de Ester" e "Vidas em Jogo", ambas da Record. Por isso mesmo, viver o Paulão de "Vitória" significa um ponto fora da curva em sua trajetória. Além de ser seu primeiro vilão, o personagem faz parte do núcleo neonazista e é capaz de cometer todo tipo de atrocidade na novela de Cristianne Fridman. "Sem dúvida, é o personagem mais complexo que já fiz. Vilão cansa, tira a energia mesmo, é uma tensão física. E também é um papel cheio de camadas e questionamentos. Está sendo um parque de diversões", constata, animado.
Para conseguir incorporar todo o sangue frio e a ideologia do personagem, Pitombo mergulhou no universo no nazismo e do neonazismo. Assistiu a documentários sobre o Holocausto e a filmes como "A Outra História Americana", de Tony Kaye, "A Onda", de Dennis Gansel, e "Tolerância Zero", de Henry Bean. Ainda pesquisou depoimentos de neonazistas estrangeiros na internet e reportagens de pessoas do Brasil que compartilham dos mesmos ideais que seu personagem. "Também fiquei mais ligado em relação a alguns tipos de crimes no noticiário. Como, por exemplo, violência contra gays. Até para ver como os jornais tratam crimes de racismo e intolerância", acrescenta.
Pitombo, inclusive, precisou se desdobrar para participar dos "workshops" oferecidos pela Record. Isso porque, quando recebeu o convite para integrar o elenco de "Vitória", ainda estava gravando "Pecado Mortal" na pele de Ramiro. Entre um intervalo e outro de suas cenas, o ator ia para as palestras sobre neonazismo ministradas por uma historiadora e para as aulas de luta e "motocross". No final das contas, a solução encontrada para a saída antecipada de Pitombo da trama de Carlos Lombardi foi a morte de seu personagem. "Não queria perder esses 'workshops' de forma alguma, até para começar a novela com uma relação bacana com o elenco. Acabou dando tudo certo", recorda.
Mas a falta de um intervalo razoável entre os dois trabalhos obrigou Pitombo a mudar completamente de visual. Afinal, o ator queria se desvencilhar da imagem heroica que apresentava em "Pecado Mortal" para construir a figura de um intelectual neonazista. Livrou-se do "mega hair" de Ramiro e adotou um corte curto, uma sugestão dele mesmo. "Pelas minhas pesquisas na internet, vi um corte de cabelo chamado 'Youth Hitler Hair Cut', que está em alta na Europa", explica. Além disso, Pitombo aparece em cena com várias tatuagens de símbolos neonazistas. Inicialmente, a autora havia sugerido apenas uma suástica no peito. Mas o ator e o diretor Edgard Miranda acrescentaram outros desenhos, que são fixados na pele como um adesivo e podem ser retirados com facilidade. E Pitombo faz questão de ir embora das gravações sem nenhum deles. "Eu sempre tiro porque não dá para levar esse tipo de energia para casa", justifica ele, que desenvolveu um ritual desde que passou a interpretar Paulão. "Chego em casa, tomo um banho quente e, a partir daí, volto para a minha vida", revela.