por Eduardo Rocha
Auto Press
Quando lançou a picape Strada, há quase dois anos, a ideia da Fiat era atrair os consumidores que queriam uma picape que funcionasse também como carro pessoal e familiar, para uso diário. O sucesso do modelo foi estrondoso e ele se tornou o automóvel mais vendido do país em 2021, com 109.099 emplacamentos. Tudo isso incentivou a fabricante a aprofundar este conceito com a adoção de um câmbio automático do tipo CVT – sigla em inglês para transmissão continuamente variável. Para dar uma noção da atenção que a Fiat está dedicando à picape, o recurso chegou na Strada antes mesmo de ser oferecido na linha de compactos Argo/Cronos. Apenas as versões do topo da gama, Volcano e Ranch, sendo que a Volcano é a mais acessível delas, com preços a partir de R$ 109.501.
Na versão Volcano, o equipamento eleva o preço do modelo com câmbio manual em exato em quase R$ 6 mil. Além do câmbio, a versão recebe ainda carregador por indução e apoio de braços central para os bancos dianteiros. O trem de força traz uma configuração bem semelhante à do Fiat Pulse. A transmissão trabalha em conjunto com o motor Firefly 1.3, que na adequação às novas normas de emissões, perdeu um pouco de potência e torque ‑ agora ele de 98 a 107 cv e de 13,2 a 13,7 kgfm, de acordo com a proporção de gasolina e etanol – uma redução entre 2 e 3 cv e de 0,5 kgfm em relação à Strada 2021. Já o câmbio CVT tem três modos de condução: Automático, Manual e Sport. O sistema conta com sete marchas pré-programadas, sendo que no modo Sport, o acelerador fica mais sensível, a direção elétrica é enrijecida e o câmbio adota relações de marcha mais curtas.
Os demais recursos da atual versão Volcano foram mantidos. O quadro de instrumentos tem uma tela de LCD de 3,5 polegadas configurável. A central multimídia Uconnect com tela de 7 polegadas e espelhamento através de Android Auto e Apple CarPlay sem cabo. Mesmo com o novo câmbio, foi mantido o controle de tração com E-Locker (TC+). Este sistema desativa o controle de tração e usa o ABS para frear a roda sem aderência e permitir que a roda com tração possa receber a força do motor. Ela traz ainda quatro airbags, sensores traseiros e câmera de ré, faróis de neblina e monitoramento da pressão dos pneus. As capacidades do modelo também não mudaram. A caçamba tem capacidade para 844 litros e a capacidade de carga total, incluindo passageiros, é de 600 kg.
Ponto a ponto
Desempenho – A entrada do câmbio CVT amorteceu um pouco desempenho da Strada. Além disso, a norma L7 do Proconve impôs uma pequena redução na potência, de até 3 cv e 0,5 kgfm ‑ agora são 98/107 cv e 13,2/13,7 kgfm. Ainda assim, a picape mostra uma boa agilidade em baixas e médias rotações, regimes típicos para uso urbano. No ambiente rodoviário, os momentos de ultrapassagem exigem uma ação mais propositiva de quem está ao volante e recorrer os paddle shifts – que estão lá para isso mesmo. O conjunto oferece um comportamento agradável e ganhou o recurso do TC+, que efetivamente ajuda em situações de perda de tração em trechos de baixa aderência. Além disso, conta com o conforto adicional do câmbio automático. Ficou ainda mais adequado para a proposta de lazer. Nota 8.
Estabilidade –A suspensão é um pouco mais rígida que nos carros de passeio, até pela maior variação de peso a que tem de se adaptar. Não chega a roubar o conforto dos passageiros e mantém um bom controle da carroceria, mesmo com carga. A direção é bem direta e nas retas, mesmo em velocidades mais elevadas, não exige correções de trajetória. Nas curvas, há pouca rolagem de carroceria. Nota 8.
Interatividade – O sistema multimídia Uconnect tem interface fácil de trabalhar e o espelhamento sem fio é bem prático. na unidade testada, a comunicação falhou com alguma frequência, mas voltava ao normal depois de reinicializado. No mais, as informações do computador de bordo são abundantes e claras e os comandos em geral são funcionais e intuitivos. Nota 7.
Consumo – O objetivo de limitar a potência e incluir o câmbio CVT era mesmo reduzir o consumo. Pela tabela do InMetro, as versões da Strada 1.3 com a transmissão continuamente variável são as mais econômicas da gama, com um consumo 3% menor em média. O modelo registrou médias de 8,8/12,4 km/l com etanol no tanque na cidade/estrada e 9,9/13,9 km/l com gasolina, nas mesmas condições. Este consumo rende à Strada o índice A na categoria e B no geral. Nota 9.
Conforto – A suspensão é ligeiramente rígida, mas não compromete o conforto dos passageiros, mesmo diante das ruas mal cuidadas. Os bancos acomodam bem o corpo. O isolamento acústico é suficiente para abafar os ruídos aerodinâmicos e de rodagem. Em velocidade de estrada, é preciso aumentar o som. O CVT é um adicional de conforto importante. Nota 8.
Tecnologia – A Strada usa a plataforma modular MC-P, oriunda do Argo, combinada com partes da cabine do Mobi e suspensão traseira da robusta Fiorino nova. Além do CVT com sete marchas, o modelo conta com o sistema TC+, sistema multimídia Uconnect e traz os sistemas eletrônicos de auxílio dinâmico obrigatórios, como controle de tração e estabilidade, airbags frontais e laterais, sensor traseiro e câmera de ré. O motor Firefly é moderno, com boa potência e grande eficiência. Nota 8.
Habitabilidade – Um dos fatores de sucesso da Strada é exatamente ter um habitáculo compatível com o de um carro de passeio subcompacto, como o Mobi, com quatro portas e cinco lugares realmente utilizáveis. Na frente, a área dedicada aos ocupantes é muito boa, já atrás sofre as limitações de um subcompacto. A caçamba tem trava, o que a torna mais prática para uso como porta-malas, ainda mais pelo sistema de alívio de peso na tampa. Por dentro, há porta-copos no console central e porta-objetos nas portas, mas todos com dimensões bem reduzidas. A abertura em 80º das portas traseiras facilitam bem o acesso. Nota 9.
Acabamento – A Fiat não usa materiais caros, mas dá um tratamento mais refinado às peças de acabamento. Mesmo os plásticos rígidos ganham texturas agradáveis. No caso da versão Volcano, o revestimento do banco tem partes em couro sintético e o volante é forrado em couro. Nota 7.
Design – A Strada respeita o family face da marca e traz elementos semelhantes aos que aparecem na Toro – e parecer com um modelo maior valoriza a picape. O desenho tem traços limpos e elegantes e as linhas imprimem um aspecto robusto. O conceito mistura de linhas orgânicas e geométricas de forma harmônica e tem um resultado agradável. Nota 8.
Custo/benefício – A Fiat Strada tem conseguido um sucesso incontestável no mercado por unir as qualidades às de um SUV compacto do segmento B às de uma picape, a um preço razoável (dentro da realidade do mercado). O modelo não tem um rival direto – a Volkswagen Saveiro não oferece quatro portas, os lugares traseiros não inviáveis para adultos e ainda é menos equipada e mais cara. O recurso do câmbio CVT acrescenta pouco menos de R$ 6 mil ao preço do modelo, que começa em R$ 109.501. Não por acaso, a espera pelas versões superiores, Volcano e Ranch, é de 180 dias. Nota 8.
Total – A Fiat Strada CD Vulcano 1.3 CVT somou 80 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Tratamento preferencial - A Fiat apostou no uso pessoal e familiar da Strada quando inventou a versão com cabine dupla e quatro portas. E aumentou o cacife ao adotar o câmbio CVT na picape, logo depois do lançamento do SUV Pulse, o primeiro modelo da marca com este tipo de transmissão. E faz todo o sentido ter agido assim. Os segmentos de picape e de SUVs são os que estão na ordem do dia no mercado brasileiro. Obviamente, o equipamento só é oferecido nas versões mais completas (e caras) da Strada, como é o caso da Volcano. É uma versão que tem um nível de conteúdo que supre a demanda de quem busca um compacto mais completo. Não chega a ser luxuoso, mas não falta nada relevante.
A parte dinâmica é onde o carro sofreu maior alteração. Perdeu um pouco de desempenho, não só pela anestesia que este tipo de câmbio provoca, mas também por conta da adequação ao Proconve L7. Mas como a eletrônica comando os trabalhos, a Fiat adotou três modos de condução para o câmbio, que tem sete marchas pré-programadas. Cada modo oferece uma personalidade diferente: o Automático é para quem não quer pensar no assunto, o Manual é indicado para quem quer controlar o ritmo em alguma situação específica e o Sport permite explorar um pouco mais os limites do modelo. Este último é o que mais modifica o comportamento: o acelerador fica mais sensível, a direção elétrica é enrijecida e o câmbio adota relações de marcha mais curtas.
O desempenho do motor Firefly 1.3 consegue dar conta das necessidades do modelo. A Strada mostra um comportamento equilibrado. Tem potência suficiente para manter um bom ritmo e agora conta como o conforto de um câmbio automático – o que melhora muito a vida em ambiente urbano. Arrancadas, retomadas e ultrapassagens podem ser feitas com alguma confiança e o CVT não demora a entender e atender as demandas do condutor.
A suspensão é um exemplo do equilíbrio que a Fiat conseguiu ao combinar conforto com neutralidade dinâmica. Ela filtra bem as irregularidades e o isolamento acústico consegue isolar razoavelmente a cabine. As curvas são contornadas com precisão e sem grandes torções de carroceria, sempre com boa comunicação entre rodas e direção. O volante com base reta tem tamanho adequado e seus diversos comandos interagem com o computador de bordo, com o sistema de telefonia e com o som. O sistema Uconnect consegue conectar o celular pelos aplicativos Apple CarPlay ou Android Auto sem cabo, mas volta e meia perde a conexão. É uma tecnologia novo e os primeiros a usarem vão mesmo pagar um preço.
Ficha técnica
Fiat Strada CD Volcano 1.3 CVT
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.332 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro. Injeção eletrônica. Sistema start/stop opcional.
Transmissão: Automático continuamente variável com de sete marchas pré-programadas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração e sistema TC+, que desabilita o controle de tração e usa o ABS para imobilizar a roda sem aderência.
Potência: 98 cv a 6 mil rpm (gasolina)/ 107 cv a 6.250 rpm (etanol).
Torque: 13,2 kgfm (gasolina)/ 13,7 kgfm (etanol) a 3.500 rpm.
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 13,2:1.
Aceleração 0-100 km/h: 12 segundos.
Velocidade máxima: 165 km/h.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores transversais com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos, telescópicos de duplo efeito e molas helicoidais. Traseira por eixo de torção com mola parabólica de lâmina única com amortecedores hidráulicos. Controle eletrônico de tração e estabilidade.
Pneus: 205/60 R15.
Freios: Discos sólidos na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com EBD. Assistente de partida em rampa opcional
Carroceria: Picape cabine dupla em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,47 metros com 1,73 m de largura, 1,60 m de altura e 2,74 m de entre-eixos. Possui airbags frontais e laterais de série na versão.
Peso: 1.215 kg em ordem de marcha com 600 kg de capacidade de carga.
Capacidade da caçamba: 844 litros com 1,32 m² de área.
Tanque de combustível: 55 litros.
Lançamento da versão CVT: dezembro de 2021.
Produção: Betim, Minas Gerais.
Preço: R$ 109.501.