Mequiel Zacarias Ferreira
Na semana em que o Estado de Mato Grosso registra recorde de mortes por COVID-19, chegando a 125 vidas perdidas por dia e 98.84% de ocupação dos leitos de UTI (dados de 22 de março), o município de Alta Floresta anuncia e organiza a mudança da localização da Unidade de Síndromes Gripais, que está funcionando atualmente na rua B, para a Policlínica localizada no bairro Bom Pastor – grande Cidade Alta. O município, classificado atualmente como de risco “MUITO ALTO”, apresentou, no dia 22 de março, 405 casos ativos e quatro óbitos, acumulando 63 vidas perdidas desde o início da pandemia.
Em entrevista a reportagem do Jornal Mato Grosso do Norte, a enfermeira Laura Wanessa, que atualmente é responsável técnica pelo COVID-19 no município, esclareceu que a mudança vem de encontro com a situação de espaço reduzido da atual Unidade de Síndromes gripais, localizada na Unidade Básica Ana Neri da rua B. Laura esclarece que “É questão mesmo de espaço físico. Melhorar esse atendimento, melhorar o espaço físico para estar recebendo os pacientes com mais dignidade e até mesmo para os colaboradores terem um pouco mais de espaço”.
Ainda não foi divulgada a data para mudança, contudo, na Sessão Ordinária da Câmara Municipal foi votado projeto de lei de suplementação orçamentária e remanejamento de recursos que possibilitem as reformas necessárias na Policlínica. Os recursos se referem a valores remanejados ainda do orçamento de 2020, que não foram aplicados pela gestão anterior.
TEMPO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO
Nossa reportagem acompanhou durante a semana passada o atendimento da Unidade de Síndromes Gripais, tendo em vista o recebimento de reclamações da demora no atendimento. O problema da demora não é novidade. Ainda no ano de 2020, essa pauta foi discutida várias vezes, com registros de reclamações de usuários que esperaram mais de 10 horas para serem atendidos. Durante a semana de observação, houve registro de tempo de espera de seis horas, nos dias com maior fluxo e, de uma hora, nos dias com menor presença de usuários.
Sobre essa questão, a responsável técnica pelo COVID-19, enfermeira Laura Wanessa, esclareceu que a média de atendimento é flutuante, contudo, destaca que “aproximadamente 100 pessoas são atendidas por dia na Síndromes gripais”. Laura ainda esclarece que “Em relação à demora no atendimento varia conforme as intercorrências dentro da Unidade, visto que estamos recebendo e dando suporte de oxigênio aos pacientes moderados e graves que estão no aguardo da liberação de vaga para o Hospital Regional de Alta Floresta e isso requer tempo principalmente dos médicos. A duração da consulta depende do quadro clínico do paciente, se é primeira consulta ou alta médica. A primeira consulta requer mais tempo para avaliação médica, preenchimento do termo de isolamento, receita médica e orientações ao paciente. Esse tempo depende também do profissional que está fazendo o atendimento, onde cada profissional desenvolve habilidades em tempos diferentes, sendo certo que cada médico atende em média, por período de 6h, de 30 a 40 pacientes”.
Deste contexto, quando perguntada sobre as formas de garantir diminuição nesse tempo e agilidade no atendimento, a enfermeira esclarece que “Iniciamos há dois dias uma nova estratégia para agilizar o atendimento médico passando a parte de preenchimento do termo de isolamento para um servidor da área administrativa (assinado e carimbado pelo médico)”. Nesse sentido, a mudança ora apresentada pela estratégia, deve garantir redução no período de espera dos usuários, conclui.
Quanto a equipe que atualmente atende a referida Unidade, a servidora esclarece que “Atualmente contamos com uma equipe de 8 médicos, 4 enfermeiras, 8 técnicos de enfermagem, 4 motoristas, 4 serviços gerais e 8 administrativo, que trabalham em uma escala de 12x36 [horas]. Contamos ainda com alguns profissionais de apoio (Médicos, Enfermeiros e técnicos) que estão nos ajudando nessa luta. Reforço aqui que nossos profissionais estão se desdobrando e trabalhando 24 a 36 horas abdicando de sua família para estar na linha de frente contra a Covid-19”.
Acerca da reclamação relativa a exposição dos usuários a situação de contaminação durante a espera para o atendimento na Unidade de atendimento do COVID, Laura Wanessa esclarece que “Estamos diariamente buscando ideias e estratégias para segurança dos nossos usuários. Intensificamos a partir de hoje a desinfecção das cadeiras com álcool 70% e separamos as tendas conforme a necessidade do paciente (Positivos/Suspeitos/ Alta)”.
CENÁRIO CAÓTICO
Apesar da adoção das medidas citadas, que, incluem ainda, conforme destaca a Enfermeira, a abertura de 15 (quinze) leitos de UTI no Hospital Santa Rita e 6 (seis) leitos clínicos no Hospital Regional, o cenário continua em crescimento exponencial e caótico. Complementa enfatizando a escassez da mão de obra de profissionais médicos e enfermeiros, mesmo com os esforços do Executivo Municipal para a contratação.
Por fim, em tom de desabafo e preocupação, a profissional de saúde é incisiva “A PANDEMIA NÃO ACABOU!”. Complementa ainda salientando: “Aproveito a oportunidade e reitero a solicitação à população para que se atentem às orientações sanitárias, mantenham o distanciamento social, lavem as mãos e usem a máscara corretamente (cobrir totalmente a boca e o nariz). Não divulguem notícias duvidosas, que não conhecem a origem, isso implica de forma negativa no trabalho árduo que está sendo feito pelos profissionais da saúde. Nos ajude a mostrar que esse vírus mata e a cada dia que passa ele apresenta sintomas mais agressivos do que apresentava no início de 2020”.